É de pé que os vencemos!

Manuel Gouveia
A Cerâmica Torreense concluiu o processo disciplinar contra Pedro Jorge condenando-o pela sua intervenção no programa «Prós e Contras». Se a decisão é grave, as 16 páginas do relatório disciplinar final fedem a ranço, são a ilustração do neofascismo que o patronato quer impor para conter a inevitável resistência dos trabalhadores à intensificação da exploração. Trata-se de um texto de leitura obrigatória, e que deve ser cruzado com as propostas que Sócrates, o Patronato e a UGT querem impor de facilitação dos despedimentos.
O «trabalhador arguido» é condenado porque: diz aos outros trabalhadores «que as condições [de trabalho] existentes não resultam da situação económica e de mercado que atinge também a empresa, mas antes de uma opção consciente» do patronato; porque «se os salários não são anualmente aumentados, certamente não é por vontade da entidade empregadora»; «pois é óbvio, para qualquer um, que o sucesso da empresa é o sucesso dos seus trabalhadores, quanto maior for o lucro da empresa, melhores condições pode oferecer aos seus trabalhadores (...) consequentemente, a conduta diversa, ou seja, a conduta que degrada, põe em causa, coloca em risco e prejudica uma empresa, não poderá nunca advir de uma pessoa que pretenda o sucesso e produtividade desta. (...) está posto em causa o elemento basilar das relações de trabalho – a confiança!»
Como «agravante», o «trabalhador arguido nunca demonstrou qualquer arrependimento, ou pedido de desculpa» e criou «a imagem de uma empresa que explora os seus trabalhadores».
Mas «as constantes notícias de jornais, a chuva de comunicados, os plenários realizados na empresa e a manifestação à porta da empresa», sem esquecer «as pressões exercidas» «mesmo através do PCP» obrigaram a Cerâmica Torreense a ter medo de despedir Pedro Jorge aplicando-lhe «apenas» 12 dias de suspensão. É uma saída de sendeiro, mas é principalmente uma decisão inaceitável e que não será aceite!
Força Pedro! É mesmo assim! É de pé que os enfrentamos! É de pé que os vencemos! De pé e ombro com ombro com os nossos camaradas!
(As citações são da «decisão final» do processo disciplinar, excepto as dos últimos dois parágrafos que são do relatório anexo.)


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