É na política de direita que está a raíz da instabilidade

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política)
É generalizada a consciência de que a situação económica e social se agrava e que as políticas que têm vindo a ser seguidas são parte, e grande, do problema. Alargam-se as desigualdades e as assimetrias, os indicadores de pobreza alargam-se e crescem.

«É o PCP o portador de reais propostas alternativas para um novo rumo para país»

Todas as semanas encerram empresas, lançando mais trabalhadores no desemprego e fazendo definhar o tecido produtivo nacional, ao mesmo tempo que aumenta a dependência externa. O governo PS e a sua política de direita, procura iludir os trabalhadores e povo sobre as suas reais responsabilidades na situação existente. Mas as operações de ilusionismo e mistificação, por força da luta de massas e da sua decisiva contribuição para o esclarecimento e a transformação da consciência social em consciência política, vão sendo condenadas ao fracasso, e o que cada vez se torna mais claro é a existência de uma deliberada política de favorecimento do grande capital, das grandes oligarquias que têm na mão os sectores económicos estratégicos nacionais. Foram as sucessivas políticas de direita de privatizações e liberalizações, de apoio submisso às políticas comunitárias, de ausência de uma política assente nos reais interesses nacionais e apostando prioritariamente nos meios nacionais para a desenvolver, que conduziram ao aumento das fragilidades estruturais nacionais, bem evidentes hoje, entre outros, na elevada dependência energética da factura petrolífera e do significativo défice agro-alimentar.
O recente acordo estabelecido entre o Governo, associações patronais e a prestimosa UGT, relativamente ao Código do Trabalho, é uma peça importante dessa política de favorecimento do poder do patronato, de intensificação da exploração. Um Código que vai promover a desregulação dos horários de trabalho, o ataque à contratação colectiva e ao movimento sindical de classe. Trata-se de um caminho que só agravará a situação social existente, de um caminho que, em articulação com a alteração da legislação laboral para a administração pública, impõe a intensificação do esclarecimento e da luta, agora que o processo passará para a Assembleia da República e que o Governo e o PS invocam uma urgência para reduzir o tempo de discussão pública, encurtando-o de 30 para 20 dias. Tanta pressa para golpear direitos sociais e nenhuma para retirar, um pouco que seja, aos milhões de lucros do capital financeiro.
A situação nacional mostra hoje com mais clareza, que é na política de direita que reside o principal foco de instabilidade, de desestabilização e acentuação das injustiças sociais e mostra também, e de forma crescente, que é no PCP que os trabalhadores encontram o seu mais firme, persistente e coerente defensor, que é o PCP o portador de reais propostas alternativas para um novo rumo para país.
Começa a ser hoje comum assistir, por exemplo, no Algarve, a tomadas de posição de estruturas ligadas ao pequeno comércio, manifestando as suas enormes preocupações pela situação existente e o efeito que terá sobre o comércio tradicional, as preocupações pela continuada abertura de novas grandes superfícies e o efeito eucalipto que provocam ou sobre a liberalização dos horários e as suas graves consequências para os trabalhadores, ou as preocupações com o impacto da situação económica e social existente sobre o turismo, numa região composta em média por empresas até seis trabalhadores. Algarve que é a região que possui o mais elevado índice de pobreza permanente e onde os 5% mais ricos possuem uma riqueza equivalente aos 60% mais pobres. Torna-se cada vez mais evidente que não existem resortes, golfes e actividades correlacionadas, que possam substituir as pescas, a agricultura e uma política que promova a instalação de empresas industriais que se traduzam em alto valor acrescentado para a região e o País.
A crescente consciência de que Basta! de mais do mesmo e o crescente apoio ao PCP e à sua luta por uma alternativa de esquerda, o que implica a necessária ruptura com as políticas e orientações fundamentais do bloco central de interesses, requer da parte das organizações do Partido um ainda maior estreitamento da sua ligação aos problemas dos trabalhadores e do povo, a projecção e ampliação do nosso projecto, valores e propostas, a persistência na acção geral de reforço da organização do Partido. Neste quadro, assume especial relevância, a par da dinamização da luta de massas, as medidas com vista à divulgação, construção e mobilização para a Festa do Avante!, bem como todo o processo colectivo já iniciado de construção do XVIII Congresso do Partido.
Com a consciência que advém do projecto de que somos portadores, sabemos que são grandes as exigências que se nos colocam e sabemos também que é assente na nossa força organizada e determinada que o sonho se transforma em vida.


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