Reforçar os laços de amizade e cooperação
Está em Portugal, a convite do PCP, uma delegação do Partido Comunista do Brasil. Trocar experiências e aprofundar os laços de cooperação são os principais objectivos deste encontro.
O PC do B retribuiu a visita de Jerónimo de Sousa ao Brasil em Junho
A representar o Partido Comunista do Brasil (PC do B) vieram Renato Rabelo, presidente nacional, e José Reinaldo Carvalho, vice-presidente e secretário das relações internacionais. Do programa da visita constava um encontro com a direcção do PCP, na segunda-feira, contactos com direcções de organizações regionais e encontros temáticos sobre a organização e iniciativa partidárias.
Na terça-feira, Renato Rabelo e Jerónimo de Sousa participaram numa conferência sobre «Brasil e América Latina – os desafios da luta pelo socialismo no século XXI» (ver caixa). Hoje, o presidente nacional do PC do B estará no Porto, numa sessão sobre o mesmo tema.
A agenda da delegação do PC do B incluía ainda um encontro com o Presidente da Assembleia da República, os contactos institucionais com outros partidos portugueses e uma visita ao concelho de Alcochete.
À saída da reunião com uma delegação do PCP, na segunda-feira, Renato Rabelo afirmou à imprensa que a visita se integra na «intensificação das relações de amizade e cooperação» entre os dois partidos. Estas, prosseguiu, são «importantes para o PCP e o PC do B, partidos que têm os mesmos ideais e os mesmos princípios».
Mas tal comunhão, realçou, não invalida que cada partido tenha a sua «política própria em função da realidade de cada país». Além disso, acrescentou o dirigente do PC do B, «nós podemos aprender com as experiências comuns dos dois partidos», ao nível da organização partidária, da intervenção sindical ou do trabalho popular. Para Renato Rabelo, é necessário estreitar ainda mais a cooperação com o PCP.
Trocar experiências
Jerónimo de Sousa também sublinhou a importância das relações entre os dois partidos, lembrando a visita que ele próprio fez ao Brasil no passado mês de Junho. O secretário-geral do PCP realçou a convergências de pontos de vista de ambos os partidos relativamente a diversas questões da situação internacional, particularmente na América Latina. Região que considerou ser um «grande laboratório, com diversas experiências em desenvolvimento».
Em seguida, Jerónimo de Sousa abordou alguns dos assuntos que foram debatidos com a delegação do PC do B: as questões da alternativa, da luta de massas e da organização partidária foram algumas delas. Segundo o secretário-geral do PCP, foi explicado «como é que num quadro muito difícil, de grande complexidade para os partidos comunistas, que este Partido Comunista se afirma na sociedade portuguesa, reforça a sua organização, aumenta o recrutamento, age e trabalha junto dos trabalhadores e das populações».
PC do B
Um partido que se afirma
O Partido Comunista do Brasil foi criado em 1922 e passou quase seis décadas na clandestinidade. Apesar de a sua criação aproveitar um momento de legalidade, seria ilegalizado poucos meses depois. Em 1927, experimentou uma curta existência legal, de apenas alguns meses.
Nos anos 30, o Partido Comunista do Brasil (então utilizando a sigla PCB), participa na Aliança Nacional Libertadora (ANL).
Após a ilegalização da ANL, é esboçado um levantamento militar armado, também derrotado. A repressão abate-se forte sobre os apoiantes da aliança e os militantes e dirigentes do Partido. Em 1941, inicia-se a reorganização do partido, que dará combate ao governo do Estado Novo, chefiado pelo ditador Getúlio Vargas.
Com o final da II Guerra (na qual o Brasil, após muitas hesitações, acaba por entrar ao lado dos EUA), os comunistas regressam à legalidade. O candidato presidencial do PCB obtém 10 por cento dos votos e o partido elege 14 deputados e um senador. Em 1947, porém, o PCB volta a ser ilegalizado e os seus militantes e dirigentes regressam à clandestinidade.
Em 1962, uma cisão dividiu o então Partido Comunista Brasileiro em dois – o PCB e o PC do B – ambos reivindicando a continuidade do partido criado em 1922. Nos anos 70, o PC do B dirige a guerrilha do Araguaia contra a ditadura militar.
Em meados dos anos 80, o Partido Comunista do Brasil reconquista a legalidade. Para trás ficavam centenas, ou mesmo milhares de presos, torturados e assassinados pelas sucessivas ditaduras. Actualmente, participa no governo brasileiro, liderado pelo presidente Lula da Silva. Encontra-se neste momento numa fase de grande afirmação e crescimento.
