Talvez um dia...
Do horror que tem sido a vaga de incêndios que assolou o País, Durão Barroso conseguiu fazer sobressair os aspectos «positivos» dele resultantes. Da tragédia de milhares de portugueses atingidos pelos fogos, da liquidação num ápice do produto de vidas inteiras de trabalho duro, do negro futuro que se perfila para as vítimas dos fogos nada disse. Que «a altura não é para fazer política». Assim, no último fim-de-semana, em visita ao Algarve - já no rescaldo da tragédia vivida ao longo de penosos dias -, Durão Barroso aproveitou, não para anunciar a sua demissão ou, pelo menos, justificar a inércia e inépcia do seu Governo, mas para valorizar os tais aspectos positivos. Ou seja, as manifestações de solidariedade que ela gerou, os actos de heroísmo e de coragem que proporcionou. Como se os actos de bravura inquestionável de bombeiros e populações pudessem fazer esquecer que os incêndios foram fruto do enorme desprezo que o seu Governo tem para com os mesmos cuja bravura exalta.
Descansou também os portugueses: o Algarve permanece uma zona lindíssima e um pólo de atracção inigualável de turismo, já que os fogos «apenas» atingiram o seu interior. Ah! E prometeu que o Governo não iria esquecer o apoio às vítimas (promessa que, aliás, não teve qualquer efeito tranquilizador nos algarvios, conhecedores que são do valor das suas promessas).
Sem naturalmente querer aproveitar o rasto de dramas e misérias que os fogos deixaram para «fazer política», o mínimo que se pode dizer sobre as palavras do Primeiro Ministro no Algarve é que ele desconhece completamente o país cuja governação tem a seu cargo.
Senão saberia que sobreviver à política do seu governo é para a esmagadora maioria dos portugueses um acto de heroísmo; que é à custa de solidariedades quantas vezes difíceis que milhares de portugueses vivem; que só a coragem permite a outros milhares deles enfrentar o quotidiano.
Mas como pode Durão Barroso saber disso, divorciado que está dos portugueses e do país real? Se vive e bem sem precisar de solidariedades, se o único acto de coragem que se lhe conhece é o de prosseguir impávido e sereno uma política de desastre nacional, sem olhar aos estragos e ao trilho de miséria que tanto ou mais que os fogos vão lavrando entre nós?
Estará Durão Barroso à espera que os portugueses se habituem à desgraça, enfrentando-a «heróica e corajosamente», talvez como outros povos enfrentam a fome e outros, ainda, a guerra?
Há pouco em Beirute, depois de, numa manhã, Israel ter atacado o sul do Líbano, fomos à noite confrontados com uma enorme explosão para que obviamente não estávamos preparados. Perante o alvoroço que a mesma provocou entre os poucos hóspedes do hotel onde nos encontrávamos, fomos surpreendidos com a resposta do recepcionista: «Não se preocupem, não há qualquer problema, são apenas aviões israelitas a sobrevoarem baixo a cidade!».
Soubemos, depois, que Israel sobrevoa ilegalmente o Líbano cerca de duas centenas de vezes por ano!
«Talvez um dia... também os portugueses se habituem a conviver com a desgraça», deve pensar o Primeiro Ministro de Portugal.
Descansou também os portugueses: o Algarve permanece uma zona lindíssima e um pólo de atracção inigualável de turismo, já que os fogos «apenas» atingiram o seu interior. Ah! E prometeu que o Governo não iria esquecer o apoio às vítimas (promessa que, aliás, não teve qualquer efeito tranquilizador nos algarvios, conhecedores que são do valor das suas promessas).
Sem naturalmente querer aproveitar o rasto de dramas e misérias que os fogos deixaram para «fazer política», o mínimo que se pode dizer sobre as palavras do Primeiro Ministro no Algarve é que ele desconhece completamente o país cuja governação tem a seu cargo.
Senão saberia que sobreviver à política do seu governo é para a esmagadora maioria dos portugueses um acto de heroísmo; que é à custa de solidariedades quantas vezes difíceis que milhares de portugueses vivem; que só a coragem permite a outros milhares deles enfrentar o quotidiano.
Mas como pode Durão Barroso saber disso, divorciado que está dos portugueses e do país real? Se vive e bem sem precisar de solidariedades, se o único acto de coragem que se lhe conhece é o de prosseguir impávido e sereno uma política de desastre nacional, sem olhar aos estragos e ao trilho de miséria que tanto ou mais que os fogos vão lavrando entre nós?
Estará Durão Barroso à espera que os portugueses se habituem à desgraça, enfrentando-a «heróica e corajosamente», talvez como outros povos enfrentam a fome e outros, ainda, a guerra?
Há pouco em Beirute, depois de, numa manhã, Israel ter atacado o sul do Líbano, fomos à noite confrontados com uma enorme explosão para que obviamente não estávamos preparados. Perante o alvoroço que a mesma provocou entre os poucos hóspedes do hotel onde nos encontrávamos, fomos surpreendidos com a resposta do recepcionista: «Não se preocupem, não há qualquer problema, são apenas aviões israelitas a sobrevoarem baixo a cidade!».
Soubemos, depois, que Israel sobrevoa ilegalmente o Líbano cerca de duas centenas de vezes por ano!
«Talvez um dia... também os portugueses se habituem a conviver com a desgraça», deve pensar o Primeiro Ministro de Portugal.