Resistir é já vencer!
No dia 20, em que se cumpriram cinco anos de ocupação do Iraque, Jerónimo de Sousa reafirmou a solidariedade dos comunistas portugueses com a resistência do povo iraquiano. Até dia 7 de Abril, estará patente no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, uma exposição sobre o tema.
1 milhão de mortos e 5,1 milhões de refugiados iraquianos
«A 20 de Março de 2003, as bombas anglo-americanas começaram a cair sobre Bagdade e outras cidades iraquianas. Tinha início a agressão ao Iraque», começa a exposição do PCP, colocada ao longo do salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa.
Na sessão pública do PCP, realizada no dia 20, e antes de passar a palavra ao secretário-geral, Ângelo Alves, da Comissão Política e da Secção Internacional, lembrou as diversas iniciativas de âmbito unitário que decorrerão para assinalar esta data. Com especial destaque para a concentração do próximo sábado.
Jerónimo de Sousa começou por realçar que esta guerra de ocupação foi «sustentada por mentiras e manipulações, que levou ao Iraque uma colossal tragédia humana, mais instabilidade e tensão à região do Médio Oriente e que, para vergonha do nosso País, contou com o apoio do governo português e o envolvimento de militares portugueses». Cinco anos passados daquele 20 de Março de 2003, sustentou o dirigente do PCP, «a guerra continua, tão sangrenta, tão inumana, tão criminosa e tão injustificável como no início».
As primeiras palavras do PCP vão «exactamente para as «centenas de milhar de vítimas da guerra - que estudos credíveis apontam atingir já o milhão; vão para os 5,1 milhões de refugiados de guerra - um quinto da população - obrigados a abandonar o seu país ou empurrados para a condição de deslocados internos; vão para as mulheres vítimas duplas da ocupação; vão para o milhão de crianças que segundo a UNICEF foram impedidas de frequentar a escola devido à ocupação; vão para sectores específicos da sociedade iraquiana, como os intelectuais e professores que são alvo da perseguição das forças de ocupação e das milícias por si financiadas».
E vão também, prosseguiu, «para aqueles que continuam a tentar sobreviver num cenário de guerra violenta que lançou para a pobreza extrema massas enormes da população iraquiana que se vê confrontada». E, exemplificando, afirmou que o desemprego atinge índices na ordem dos 60 a 70 por cento em várias cidades iraquianas.
Valeu e vale tudo
A guerra de ocupação do Iraque, acusou Jerónimo de Sousa, é marcada por diversas ilegalidades e atrocidades. «As tropas de ocupação utilizam armas proibidas e não convencionais de alta escala», afirmou. Urânio empobrecido, fósforo branco ou armas de fragmentação são apenas alguns exemplos. Estas e outras «invenções da indústria da morte e da destruição», perpetuarão os efeitos da guerra e da destruição, como ocorre já na Jugoslávia, lembrou.
Mas existem também «as provas do recurso à tortura, dos assassinatos selectivos, dos massacres de populações civis, das prisões secretas, dos criminosos voos da CIA, que que se passou em Abu Grahib e do que se passa em Guantánamo». Assim, concluiu, «o que se está a passar no Iraque é um verdadeiro e hediondo crime e os seus autores e apoiantes não poderão ficar impunes, nem à luz da lei nem à luz da História».
Massiva, só a manipulação e a mentira
Outro grande crime cometido pelos agressores que a História já se encarregou de provar é o da «manipulação e da mentira ao serviço da guerra». Em seguida, Jerónimo de Sousa recordou a «campanha em torno das armas de destruição em massa de Saddam» ou as imagens de Collin Powell «apresentando as ditas provas irrefutáveis que Paulo Portas afirmou a pés juntos ter visto».
Mas afinal o «terrível arsenal nuclear, químico e biológico iraquiano não existia». Foram exactamente as «provas» sobre as supostas armas é que foram «massivamente» manipuladas e forjadas.