Edita A Classe Operária e a revista Princípios. Na Internet, tem o seu sítio em www.vermelho.org.br
Sessão em Lisboa
Lutar pelo socialismo
Duas centenas de militantes do PCP encheram por completo, anteontem, o salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, para debater com o presidente nacional do PC do Brasil a luta pelo socialismo no Brasil e na América Latina. E Renato Rabelo não se furtou às interrogações dos presentes, esclarecendo as posições dos comunistas brasileiros sobre determinados assuntos.
No que respeita à participação do PC do B no governo liderado por Lula, Rabelo destacou o papel «muito positivo» do Brasil no rumo anti-imperialista que aquele subcontinente hoje segue. O governo brasileiro, esclareceu, têm tido um «protagonismo decisivo» em questões estratégicas como a derrota da ALCA, a ampliação e fortalecimento do Mercosul, as relações de solidariedade e cooperação com a Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e demais governos progressistas da região. O Brasil é, hoje, o o primeiro parceiro comercial de Cuba.
A recriação da IV Frota Naval dos Estados Unidos da América, mereceu do governo do Brasil e do próprio presidente Lula a mais severa crítica. O próprio ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, «já afirmou que a Quarta Frota «não poderá ultrapassar nem operar na faixa de mar territorial brasileiro», revelou o dirigente comunista. A criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, proposta pelo executivo brasileiro, representa o «rompimento» brasileiro com o alinhamento automático com os EUA, que predominou em todo o século XX.
Ao nível interno, a actual direcção brasileira tem «alcançado vitórias no processo de democratização do país e avanços sociais positivos», valorizou Renato Rabelo. Em seis anos e meio, foram criados mais de sete milhões de empregos estáveis; o salário mínimo valorizou, em termos reais, 28 por cento; 11 milhões de famílias passaram a receber um subsídio de emergência para atender à sua situação dramática.
As divergências entre o PC do Brasil e o governo situam-se, fundamentalmente, ao nível da política macro-económica, esclareceu. Política que caracteriza de «híbrida», considerando que se tem ampliado o «número de aliados no âmbito do próprio governo para a mudança dessa orientação».
Renato Rabelo teve ainda oportunidade de garantir que a continuidade do apoio e participação do PC do B no governo «não é uma permissa imutável», estando sujeita ao rumo que assuma esse governo. Esta foi, aliás, a decisão do último congresso do Partido. A unidade prevaleceu, realçou, não impedindo porém a crítica dos comunistas à política macro-económica, manifestadas na imprensa do Partido e mesmo na televisão e na rádio.
A orientação para o socialismo continua a ser a principal prioridade, sendo para isso essencial um partido mais forte, destacou o presidente do PC do Brasil.
Na terça-feira, Renato Rabelo e Jerónimo de Sousa participaram numa conferência sobre «Brasil e América Latina – os desafios da luta pelo socialismo no século XXI» (ver caixa). Hoje, o presidente nacional do PC do B estará no Porto, numa sessão sobre o mesmo tema.
A agenda da delegação do PC do B incluía ainda um encontro com o Presidente da Assembleia da República, os contactos institucionais com outros partidos portugueses e uma visita ao concelho de Alcochete.
À saída da reunião com uma delegação do PCP, na segunda-feira, Renato Rabelo afirmou à imprensa que a visita se integra na «intensificação das relações de amizade e cooperação» entre os dois partidos. Estas, prosseguiu, são «importantes para o PCP e o PC do B, partidos que têm os mesmos ideais e os mesmos princípios».
Mas tal comunhão, realçou, não invalida que cada partido tenha a sua «política própria em função da realidade de cada país». Além disso, acrescentou o dirigente do PC do B, «nós podemos aprender com as experiências comuns dos dois partidos», ao nível da organização partidária, da intervenção sindical ou do trabalho popular. Para Renato Rabelo, é necessário estreitar ainda mais a cooperação com o PCP.
Trocar experiências
Jerónimo de Sousa também sublinhou a importância das relações entre os dois partidos, lembrando a visita que ele próprio fez ao Brasil no passado mês de Junho. O secretário-geral do PCP realçou a convergências de pontos de vista de ambos os partidos relativamente a diversas questões da situação internacional, particularmente na América Latina. Região que considerou ser um «grande laboratório, com diversas experiências em desenvolvimento».
Em seguida, Jerónimo de Sousa abordou alguns dos assuntos que foram debatidos com a delegação do PC do B: as questões da alternativa, da luta de massas e da organização partidária foram algumas delas. Segundo o secretário-geral do PCP, foi explicado «como é que num quadro muito difícil, de grande complexidade para os partidos comunistas, que este Partido Comunista se afirma na sociedade portuguesa, reforça a sua organização, aumenta o recrutamento, age e trabalha junto dos trabalhadores e das populações».
