Opor-se por que sim!

Pedro Campos
A oposição venezuelana opõe-se por sistema a tudo o que proponha o governo bolivariano, independentemente do que esteja em causa. Quando se colocou a necessidade de trocar – sem custo algum para a população – as lâmpadas incandescentes por outras economizadoras de energia, a oposição opôs-se com argumentos «científicos», que circularam amplamente de boca em boca e pela Internet. Alegadamente, as lâmpadas tinham um «chip» que gravava as conversas familiares. E esse mesmo «chip» revelava quantas pessoas viviam na casa, o que permitiria ao governo saber se havia um quarto disponível, caso em que o proprietário deveria cedê-lo para que fosse ocupado por um médico cubano! Com este tipo de argumentação envenenaram boa parte da população e em muitos bairros das zonas de classe média e classe alta as juntas de condóminos impediam o acesso dos voluntários encarregues da troca. Contudo, o governo bolivariano trocou milhões de lâmpadas e hoje a maioria das casas já não têm lâmpadas incandescentes... e dos famosos «chips» ninguém fala. Por certo, esta medida ecológica está a ser seguida noutras latitudes e na Austrália, por exemplo, não se venderão lâmpadas incandescentes a partir de 2010.

Mudança de hora? Que horror!

Às três da madrugada de 9 de Dezembro, a hora legal venezuelana mudou e os relógios atrasaram meia hora. Uma situação que é normal em muitos países admirados pela oligarquia local – geralmente duas vezes por ano – ameaçou ser uma catástrofe de proporções gigantescas. A oposição opôs-se e argumentou o indizível para ridicularizar uma decisão cuja intenção é que a grande maioria da população desperte quando o sol já saiu e não que mais de metade do país, incluindo as crianças, desperte quando ainda é noite. O que se fez foi sincronizar a hora legal com a luz solar e reconhecer a relação entre os ciclos circadianos e o metabolismo humano e a sua importância para o crescimento e a actividade intelectual. Quantos artigos, e-mail e mensagens circularam contra esta medida que, para maior desastre, era de meia hora e não de uma hora completa! Esquecem estes críticos de tudo e de nada – será que realmente esquecem? – dois aspectos fundamentais do tema. Com esta mudança de hora o país regressa simplesmente à hora que havia em 1965. Nesse ano houve mudança sem escândalo, ainda que tenha obedecido ao desejo de incrementar o consumo de energia eléctrica. E no que toca ao fraccionamento da hora, não é uma veleidade bolivariana, já que são vários os países que funcionam em base a meias horas. Índia, Hawai, Canadá Este, Austrália Central, Afeganistão e Nepal são alguns exemplos facilmente comprováveis. Mas a oposição antibolivariana, que tão culta se presume, ficou terrivelmente baralhada com esta meia horazinha. Que trabalhão! Atrasar o relógio e as portáteis de última geração – state of the art, dizem os mais chiquérrrimos – só por um capricho chavista!

Nova moeda em Janeiro... outro horror!

Que grande parte da Europa passasse das velhas moedas nacionais para o euro, tudo bem. A gente pensante e branquinha acha bem, mesmo sem saber que nalguns casos as contas eram impossíveis de fazer mentalmente. Que a Venezuela faça uma reconversão monetária que divide todas as expressões monetárias entre mil, confusão das confusões. São capazes de jurar que é mais fácil falar de milhões, bilhões e trilhões do que em unidades e milhares. E isto apesar de a moeda não perder o seu nome original de bolívar. Os boatos eram de que as notas não estariam prontas a tempo e se o estivessem então não estariam prontas as moedas. Como este «argumento» ruiu, agora as críticas são outras. As novas notas, que coexistirão com as actuais pelo menos durante meio ano, são horizontais de um lado e verticais do outro. Bradaram aos céus, até que alguém lhes estragou a festa e demonstrou que essa é a nova tendência no desenho de notas. Então saíram à superfície, em milhões de e-mails e conversas de café, o machismo e o racismo. É que duas notas têm imagens inaceitáveis e nunca antes vistas. Numa há uma mulher: Luísa Cáceres, heroína da independência, que os colonialistas espanhóis prenderam e levaram à morte como represália contra o marido. E na outra, que não é a de mais baixa denominação, aparece – afronta das afrontas – a figura de um preto: Negro Primeiro, um dos heróis da independência.
Com uma oposição desta dimensão moral e intelectual, é de estranhar que se oponha sempre a qualquer medida progressista, por mais tímida que seja?


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