Jerónimo de Sousa prosseguiu afirmando que já na altura o PCP dizia que o Iraque «não possuía tal armamento». E foi a própria invasão do Iraque que o veio a comprovar.
Se era conhecido que o Iraque não possuía esse tipo de armamento, o secretário-geral do PCP entendeu ser importante lembrar algumas importantes verdades: «a primeira é que Saddam Hussein teve de facto esse tipo de armamento, mas na década de 80, quando era aliado dos Estados Unidos» e quando este armamento servia os interesses do imperialismo na guerra com o Irão ou quando, no plano interno, era utilizado para massacrar os comunistas iraquianos.
A segunda verdade que importa não esquecer é que quem tem armas de destruição em massa são os próprios Estados Unidos da América e os seus aliados, em especial Israel, que «prossegue uma política de terrorismo de Estado contra o heróico povo da Palestina».
A verdade impõe-se
Mas estas não foram as únicas mentiras, destacou o dirigente comunista. Muita intoxicação «encheu os media internacionais sobre as ligações de Saddam Hussein à Al-Qaeda e a Bin Laden». Mas cinco anos depois, realçou Jerónimo de Sousa, é «o próprio Pentágono que vem afirmar, num relatório elaborado com base em documentação iraquiana confiscada durante a ocupação que, afinal, não havia qualquer ligação».
Concluindo, «são mentiras atrás de mentiras que visaram transportar para a opinião pública mundial a ideia de uma guerra "limpa" que iria libertar o povo do Iraque». Para Jerónimo de Sousa, os ocupantes estão a perder a guerra e também a batalha política em torno dela. Em sua opinião, ninguém acredita já nas «patranhas da “restauração da democracia” no Iraque». Até porque em cinco anos, o que se viu e vê é desestabilização, divisão e desarticulação de um país soberano.
Invasão ao Iraque faz parte de ofensiva global
Continuando a sua intervenção, Jerónimo de Sousa denunciou o conteúdo da «nova ordem democrática» que o grande capital e o imperialismo levaram ao Iraque. Trata-se de uma «desordem criminosa marcada pelos raptos e detenções extrajudiciais de "suspeitos", pelos julgamentos sem defesa e por todo um cortejo de abusos, indignidades, banalização e legitimação da tortura que nem umas eleições fraudulentas, realizadas em clima de guerra e sob ocupação e com a cobertura de uma ONU instrumentalizada não conseguiram esconder».
Mas, realçou, «não é apenas o povo do Iraque a vítima deste crime». Já que a agressão ao Iraque faz parte de uma «ofensiva global de exploração e dominação» do imperialismo, aproveitando a nova correlação de forças mundial. O controlo dos recursos naturais e dos canais de distribuição de energia, a abertura de mercados, a intensificação da exploração, o desmantelamento das conquistas sociais ou a destruição das soberanias são alguns dos objectivos, em nome do lucro.
Na sua corrida ao controlo direito dos recursos energéticos da região e à sua instalação militar na região, o imperialismo usa todo o poderio militar para afirmar a sua hegemonia. «E a realidade aí está a mostrar como longe estão os discursos de que a guerra do Iraque resolveria os problemas na região», afirmou. Olhe-se para o Líbano, para a Palestina, para as provocações à Síria e para a campanha em torno do Irão.
«Tal como a agressão à Jugoslávia na era Clinton, a invasão do Iraque com Bush violou todo o Direito Internacional, espezinhou a Carta da ONU e desprezou o seu Conselho de Segurança», denunciou o secretário-geral do PCP.
A guerra do Iraque, como a da Jugoslávia, a agressão ao Afeganistão, as manobras de provocação na América Latina ou a nova «cruzada neocolonizadora» em África «são todas filhas do mesmo pai». E, além disso, confirmam que o militarismo e a guerra são «características essenciais do imperialismo», realçou o dirigente comunista. Que acrescentou que o sistema capitalista confrontado com os «seus próprios limites históricos e as suas profundas contradições recorre cada vez mais à guerra, ao militarismo, à ocupação e a práticas criminosas».
