Colóquios e papagaios…

Ângelo Alves
Na passada quinta-feira Severiano Teixeira, Ministro da Defesa, deslocou-se ao Porto para participar num colóquio sobre Defesa Nacional. A outra estrela do debate era Paulo Portas. A RTP foi peremptória na análise do debate: «Severiano Teixeira e Paulo Portas sem divergências de fundo na política para a Defesa». De entre as muitas ideias que uniram o Presidente do PP e o Ministro do governo PS registe-se uma que é um valioso contributo dos oradores para que os nossos leitores possam perceber melhor do que falamos quando nos referimos à militarização das relações internacionais: «Actualmente, o combate pela paz e segurança não se trava nas fronteiras geográficas, mas sim nos conflitos étnicos, nas guerras religiosas, na criminalidade organizada internacional, no terrorismo, nas ameaças ambientais e nos Estados falhados». Não o explicaríamos melhor, de facto.
Na Segunda-feira, dia 17 o Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, participou num colóquio que teve como anfitrião Adriano Moreira, Ministro do Ultramar do regime fascista e antigo Presidente do CDS. O acontecimento serviu para publicitar a intenção de introdução no quadro legal português do «novo crime de apologia do terrorismo» e para vender a ideia de «punir o terrorismo a título preventivo». Ou seja um colóquio para vender versões domésticas do fascizante Patriot Act de Bush. Abstendo-nos de caracterizar a fundo esta tentativa de dar cobertura legal às perseguições políticas dos tempos modernos fica o registo de como um jornal diário português aproveitou a boleia para sugerir a criminalização do PCP rebuscando o tema das FARC e pegando num recente comunicado do PCP sobre a situação na América Latina para deixar a pergunta: «será isto apologia do terrorismo?». Deixando de lado a baixaria e a irresponsabilidade desta provocação, servem estas duas notícias e a aberração jornalística associada à segunda para demonstrar o que de facto está em causa: O PS e a direita portuguesa andam por aí de mãos dadas a vender o militarismo, a guerra e a supressão das liberdades em nome da «segurança». E pelos vistos têm na comunicação social uns papagaios de serviço que nem percebem que quando deixarem de ser úteis ou destoarem da opinião oficial passarão eles também a ser «apologistas» de qualquer coisa «perigosa».


Mais artigos de: Opinião

Tibete<br>hipocrisia imperialista

Se há realidade complexa cuja compreensão é incompatível com clichés, ela é a República Popular da China. Pelo passado histórico de uma civilização milenar que durante séculos surpreendeu e deslumbrou quantos a contactaram. Pela sua população gigantesca e grande extensão territorial. Pelo mosaico de nacionalidades e...

Reforçar e afirmar o Partido!

Em todo o país multiplicam-se as iniciativas de comemoração do 87.º aniversário do Partido Comunista Português, com orgulho numa história singular de quase nove décadas de um Partido sempre ao serviço dos trabalhadores e do povo.

De Herodes para Pilatos

Desculpem a referência pascoal. Mas foi o que me veio à ideia ao ouvir os candidatos à presidência dos Estados Unidos, tornados pela comunicação social questão de máxima prioridade.Pois a mim, o que me chamou a atenção foi que, num cenário económico em que se evidenciam os desequilíbrios estruturais da economia...

Dai-lhe lama

Os portugueses, na generalidade, nem sabem como são felizes por, no seu país, serem um povo unido na sua nacionalidade, língua e história. Caso raro, senão único, pelo menos na Europa. E, talvez por isso mesmo, estranham os problemas que os finais do século XX e os começos do XXI, trouxeram ao de cima, ajudados pela...

A bem da nação

O popular ditado «a boda e baptizado não vás sem ser convidado» está em vias de cair rapidamente em desuso. Um destes dias, é muito possível que os convivas de tais eventos passem a ser confrontados, lá onde quer que os mesmos se realizem, com uma legião de desconhecidos senhores Silva – ou senhoras, para o caso pouco...