Médio Oriente longe da paz
Gaza enfrenta a pior crise humanitária dos últimos meses. Apesar dos protestos e da instabilidade na região, Israel e os EUA mantêm a violência.
80 por cento dos habitantes de Gaza dependem a ajuda alimentar exterior
Cerca de um milhão e quatrocentos mil habitantes da Faixa de Gaza enfrentam a pior crise desde que Israel encerrou a passagem fronteiriça de Rafah, em Junho passado.
A gravidade da situação vinha sendo denunciada pelas autoridades palestinianas e por ONG's, mas as carências tornaram-se incontornáveis depois do governo de Telavive ter decido, a semana passada, cortar a entrada de qualquer carregamento de ajuda humanitária, da qual depende aproximadamente 80 por cento da população, diz a agência da ONU para os refugiados.
Às precárias condições de assistência médica e medicamentosa, de saneamento básico ou de acesso a géneros alimentares e água potável, acrescentou Israel o boicote total ao fornecimento de combustível.
Em consequência, domingo, a única central eléctrica de Gaza interrompeu a produção. Nos hospitais, só são realizadas intervenções de emergência e mesmo essas encontram-se condicionadas ao exercício do possível dada a escassez de energia, lembra a Cruz Vermelha Internacional que adverte para o aumento do número de mortes por falta de condições nas unidades de saúde.
Acrescem os bombardeamentos e as ofensivas terrestres israelitas contra a Faixa de Gaza, que só nos últimos dias mataram mais de 40 pessoas. A campanha militar foi classificada pelo responsável das Nações Unidas para a Palestina, John Dugard, como «crime de guerra». Dugard sustentou que os castigos colectivos levados a cabo por Israel violam as normas da Convenção de Genebra e exortou os Estados comprometidos com os recentes acordos de paz de Annapolis a travarem Telavive.
Entretanto, o ministro da Defesa israelita, Ehud Barak, anunciou, segunda-feira, a entrada limitada de combustível e medicamentos, mas a decisão não responde satisfatoriamente às gritantes necessidades existentes.
A intenção do governo de Ehud Olmert foi, aliás, revelada pelo próprio depois de Barak avançar com a medida. «De maneira nenhuma deixaremos que a vida em Gaza seja confortável e agradável», disse Olmert confirmando a política da repressão contra o povo palestiniano.
Vizinhos temem conflito
Em face do estrangulamento de Gaza, muitas foram as vozes que repudiaram a calamidade. O presidente do Egipto, Hosni Mubarak, o monarca da Jordânia, Abdallah II, e o primeiro-ministro do Líbano, Fouad Siniora, pediram a Israel para que alivie a pressão, e às Nações Unidas, à UE e aos EUA para que intervenham.
Mais concreto foi Mahmud Ahmadineyad. O presidente do Irão pretende reunir os líderes árabes e criar mecanismos de auxílio por forma a evitar o colapso em Gaza.
Os apelos dos governantes vizinhos parecem sobretudo relacionados com o perigo de uma nova escalada de violência na região e o medo da revolta dos refugiados palestinianos nos respectivos países, onde milhares de pessoas se insurgiram em protestos que encheram as ruas contra a política israelita e norte-americana no Médio Oriente.
Particularmente instável é a crise no Líbano. O país ainda não tem um presidente eleito de acordo com as várias sensibilidades políticas, isto apesar do secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, se desdobrar em contactos com as partes envolvidas no diferendo.
Sábado, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reuniu uma multidão nos arredores de Beirute numa demonstração de vigor da oposição xiita. Segunda-feira, o exército libanês respondeu com fogo a um raide israelita sobre o país.
Iraque fustigado
O avolumar da tensão no Médio Oriente surge depois da visita de Bush. Entre 9 e 16, o presidente norte-americano esteve em Israel, nos territórios palestinianos, no Egipto, Kuwait, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, países onde para além de promover promessas de reconhecimento de um Estado palestiniano, anunciou a venda de armas no valor global de 20 mil milhões de dólares. O negócio pressupõe a complacência da burguesia local face às catástrofes no Iraque e na Palestina.
As províncias iraquianas de Arab Jabour, no Sul de Bagdad, e de Al Anbar são, desde o passado dia 10, alvos prioritários da aviação norte-americana. Dezenas de toneladas de bombas fustigam os territórios deixando um número indeterminado de civis mortos ou desalojados.
