O centro do centro é centro a mais

Anabela Fino
Ao fim de três décadas de alternância no Poder entre PS e PSD (com ou sem CDS como contrapeso) com os resultados que se conhece, é no mínimo surpreendente que ainda haja quem acredite haver mais centro para explorar ou, dizendo de outra forma, que há mais no centro do que podemos imaginar. Parece no entanto ser esse o caso de Rui Marques, antigo alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, que esta semana anunciou a intenção de criar um novo partido, de seu nome «Movimento Esperança Portugal», ideologicamente situado «algures entre o PS e o PSD», ou seja, no «centro do centro».
De acordo com o próprio, em declarações à Lusa, este é um projecto «de gente comum» apostada em meter a mão na massa da política para «transmitir esperança, no sentido de que a política é uma responsabilidade de todos nós e não só de alguns».
Não pondo obviamente em causa a liberdade que assiste a qualquer um de se organizar politicamente, ocorre no entanto perguntar a quem servirá um movimento que «quer estar ao centro do centro político, entre o PS e o PSD, para que a partir daí seja possível construir pontes e sublinhar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa», como diz Rui Marques.
A dúvida é tanto mais legítima quanto não se vislumbra qualquer necessidade de recorrer à engenharia para aproximar PS e PSD, na verdade as duas faces visíveis da mesma moeda no respeitante à prática política. Também não se percebe o que é que a «gente comum» referida por Rui Marques irá fazer na arena política, dado que o objectivo anunciado é o de afirmar «a construção em vez da oposição» e acreditar que um «País melhor é possível».
Que é possível um País melhor toda a gente sabe, e nem é preciso saber muito para entender os motivos por que estamos cada vez pior. Já a «construção em vez da oposição» tem que se lhe diga, pois há obra que de tão torta não como se endireitar a não ser desfazendo, como de resto se constata pelo estado a que isto chegou. Sem pretender fazer futurologia, sempre nos quer parecer que «o centro do centro» é uma engenharia política sem grande imaginação para servir mais do mesmo. O que, convenhamos, não é particularmente estimulante.


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