Alemanha e França começaram por condenar
Divergências de ocasião
O secretário-geral do PCP considerou ser esta também a altura para apontar as responsabilidades «a todos os que, mais ou menos directamente, contribuíram para que se chegasse à situação actual». Lembrando que em 2003, «importantes países europeus opuseram-se publicamente ao desencadear da guerra no Iraque», Jerónimo de Sousa realçou que tais posições estiveram ligadas à «imensa pressão popular das gigantescas mobilizações contra a guerra». O tempo já provou que tais posições nada tiveram que ver com questões «de princípio ou de defesa da soberania do Iraque». Foram sim, esclareceu, diferenças tácticas entre potências imperialistas resultantes de diferentes interesses económicos na região. «Daí se explica que uma vez consumada a invasão - que havia sido justamente descrita como ilegal e violadora do Direito Internacional - a generalidade dos países da União Europeia tenha passado a colaborar e a participar activamente na ocupação do Iraque e que a ONU tenha sido usada para tentar legitimar a posteriori o crime cometido.»
A vergonhosa conivência
Jerónimo de Sousa não se esqueceu do papel dos governos portugueses nesta agressão. Era primeiro-ministro do governo de coligação PSD-PP quando se realizou a «tristemente célebre» Cimeira dos Açores e partiram os militares portugueses para a guerra.
Este foi o tempo «das escandalosas declarações de Durão Barroso desejando que "a acção fosse o mais rápida possível" e que "cumprisse todos os seus objectivos"». Mas foi também o tempo dos «malabarismos políticos do Partido Socialista para se pôr de bem "com Deus e o diabo"» e da decisão de aceitação da participação portuguesa na guerra pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Todas estas posturas, realçou o secretário-geral do PCP, afrontam os sentimentos de paz e convivência pacífica do povo português demonstradas nas grandes manifestações contra a guerra de 2003 e que «não devem ser esquecidas».
O facto de hoje não haver militares portugueses no Iraque «não retira nada à decisões tomadas e sobretudo não significa que Portugal não prossiga uma política externa que, no essencial, é de alinhamento com as doutrinas militaristas da NATO e da União Europeia», afirmou Jerónimo de Sousa. A prová-lo está a participação portuguesa em vários conflitos imperialistas como no Afeganistão. A prová-lo estão também as «opções deste governo relativamente ao papel e missão das nossas forças armadas» ou o seu silêncio em torno de questões «tão graves como o uso de território português para os voos da CIA ou os sinais cada vez mais fortes de envolvimento da Base das Lajes em novos projectos do imperialismo norte-americano».
Solidários com a resistência
A terminar, Jerónimo de Sousa guardou uma palavra especial para a resistência iraquiana. Foi ela que «refreou as perspectivas mais aventureiristas da rápida propagação a novas paragens do “intervencionismo democrático”, demonstrando que resistir é já vencer». Para o dirigente comunista, a resposta da resistência dá «objectivamente um contributo para a contenção dos intentos de dominação global do imperialismo norte-americano e para a esperança num futuro de paz, justa e duradoura, respeitador da soberania dos povos e da integridade territorial dos países».
O PCP, reafirmou, «não confunde resistência com terrorismo». Aliás, lembrou, é a própria resistência iraquiana que «condena e se demarca das acções de instigação à violência sectária». Mas, simultaneamente, «reconhecemos o legítimo direito do povo iraquiano a resistir à ocupação e confiamos na sua capacidade para escolher livremente o seu futuro».
O secretário-geral do PCP não esqueceu também de referir que a História mundial ensina que a «luta dos povos pela paz e a sua resistência às agressões e ingerências imperialistas são inseparáveis da luta mais geral pela independência, a soberania, a justiça social e o progresso». E também que é nos «trabalhadores e nos povos que reside a força necessária para travar o passo à exploração e à opressão capitalistas».