PC do B
Um partido que se afirma
O Partido Comunista do Brasil foi criado em 1922 e passou quase seis décadas na clandestinidade. Apesar de a sua criação aproveitar um momento de legalidade, seria ilegalizado poucos meses depois. Em 1927, experimentou uma curta existência legal, de apenas alguns meses.
Nos anos 30, o Partido Comunista do Brasil (então utilizando a sigla PCB), participa na Aliança Nacional Libertadora (ANL).
Após a ilegalização da ANL, é esboçado um levantamento militar armado, também derrotado. A repressão abate-se forte sobre os apoiantes da aliança e os militantes e dirigentes do Partido. Em 1941, inicia-se a reorganização do partido, que dará combate ao governo do Estado Novo, chefiado pelo ditador Getúlio Vargas.
Com o final da II Guerra (na qual o Brasil, após muitas hesitações, acaba por entrar ao lado dos EUA), os comunistas regressam à legalidade. O candidato presidencial do PCB obtém 10 por cento dos votos e o partido elege 14 deputados e um senador. Em 1947, porém, o PCB volta a ser ilegalizado e os seus militantes e dirigentes regressam à clandestinidade.
Em 1962, uma cisão dividiu o então Partido Comunista Brasileiro em dois – o PCB e o PC do B – ambos reivindicando a continuidade do partido criado em 1922. Nos anos 70, o PC do B dirige a guerrilha do Araguaia contra a ditadura militar.
Em meados dos anos 80, o Partido Comunista do Brasil reconquista a legalidade. Para trás ficavam centenas, ou mesmo milhares de presos, torturados e assassinados pelas sucessivas ditaduras. Actualmente, participa no governo brasileiro, liderado pelo presidente Lula da Silva. Encontra-se neste momento numa fase de grande afirmação e crescimento.
Edita A Classe Operária e a revista Princípios. Na Internet, tem o seu sítio em www.vermelho.org.br
Sessão em Lisboa
Lutar pelo socialismo
Duas centenas de militantes do PCP encheram por completo, anteontem, o salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, para debater com o presidente nacional do PC do Brasil a luta pelo socialismo no Brasil e na América Latina. E Renato Rabelo não se furtou às interrogações dos presentes, esclarecendo as posições dos comunistas brasileiros sobre determinados assuntos.
No que respeita à participação do PC do B no governo liderado por Lula, Rabelo destacou o papel «muito positivo» do Brasil no rumo anti-imperialista que aquele subcontinente hoje segue. O governo brasileiro, esclareceu, têm tido um «protagonismo decisivo» em questões estratégicas como a derrota da ALCA, a ampliação e fortalecimento do Mercosul, as relações de solidariedade e cooperação com a Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e demais governos progressistas da região. O Brasil é, hoje, o o primeiro parceiro comercial de Cuba.
A recriação da IV Frota Naval dos Estados Unidos da América, mereceu do governo do Brasil e do próprio presidente Lula a mais severa crítica. O próprio ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, «já afirmou que a Quarta Frota «não poderá ultrapassar nem operar na faixa de mar territorial brasileiro», revelou o dirigente comunista. A criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, proposta pelo executivo brasileiro, representa o «rompimento» brasileiro com o alinhamento automático com os EUA, que predominou em todo o século XX.
Ao nível interno, a actual direcção brasileira tem «alcançado vitórias no processo de democratização do país e avanços sociais positivos», valorizou Renato Rabelo. Em seis anos e meio, foram criados mais de sete milhões de empregos estáveis; o salário mínimo valorizou, em termos reais, 28 por cento; 11 milhões de famílias passaram a receber um subsídio de emergência para atender à sua situação dramática.
As divergências entre o PC do Brasil e o governo situam-se, fundamentalmente, ao nível da política macro-económica, esclareceu. Política que caracteriza de «híbrida», considerando que se tem ampliado o «número de aliados no âmbito do próprio governo para a mudança dessa orientação».
Renato Rabelo teve ainda oportunidade de garantir que a continuidade do apoio e participação do PC do B no governo «não é uma permissa imutável», estando sujeita ao rumo que assuma esse governo. Esta foi, aliás, a decisão do último congresso do Partido. A unidade prevaleceu, realçou, não impedindo porém a crítica dos comunistas à política macro-económica, manifestadas na imprensa do Partido e mesmo na televisão e na rádio.
A orientação para o socialismo continua a ser a principal prioridade, sendo para isso essencial um partido mais forte, destacou o presidente do PC do Brasil.