Não repitam o peditório

Aurélio Santos
Recordando-se que o PSD tem a «social-democracia» na lapela, a sua nova presidente quis, nos últimos dias da campanha, dar um pouco de brilho aos galões do partido, usando como solarine as suas «preocupações sociais», segundo ela abandonadas pelo PS (o que é verdade), e acusando-o (o que também é verdade!) de agora até «ter metido a social democracia na gaveta» (numa ultrapassagem ao PSD pela direita, em transgressão ao Código).
É curiosa esta exibição de preocupações sociais, numa altura em que as políticas do capitalismo neoliberal que o PSD tão empenhadamente aplicou (tal como o PS) estão dando os seus previsíveis frutos sociais.
Será necessário lembrar à Dra. Ferreira Leite que foi em grande parte por responsabilidade de economistas como ela, e com a cumplicidade da «social-democracia», que se registou o desenvolvimento galopante em escala mundial do fenómeno da chamada globalização neoliberal?
Estamos agora colhendo os frutos das premissas teóricas dessa globalização.
A «inevitável subordinação» à tirania dos mercados confirma-se como ficção dos ideólogos da nova economia capitalista, para encobrir e justificar as cruzadas contra os direitos dos trabalhadores e as conquistas sociais alcançadas com os avanços da democracia no século XX.
Marx e Engels já na segunda metade do século XIX encaravam a globalização do capital como um processo inelutável, embora não previssem as formas que assumiria. Nem isso era possível.
A globalização, como processo resultante do progresso civilizacional, não implica a vassalagem dos estados, o alastramento da pobreza e do desemprego, a destruição das conquistas sociais, a agressão à natureza. Mas o capitalismo é isso o que pode oferecer, comprovando a sua real e insanável contradição com as aspirações humanas.
Quanto à «social-democracia» e às «preocupações sociais» da Dr.a Manuela Ferreira Leite, é peditório para o qual o povo português já deu esmola.
E com isso só ficou mais pobre.


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