O felino era um cão

Leandro Martins
Os tempos mudam. Isto para dizer que há sempre «novidades», mesmo que, vistas mais de perto, elas nos aparecerem apenas embrulhadas em papel mais vistoso. Se há muitos anos, por exemplo, a política se compadecia com as férias de Verão, hoje, a luta contra esta política de direita entra de rompante pelo Verão dentro, seja lá qual for a temperatura que castigue os lutadores. É que estes sabem bem que as piores novidades são preparadas para serem desembrulhadas quando os trabalhadores estão de costas voltadas para a terra, olhando o mar infindo...
Mas há outras coisas que mudam. Nos últimos anos, no afã de construir um cenário de catástrofe, propício ao arrancar de sacrifícios ao cidadão comum, afirma-se que os preços sobem por causa da escassez do petróleo. Faz-me lembrar os idos de 70, quando o primeiro choque petrolífero serviu de pretexto ao chamado «crescimento zero», para explicar a recessão na Europa. Já aí o petróleo «escasseava» tanto que a Europa passou a andar de bicicleta e, em Bruxelas, os ricos, para dar «o exemplo», puseram as velhas caleches nas avenidas. E que dizer daquele buraco do ozono inventado pela Thatcher, que fez vender milhões de frigoríficos novos e de que já ninguém fala? Hoje é de novo o petróleo. E o chamado «aquecimento global», desmentido por mais de um reputado cientista, mas que faz encher os bolsos de Al Gore e põe toda a gente em estado de angústia.
Também antes a gente se habituara aos bastonários como primeiras figuras de ordens profissionais que velavam pelos interesses profissionais. Hoje já não é assim. O recém-bastonário da ordem dos advogados que o diga. O homem desunha-se em declarações políticas que não têm nada a ver com o serviço que os advogados prestam aos seus clientes, criminosos ou inocentes que sejam. A última deste indivíduo, defensor de nazis, é que o aumento da criminalidade é resultado do «sindicalismo» na polícia! Quanto a esta afirmação, já nem é preciso dizer nada, posto que um dirigente sindical da PSP lhe deu cabal resposta, lembrando que já não estamos em tempos de fascismo. Precavendo a retaguarda, porém, o ilustre bastonário não se esquecera, pelo 25 de Abril, de orar numa iniciativa ajantarada da «esquerda» fracccionista, cujo inimigo principal é, como sempre sucede nestas misturas, o PCP.
Para catástrofes, prefiro aquelas mais caseiras, tipo Cor­reio da Manhã, que inventou recentemente um felino a passear na Maia. Afinal, o felino era um cão...


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