Também o povo iraquiano, confia, «há-de conquistar pelas suas mãos a liberdade, a independência e a soberania». E pode contar com a solidariedade do PCP.
Na sessão pública do PCP, realizada no dia 20, e antes de passar a palavra ao secretário-geral, Ângelo Alves, da Comissão Política e da Secção Internacional, lembrou as diversas iniciativas de âmbito unitário que decorrerão para assinalar esta data. Com especial destaque para a concentração do próximo sábado.
Jerónimo de Sousa começou por realçar que esta guerra de ocupação foi «sustentada por mentiras e manipulações, que levou ao Iraque uma colossal tragédia humana, mais instabilidade e tensão à região do Médio Oriente e que, para vergonha do nosso País, contou com o apoio do governo português e o envolvimento de militares portugueses». Cinco anos passados daquele 20 de Março de 2003, sustentou o dirigente do PCP, «a guerra continua, tão sangrenta, tão inumana, tão criminosa e tão injustificável como no início».
As primeiras palavras do PCP vão «exactamente para as «centenas de milhar de vítimas da guerra - que estudos credíveis apontam atingir já o milhão; vão para os 5,1 milhões de refugiados de guerra - um quinto da população - obrigados a abandonar o seu país ou empurrados para a condição de deslocados internos; vão para as mulheres vítimas duplas da ocupação; vão para o milhão de crianças que segundo a UNICEF foram impedidas de frequentar a escola devido à ocupação; vão para sectores específicos da sociedade iraquiana, como os intelectuais e professores que são alvo da perseguição das forças de ocupação e das milícias por si financiadas».
E vão também, prosseguiu, «para aqueles que continuam a tentar sobreviver num cenário de guerra violenta que lançou para a pobreza extrema massas enormes da população iraquiana que se vê confrontada». E, exemplificando, afirmou que o desemprego atinge índices na ordem dos 60 a 70 por cento em várias cidades iraquianas.
Valeu e vale tudo
A guerra de ocupação do Iraque, acusou Jerónimo de Sousa, é marcada por diversas ilegalidades e atrocidades. «As tropas de ocupação utilizam armas proibidas e não convencionais de alta escala», afirmou. Urânio empobrecido, fósforo branco ou armas de fragmentação são apenas alguns exemplos. Estas e outras «invenções da indústria da morte e da destruição», perpetuarão os efeitos da guerra e da destruição, como ocorre já na Jugoslávia, lembrou.
Mas existem também «as provas do recurso à tortura, dos assassinatos selectivos, dos massacres de populações civis, das prisões secretas, dos criminosos voos da CIA, que que se passou em Abu Grahib e do que se passa em Guantánamo». Assim, concluiu, «o que se está a passar no Iraque é um verdadeiro e hediondo crime e os seus autores e apoiantes não poderão ficar impunes, nem à luz da lei nem à luz da História».
Massiva, só a manipulação e a mentira
Outro grande crime cometido pelos agressores que a História já se encarregou de provar é o da «manipulação e da mentira ao serviço da guerra». Em seguida, Jerónimo de Sousa recordou a «campanha em torno das armas de destruição em massa de Saddam» ou as imagens de Collin Powell «apresentando as ditas provas irrefutáveis que Paulo Portas afirmou a pés juntos ter visto».
Mas afinal o «terrível arsenal nuclear, químico e biológico iraquiano não existia». Foram exactamente as «provas» sobre as supostas armas é que foram «massivamente» manipuladas e forjadas.
Jerónimo de Sousa prosseguiu afirmando que já na altura o PCP dizia que o Iraque «não possuía tal armamento». E foi a própria invasão do Iraque que o veio a comprovar.
