Ainda sobre o telemóvel...
Muito já se disse e escreveu a propósito do telemóvel no Carolina Michaelis. Muitos foram os que contribuíram para as teses da «juventude rasca», do «no meu tempo é que era bom», do «a continuar assim não sei onde é que isto vai parar», com variações a culpar mais ou menos os pais («que não dão educação») ou os professores («que não se dão ao respeito»). Até o Procurador-geral da República contribuiu para o clima de criminalização e culpabilização dos estudantes, com as infelizes referências às crianças de seis anos armadas a conselho dos pais.
O que faltou em tanta repetição das mesmas imagens descontextualizadas foi uma ponderação, serena e séria, sobre as causas de tais incidentes. À excepção do PCP, ninguém pôs o dedo na ferida: o Estado tem vindo a desresponsabilizar-se da educação e não cria as condições de estudo e de trabalho necessárias. A escola reflecte o que a sociedade é cada fora. E «cá fora» há cada vez mais gritantes desigualdades sociais, com uma em cada cinco crianças a viver na pobreza, precariedade e horários flexíveis, que condicionam o acompanhamento que as famílias podem dar aos filhos, cultiva-se a violência e o individualismo. «Cá fora», o Governo alimentou uma campanha de descredibilização dos professores, que desmotiva e divide a comunidade educativa. «Lá dentro» da escola, faltam auxiliares de acção educativa e outros profissionais, degradam-se os espaços físicos, regressam as turmas de 30 alunos, admite-se o autoritarismo, insiste-se em programas e métodos desadequados.
Realidades que só não vê quem não quer. Há, de facto, quem não queira reflectir com profundidade nos problemas. È que por detrás de cada apelo à denúncia criminal e de cada pedido de mão pesada contra os estudantes, está a concepção, nem sempre disfarçada, de uma escola elitista, repressiva, autoritária, exclusiva, que empurra para fora do sistema educativo as crianças e os jovens «difíceis». E é nisto que não podemos admitir que a escola portuguesa se transforme, sob pena de compromoter o presente e o futuro do regime democrático e do país.
O que faltou em tanta repetição das mesmas imagens descontextualizadas foi uma ponderação, serena e séria, sobre as causas de tais incidentes. À excepção do PCP, ninguém pôs o dedo na ferida: o Estado tem vindo a desresponsabilizar-se da educação e não cria as condições de estudo e de trabalho necessárias. A escola reflecte o que a sociedade é cada fora. E «cá fora» há cada vez mais gritantes desigualdades sociais, com uma em cada cinco crianças a viver na pobreza, precariedade e horários flexíveis, que condicionam o acompanhamento que as famílias podem dar aos filhos, cultiva-se a violência e o individualismo. «Cá fora», o Governo alimentou uma campanha de descredibilização dos professores, que desmotiva e divide a comunidade educativa. «Lá dentro» da escola, faltam auxiliares de acção educativa e outros profissionais, degradam-se os espaços físicos, regressam as turmas de 30 alunos, admite-se o autoritarismo, insiste-se em programas e métodos desadequados.
Realidades que só não vê quem não quer. Há, de facto, quem não queira reflectir com profundidade nos problemas. È que por detrás de cada apelo à denúncia criminal e de cada pedido de mão pesada contra os estudantes, está a concepção, nem sempre disfarçada, de uma escola elitista, repressiva, autoritária, exclusiva, que empurra para fora do sistema educativo as crianças e os jovens «difíceis». E é nisto que não podemos admitir que a escola portuguesa se transforme, sob pena de compromoter o presente e o futuro do regime democrático e do país.