Kerbala, Nassiria e Bassorá também registaram combates entre grupos armados e tropas regulares do governo iraquiano e dos ocupantes. Pelo menos uma centena de pessoas perdeu a vida desde o final da semana passada, quando se iniciaram as celebrações da Achura, a segunda festividade mais importante no calendário religioso islâmico.
A gravidade da situação vinha sendo denunciada pelas autoridades palestinianas e por ONG's, mas as carências tornaram-se incontornáveis depois do governo de Telavive ter decido, a semana passada, cortar a entrada de qualquer carregamento de ajuda humanitária, da qual depende aproximadamente 80 por cento da população, diz a agência da ONU para os refugiados.
Às precárias condições de assistência médica e medicamentosa, de saneamento básico ou de acesso a géneros alimentares e água potável, acrescentou Israel o boicote total ao fornecimento de combustível.
Em consequência, domingo, a única central eléctrica de Gaza interrompeu a produção. Nos hospitais, só são realizadas intervenções de emergência e mesmo essas encontram-se condicionadas ao exercício do possível dada a escassez de energia, lembra a Cruz Vermelha Internacional que adverte para o aumento do número de mortes por falta de condições nas unidades de saúde.
Acrescem os bombardeamentos e as ofensivas terrestres israelitas contra a Faixa de Gaza, que só nos últimos dias mataram mais de 40 pessoas. A campanha militar foi classificada pelo responsável das Nações Unidas para a Palestina, John Dugard, como «crime de guerra». Dugard sustentou que os castigos colectivos levados a cabo por Israel violam as normas da Convenção de Genebra e exortou os Estados comprometidos com os recentes acordos de paz de Annapolis a travarem Telavive.
Entretanto, o ministro da Defesa israelita, Ehud Barak, anunciou, segunda-feira, a entrada limitada de combustível e medicamentos, mas a decisão não responde satisfatoriamente às gritantes necessidades existentes.
A intenção do governo de Ehud Olmert foi, aliás, revelada pelo próprio depois de Barak avançar com a medida. «De maneira nenhuma deixaremos que a vida em Gaza seja confortável e agradável», disse Olmert confirmando a política da repressão contra o povo palestiniano.
Vizinhos temem conflito
Em face do estrangulamento de Gaza, muitas foram as vozes que repudiaram a calamidade. O presidente do Egipto, Hosni Mubarak, o monarca da Jordânia, Abdallah II, e o primeiro-ministro do Líbano, Fouad Siniora, pediram a Israel para que alivie a pressão, e às Nações Unidas, à UE e aos EUA para que intervenham.
Mais concreto foi Mahmud Ahmadineyad. O presidente do Irão pretende reunir os líderes árabes e criar mecanismos de auxílio por forma a evitar o colapso em Gaza.
Os apelos dos governantes vizinhos parecem sobretudo relacionados com o perigo de uma nova escalada de violência na região e o medo da revolta dos refugiados palestinianos nos respectivos países, onde milhares de pessoas se insurgiram em protestos que encheram as ruas contra a política israelita e norte-americana no Médio Oriente.
Particularmente instável é a crise no Líbano. O país ainda não tem um presidente eleito de acordo com as várias sensibilidades políticas, isto apesar do secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, se desdobrar em contactos com as partes envolvidas no diferendo.
Sábado, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reuniu uma multidão nos arredores de Beirute numa demonstração de vigor da oposição xiita. Segunda-feira, o exército libanês respondeu com fogo a um raide israelita sobre o país.
Iraque fustigado
O avolumar da tensão no Médio Oriente surge depois da visita de Bush. Entre 9 e 16, o presidente norte-americano esteve em Israel, nos territórios palestinianos, no Egipto, Kuwait, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, países onde para além de promover promessas de reconhecimento de um Estado palestiniano, anunciou a venda de armas no valor global de 20 mil milhões de dólares. O negócio pressupõe a complacência da burguesia local face às catástrofes no Iraque e na Palestina.
As províncias iraquianas de Arab Jabour, no Sul de Bagdad, e de Al Anbar são, desde o passado dia 10, alvos prioritários da aviação norte-americana. Dezenas de toneladas de bombas fustigam os territórios deixando um número indeterminado de civis mortos ou desalojados.
Kerbala, Nassiria e Bassorá também registaram combates entre grupos armados e tropas regulares do governo iraquiano e dos ocupantes. Pelo menos uma centena de pessoas perdeu a vida desde o final da semana passada, quando se iniciaram as celebrações da Achura, a segunda festividade mais importante no calendário religioso islâmico.