Se era conhecido que o Iraque não possuía esse tipo de armamento, o secretário-geral do PCP entendeu ser importante lembrar algumas importantes verdades: «a primeira é que Saddam Hussein teve de facto esse tipo de armamento, mas na década de 80, quando era aliado dos Estados Unidos» e quando este armamento servia os interesses do imperialismo na guerra com o Irão ou quando, no plano interno, era utilizado para massacrar os comunistas iraquianos.
A segunda verdade que importa não esquecer é que quem tem armas de destruição em massa são os próprios Estados Unidos da América e os seus aliados, em especial Israel, que «prossegue uma política de terrorismo de Estado contra o heróico povo da Palestina».
A verdade impõe-se
Mas estas não foram as únicas mentiras, destacou o dirigente comunista. Muita intoxicação «encheu os media internacionais sobre as ligações de Saddam Hussein à Al-Qaeda e a Bin Laden». Mas cinco anos depois, realçou Jerónimo de Sousa, é «o próprio Pentágono que vem afirmar, num relatório elaborado com base em documentação iraquiana confiscada durante a ocupação que, afinal, não havia qualquer ligação».
Concluindo, «são mentiras atrás de mentiras que visaram transportar para a opinião pública mundial a ideia de uma guerra "limpa" que iria libertar o povo do Iraque». Para Jerónimo de Sousa, os ocupantes estão a perder a guerra e também a batalha política em torno dela. Em sua opinião, ninguém acredita já nas «patranhas da “restauração da democracia” no Iraque». Até porque em cinco anos, o que se viu e vê é desestabilização, divisão e desarticulação de um país soberano.
Invasão ao Iraque faz parte de ofensiva global
Continuando a sua intervenção, Jerónimo de Sousa denunciou o conteúdo da «nova ordem democrática» que o grande capital e o imperialismo levaram ao Iraque. Trata-se de uma «desordem criminosa marcada pelos raptos e detenções extrajudiciais de "suspeitos", pelos julgamentos sem defesa e por todo um cortejo de abusos, indignidades, banalização e legitimação da tortura que nem umas eleições fraudulentas, realizadas em clima de guerra e sob ocupação e com a cobertura de uma ONU instrumentalizada não conseguiram esconder».
Mas, realçou, «não é apenas o povo do Iraque a vítima deste crime». Já que a agressão ao Iraque faz parte de uma «ofensiva global de exploração e dominação» do imperialismo, aproveitando a nova correlação de forças mundial. O controlo dos recursos naturais e dos canais de distribuição de energia, a abertura de mercados, a intensificação da exploração, o desmantelamento das conquistas sociais ou a destruição das soberanias são alguns dos objectivos, em nome do lucro.
Na sua corrida ao controlo direito dos recursos energéticos da região e à sua instalação militar na região, o imperialismo usa todo o poderio militar para afirmar a sua hegemonia. «E a realidade aí está a mostrar como longe estão os discursos de que a guerra do Iraque resolveria os problemas na região», afirmou. Olhe-se para o Líbano, para a Palestina, para as provocações à Síria e para a campanha em torno do Irão.
«Tal como a agressão à Jugoslávia na era Clinton, a invasão do Iraque com Bush violou todo o Direito Internacional, espezinhou a Carta da ONU e desprezou o seu Conselho de Segurança», denunciou o secretário-geral do PCP.
A guerra do Iraque, como a da Jugoslávia, a agressão ao Afeganistão, as manobras de provocação na América Latina ou a nova «cruzada neocolonizadora» em África «são todas filhas do mesmo pai». E, além disso, confirmam que o militarismo e a guerra são «características essenciais do imperialismo», realçou o dirigente comunista. Que acrescentou que o sistema capitalista confrontado com os «seus próprios limites históricos e as suas profundas contradições recorre cada vez mais à guerra, ao militarismo, à ocupação e a práticas criminosas».
