Terrorismo mediático

Pedro Campos
Recentemente, numa das principais zonas de Caracas, separados por dois ou três quarteirões, decorreram dois encontros internacionais completamente antagónicos. Num hotel conotado com os grupos golpistas de 2002 reuniu-se a Sociedade Inter-americana de Imprensa (SIP). Numa instituição cultural, o I Encontro Internacional contra o Terrorismo Mediático. A SIP – organização de donos de jornais e braço comunicacional da CIA – reuniu-se para repetir a mesma ladainha que vem dizendo há dez anos: que em Caracas não existe liberdade de expressão. O Encontro, onde participaram delegados de 14 países, para denunciar a campanha de Terrorismo Mediático contra o processo bolivariano, uma experiência inédita, que apesar de todas as dificuldades – onde nem sequer faltam, por vezes, tiques de um anticomunismo doentio – avança com um projecto de sociedade socialista, cujos contornos se vão definindo apesar de todos obstáculos postos por uma oligarquia que resiste, por todos os meios, a perder alguns privilégios absolutamente grosseiros.
Há ou não há liberdade de expressão na Venezuela?
Quem quer saber a verdade, tem muitas opções. Jornais, rádios e estações de televisão estão disponíveis na Internet e ali é possível ver a que excessos de liberdade é capaz de chegar a oposição venezuelana, financiada pela oligarquia local, lacaia do imperialismo. Alberto Ravel, um dos amos de Globovisión, canal que se pode ver em Portugal, é dos mais encarniçados opositores a Chávez. O seu canal é um esgoto onde se despejam diariamente carradas de ódio sobre os bolivarianos. Deste a mentira grosseira ao empolamento de qualquer incidente mínimo, tudo vale. Contudo, Ravel tem de admitir que «nós podemos dizer tudo o que queremos. Mas temos de assumir o custo de o Estado não nos dar nenhuma publicidade, nem podermos estender o nosso sinal aberto a outras cidades e de termos nos tribunais mais de 60 denúncias». Esta declaração está publicada no El País, um dos campeões mundiais do Terrorismo Mediático. Temos aqui uma confissão inequívoca de liberdade de expressão. Claro, o que é absurdo é pretender que se seja oficialmente subsidiado para atacar a revolução!
Apesar deste tipo de declaração, a SIP mantém-se firme na sua «denúncia», esquecendo que um indivíduo com o baixo estofo moral de Danilo Arbilla foi seu presidente. Uruguaio de nascimento, este sujeito foi «um dos agentes da sanguinária ditadura que perseguiu todos os média e jornalistas, (...) ordenando a prisão de todos os dirigentes sindicais da Associação da Imprensa do Uruguai, ditadura responsável por assassinatos, desaparecimentos forçados, torturas, detenções, perseguições políticas, laborais, de ideias». Do seu passado tenebroso consta o desaparecimento de Julio César Castro, director do semanário Marcha (actualmente Brecha), enquanto que Carlos Quijano, Eduardo Galeano e muitos outros foram obrigados a «escolher» o exílio. Mais: Arbilla foi director de imprensa do Bordaberry – actualmente preso – fascista que deu passo à ditadura (1973 a 1984), que o manteve no lugar onde cumpriu com o «lindo» trabalho de acumular um total de 600 crimes contra a liberdade de expressão. A sua acção foi muito além do seu país natal. Estendeu-se à Argentina e chegou até a sequestrar a revista Correio da Unesco. Danilo Arbilla retrata de corpo inteiro a SIP.

Desmascarando o Terrorismo Mediático

Na Declaração de Caracas, documento final do I Encontro, o conjunto de «jornalistas, comunicadores e estudiosos da comunicação social da América Latina, Caraíbas, e Canadá» define em que consiste o Terrorismo Mediático. Começa por denunciar «o uso da falsificação pelas multinacionais informativas como uma agressão maciça e permanente contra os povos e governo que lutam pela paz, a justiça e a inclusão». No seu ponto 2 faz uma definição lapidar do Terrorismo Mediático e alerta para o que ele significa como ameaça à causa do progresso dos povos: «o terrorismo mediático é a primeira expressão e condição necessária do terrorismo militar e económico que o Norte industrializado utiliza. Como tal é inimigo da liberdade, da democracia e da sociedade aberta e deve ser considerado como a peste da cultura contemporânea». Finalmente, exorta «os chefes de Estado da América Latina e Caraíbas a incluir o tema do Terrorismo Mediático em todas as reuniões e foros internacionais».
Dois ou três quarteirões de distância fazem uma diferença moral enorme!


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