A carta da Índia
A claudicação do governo do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, revela uma opção de classe
O encontro do G8 realizado no Japão na última semana terminou, como esperado, sem resultados palpáveis. Mas a realização da cimeira foi a ocasião escolhida pelos EUA para, em paralelo, assestar dois golpes na «frente nuclear»: referimo-nos à assinatura, em Praga, do acordo com a República Checa para a instalação de uma estação de radar integrada no projecto do escudo antimíssil e a decisão do Governo da Índia de avançar para a concretização do acordo de cooperação nuclear concluído em 2007 com os Estados Unidos, que Bush quer ver ratificado antes do final do seu mandato.
O pacto nuclear com os EUA prevê, pela primeira vez em 30 anos, o fornecimento a Nova Deli de combustível e tecnologia nuclear civil. Não é coisa ligeira. O acordo 123, como é conhecido, constitui a peça central de um ambicioso plano dito de parceria estratégica entre os dois países, que envolve também a cooperação militar e o favorecimento do capital norte-americano em diversos sectores. Na sua essência, visa atrelar a política externa e de defesa indiana à órbita dos interesses geoestratégicos do imperialismo norte-americano.
A chave para a compreensão da inflexão dos EUA em relação à antiga «jóia da coroa» inglesa reside, antes de mais, numa palavra mágica: China. Washington não olhará a meios para afivelar os interesses da grande burguesia emergente indiana à estratégia de contenção da China e apagar a antiga tradição de não-alinhamento da Índia. Atiçar velhos (e novos) conflitos e rivalidades afigura-se vital, tal como obstar e anular o desenvolvimento das dinâmicas de rearrumação de forças que escapam ao controlo dos EUA, e em que a Índia se insere a diferentes níveis (Organização de Cooperação de Xangai; BRIC; «triângulo estratégico» Rússia-China-Índia; quadro bilateral sino-indiano, etc.).
A claudicação do governo do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, revela com clareza uma opção de classe.
Para os comunistas indianos e restantes forças que integram a Frente de Esquerda – que dia 9 retirou o apoio parlamentar à coligação do poder – a implementação do pacto nuclear com os EUA viola o compromisso de uma política externa independente que serviu de base ao acordo mínimo de governação estabelecido com a Aliança Unida para o Progresso liderada pelo Partido do Congresso. Isto quando milhões e milhões de indianos se vêem penalizados pelos efeitos da inflação galopante e a degradação das condições de vida. A viragem à direita do desacreditado governo de Singh não deixará de propiciar terreno fértil à recuperação das forças mais retrógradas da política indiana.
Contrastando com a escalada de ameaças e o frenesim em torno do programa atómico do Irão, apesar deste país integrar o Tratado de Não Proliferação (TNP) e não possuir armas nucleares, o facto de a Índia ser uma potência nuclear e não signatária do TNP não constituiu um obstáculo à tortuosa «lógica anti-proliferação» dos EUA, que em 2006 aprovaram a lei Hyde para abrir a Deli uma excepção. Por sinal, uma das suas cláusulas permite escrutinar o grau de colaboração da Índia com os esforços dos EUA contra o programa nuclear iraniano!
E o próprio director da AIEA (sempre lesta em fazer vista grossa a Israel) já saudou o acordo nuclear...
Se a imoralidade e hipocrisia imperialistas não têm limites, não é menos verdade – como afirmou um alto responsável para o desarmamento da ONU – que o pacto «tem o perigoso potencial de iniciar uma corrida nuclear entre China, Índia e Paquistão de desastrosas consequências para a paz e o desenvolvimento económico da Ásia» (IPS 02.08.07).
Desmontar a perigosa engrenagem de guerra do grande capital é de facto uma exigência reforçada dos tempos.
O pacto nuclear com os EUA prevê, pela primeira vez em 30 anos, o fornecimento a Nova Deli de combustível e tecnologia nuclear civil. Não é coisa ligeira. O acordo 123, como é conhecido, constitui a peça central de um ambicioso plano dito de parceria estratégica entre os dois países, que envolve também a cooperação militar e o favorecimento do capital norte-americano em diversos sectores. Na sua essência, visa atrelar a política externa e de defesa indiana à órbita dos interesses geoestratégicos do imperialismo norte-americano.
A chave para a compreensão da inflexão dos EUA em relação à antiga «jóia da coroa» inglesa reside, antes de mais, numa palavra mágica: China. Washington não olhará a meios para afivelar os interesses da grande burguesia emergente indiana à estratégia de contenção da China e apagar a antiga tradição de não-alinhamento da Índia. Atiçar velhos (e novos) conflitos e rivalidades afigura-se vital, tal como obstar e anular o desenvolvimento das dinâmicas de rearrumação de forças que escapam ao controlo dos EUA, e em que a Índia se insere a diferentes níveis (Organização de Cooperação de Xangai; BRIC; «triângulo estratégico» Rússia-China-Índia; quadro bilateral sino-indiano, etc.).
A claudicação do governo do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, revela com clareza uma opção de classe.
Para os comunistas indianos e restantes forças que integram a Frente de Esquerda – que dia 9 retirou o apoio parlamentar à coligação do poder – a implementação do pacto nuclear com os EUA viola o compromisso de uma política externa independente que serviu de base ao acordo mínimo de governação estabelecido com a Aliança Unida para o Progresso liderada pelo Partido do Congresso. Isto quando milhões e milhões de indianos se vêem penalizados pelos efeitos da inflação galopante e a degradação das condições de vida. A viragem à direita do desacreditado governo de Singh não deixará de propiciar terreno fértil à recuperação das forças mais retrógradas da política indiana.
Contrastando com a escalada de ameaças e o frenesim em torno do programa atómico do Irão, apesar deste país integrar o Tratado de Não Proliferação (TNP) e não possuir armas nucleares, o facto de a Índia ser uma potência nuclear e não signatária do TNP não constituiu um obstáculo à tortuosa «lógica anti-proliferação» dos EUA, que em 2006 aprovaram a lei Hyde para abrir a Deli uma excepção. Por sinal, uma das suas cláusulas permite escrutinar o grau de colaboração da Índia com os esforços dos EUA contra o programa nuclear iraniano!
E o próprio director da AIEA (sempre lesta em fazer vista grossa a Israel) já saudou o acordo nuclear...
Se a imoralidade e hipocrisia imperialistas não têm limites, não é menos verdade – como afirmou um alto responsável para o desarmamento da ONU – que o pacto «tem o perigoso potencial de iniciar uma corrida nuclear entre China, Índia e Paquistão de desastrosas consequências para a paz e o desenvolvimento económico da Ásia» (IPS 02.08.07).
Desmontar a perigosa engrenagem de guerra do grande capital é de facto uma exigência reforçada dos tempos.