Alemanha e França começaram por condenar
Divergências de ocasião
O secretário-geral do PCP considerou ser esta também a altura para apontar as responsabilidades «a todos os que, mais ou menos directamente, contribuíram para que se chegasse à situação actual». Lembrando que em 2003, «importantes países europeus opuseram-se publicamente ao desencadear da guerra no Iraque», Jerónimo de Sousa realçou que tais posições estiveram ligadas à «imensa pressão popular das gigantescas mobilizações contra a guerra». O tempo já provou que tais posições nada tiveram que ver com questões «de princípio ou de defesa da soberania do Iraque». Foram sim, esclareceu, diferenças tácticas entre potências imperialistas resultantes de diferentes interesses económicos na região. «Daí se explica que uma vez consumada a invasão - que havia sido justamente descrita como ilegal e violadora do Direito Internacional - a generalidade dos países da União Europeia tenha passado a colaborar e a participar activamente na ocupação do Iraque e que a ONU tenha sido usada para tentar legitimar a posteriori o crime cometido.»
A vergonhosa conivência
Jerónimo de Sousa não se esqueceu do papel dos governos portugueses nesta agressão. Era primeiro-ministro do governo de coligação PSD-PP quando se realizou a «tristemente célebre» Cimeira dos Açores e partiram os militares portugueses para a guerra.
Este foi o tempo «das escandalosas declarações de Durão Barroso desejando que "a acção fosse o mais rápida possível" e que "cumprisse todos os seus objectivos"». Mas foi também o tempo dos «malabarismos políticos do Partido Socialista para se pôr de bem "com Deus e o diabo"» e da decisão de aceitação da participação portuguesa na guerra pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Todas estas posturas, realçou o secretário-geral do PCP, afrontam os sentimentos de paz e convivência pacífica do povo português demonstradas nas grandes manifestações contra a guerra de 2003 e que «não devem ser esquecidas».
O facto de hoje não haver militares portugueses no Iraque «não retira nada à decisões tomadas e sobretudo não significa que Portugal não prossiga uma política externa que, no essencial, é de alinhamento com as doutrinas militaristas da NATO e da União Europeia», afirmou Jerónimo de Sousa. A prová-lo está a participação portuguesa em vários conflitos imperialistas como no Afeganistão. A prová-lo estão também as «opções deste governo relativamente ao papel e missão das nossas forças armadas» ou o seu silêncio em torno de questões «tão graves como o uso de território português para os voos da CIA ou os sinais cada vez mais fortes de envolvimento da Base das Lajes em novos projectos do imperialismo norte-americano».
Solidários com a resistência
A terminar, Jerónimo de Sousa guardou uma palavra especial para a resistência iraquiana. Foi ela que «refreou as perspectivas mais aventureiristas da rápida propagação a novas paragens do “intervencionismo democrático”, demonstrando que resistir é já vencer». Para o dirigente comunista, a resposta da resistência dá «objectivamente um contributo para a contenção dos intentos de dominação global do imperialismo norte-americano e para a esperança num futuro de paz, justa e duradoura, respeitador da soberania dos povos e da integridade territorial dos países».
O PCP, reafirmou, «não confunde resistência com terrorismo». Aliás, lembrou, é a própria resistência iraquiana que «condena e se demarca das acções de instigação à violência sectária». Mas, simultaneamente, «reconhecemos o legítimo direito do povo iraquiano a resistir à ocupação e confiamos na sua capacidade para escolher livremente o seu futuro».
O secretário-geral do PCP não esqueceu também de referir que a História mundial ensina que a «luta dos povos pela paz e a sua resistência às agressões e ingerências imperialistas são inseparáveis da luta mais geral pela independência, a soberania, a justiça social e o progresso». E também que é nos «trabalhadores e nos povos que reside a força necessária para travar o passo à exploração e à opressão capitalistas».
Também o povo iraquiano, confia, «há-de conquistar pelas suas mãos a liberdade, a independência e a soberania». E pode contar com a solidariedade do PCP.