Colômbia – uma oportunidade

Ângelo Alves

Até agora Uribe insiste numa posição de manutenção do conflito

A libertação pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) de Clara Rojas e Consuelo Gonzales é um acontecimento de grande importância, quer no plano da situação político-militar na Colômbia quer do ponto de vista político mais geral, nomeadamente na América Latina.

Primeiramente porque a decisão unilateral das FARC de libertar dois dos seus prisioneiros é um inequívoco sinal da disponibilidade da guerrilha colombiana para a negociação. Uma postura que, num quadro de recusa real do regime de Uribe em negociar qualquer acordo humanitário com as FARC, revela, por parte desta organização uma genuína vontade de busca da paz e de soluções imediatas para o problema humanitário dos prisioneiros que um conflito como o colombiano sempre coloca a ambas as partes.
Assim, no momento em que muitos comemoram a liberdade de Clara e Consuelo é importante relembrar que a sua liberdade apenas foi possível devido à incansável persistência de Hugo Chavéz e à postura de abertura das FARC, apesar da política de guerra constante de Alvaro Uribe e das manobras de boicote e desinformação que o seu governo protagonizou.

Neste momento é importante lembrar algum do caminho percorrido até aqui. É importante lembrar que - à semelhança de outros momentos na história do conflito colombiano - desde o verão de 2007 que as FARC reiteraram a sua disponibilidade para um acordo humanitário mais vasto do que a libertação agora verificada das duas prisioneiras e que poderia abranger até 50 prisioneiros, nos quais se incluía Ingrid Bettencourt, em troca da libertação de guerrilheiros mantidos em cativeiro pelo exército de Uribe e da desmilitarização de zonas específicas, condição essencial à prossecução das trocas humanitárias. Uma disponibilidade da guerrilha colombiana que surgiu como resposta positiva aos esforços de mediação do Presidente Hugo Chavez e da Senadora Piedad Córdoba. Esforços esses que em 30 de Novembro sofreriam um rude golpe em virtude da decisão de Álvaro Uribe de pôr termo a essa mediação e de intensificar as operações militares contra as FARC.
Posição de boicote de Alvaro Uribe que se viria a confirmar na sequência da primeira tentativa de libertação das duas prisioneiras por alturas do Natal e Ano Novo e que, para que não restem dúvidas, fica aqui denunciada pelas palavras de Consuelo Gonzalés "No dia 21 de Dezembro começámos a caminhar até ao lugar onde nos iriam libertar (..) Neste período, tivemos que correr várias vezes porque os militares estavam muito próximos” (…) "No dia 31 soubemos que iria ocorrer uma mobilização muito grande e no momento em que estávamos para sair, houve um bombardeamento muito forte e nós tivemos que nos deslocar rapidamente para outra área" .

O futuro dirá se este acontecimento abrirá de facto uma real janela de oportunidade na resolução pacífica do conflito colombiano. Até agora Uribe insiste numa posição de manutenção do conflito esperando o impossível: ou dizimar a guerrilha colombiana ou contar com a sua rendição incondicional. Apenas quando o regime colombiano e o seu apoiante e financiador – os EUA – perceberem que a paz que o povo colombiano deseja não é a paz podre mas sim uma paz negociada, justa e duradoura é que outras janelas se poderão abrir. O Presidente Hugo Chavéz, mobilizando outros líderes políticos, nomeadamente na América Latina, deu, enfrentando descréditos, boicotes e até tentativas de ridicularizar a sua iniciativa, um importante contributo. Cabe agora ao governo de Bogotá dar um passo, que no imediato - como já o colocam abertamente Chavéz e outros líderes latino-americanos - passa obrigatoriamente pelo estabelecimento do diálogo com as FARC e com o fim da sua classificação como organização terrorista.


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