Geórgia

Milhares contra a fraude

Milhares de pessoas manifestaram-se, domingo, contra a tomada de posse de Mikhail Saakachvili para um segundo mandato como presidente da Geórgia, suspeito de falsificar os resultados no sufrágio de 5 de Janeiro.
Mais de 100 mil georgianos responderam ao apelo da Oposição Unida da Geórgia e concentraram-se nos arredores da capital, Tiblisi, para reiterarem as acusações de fraude e exigirem a realização de uma nova consulta popular.
No comício, o candidato alegadamente derrotado, Levan Gatchetchiladzé, rejeitou participar no governo do país, respondendo assim à mais recente proposta do presidente, e avisou que se as reivindicações não forem atendidas «o movimento popular unido transformar-se-á numa revolta popular unida».
Simultaneamente, noutro ponto da capital, Saakachvili assumia oficialmente a chefia da nação fazendo-se acompanhar pelos presidentes da Roménia, Lituânia, Estónia, Letónia e Polónia, os primeiros membros da NATO desde 2004, e o último desde 1999.
Na cerimónia, Saakachvili confirmou os objectivos do seu mandato: acelerar a integração da Geórgia na Aliança Atlântica, mantendo relações «normalizadas» com a vizinha Rússia.

Questões centrais

A polémica em torno das eleições georgianas vai muito além da disputa entre candidatos. Em jogo está o controlo económico, político e militar de uma vasta região, fundamental para o acesso às reservas de petróleo e gás natural do Mar Cáspio e da Ásia Central.
Há cerca de um ano, os EUA aprovaram uma elevada soma financeira de «ajuda» à Geórgia. Desde então, ficou claro que a entrada do país no eixo euro-atlântico era de máxima importância. O tema deve voltar aos debates nas próximas legislativas na Geórgia, agendadas para Março, uma vez que a oposição defende a neutralidade face ao bloco militar.
Europeus e norte-americanos são fervorosos apoiantes de Saakachvili. Não deixa de ser sintomático que Matthew Bryza, responsável do Departamento de Estado norte-americano pelas Relações Europeias e Euro-asiáticas e assessor político da Casa Branca para o Cáucaso e Europa do Sul, tenha vindo a terreiro, sábado, reafirmar a regularidade das eleições.
Bryza notabilizou-se ainda por ter sido «brindado» pela oposição como o patrono do «museu georgiano-americano da mentira», espaço onde se exibem votos falsificados, e por ter sido o primeiro representante estrangeiro a felicitar Saakachvili pela vitória, abrindo caminho para que Bush também o fizesse por intermédio do Conselheiro de Segurança Nacional, Stephen Hadley.
Da parte da Rússia, a táctica é de reforço dos laços históricos. Depois de se encontrar com o patriarca ortodoxo da Geórgia, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo deixou claro que Moscovo pretende normalizar as relações com Tiblisi, permitindo revitalizar a cooperação económica, comercial e científica entre as ex-repúblicas soviéticas.
Serguei Lavrov disse ainda que o Kremlin evitará conflitos na fronteira, nomeadamente na Ossétia do Sul e na Abcásia, territórios que reclamam a autonomia face à Geórgia.

Indiferença estratégica

Tal como Washington, a Europa aposta em Saakachvili, por isso ignorou as alegações de fraude eleitoral.
Goran Eklund, emissário da Comissão Europeia às presidenciais georgianas, limitou-se a cumprir a presença formal da UE, e em vez de exigir investigações exaustivas às denuncias desejou sorte às autoridades para as parlamentares que se seguem. Nem as insuspeitas dúvidas da OSCE tiveram eco em Bruxelas.
Oficialmente, Saakachvili venceu com 53,4 por cento dos votos contra 25,6 de Gachechiladze. Oficialmente, 77 por cento dos georgianos concordaram com a adesão à NATO. Nas ruas, as exigências contrastam com a versão oficial.


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