Isolamento, exclusão social e degradação

Reformados e idosos merecem vida digna!

A consagração pelas Nações Unidas do Dia Internacional do Idoso, a 1 de Outubro, revela a necessidade de uma preocupação acrescida com este grupo populacional dadas as suas necessidades específicas nos mais diversos âmbitos – na saúde, na habitação, na segurança social, na sua realização enquanto seres humanos em respeito pela sua dignidade e pela sua autonomia.
A garantia de uma vida digna é um direito de todos e vem expresso na Constituição da República Portuguesa, quanto à população idosa, no artigo 72.º: «As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condição de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou marginalização», incumbindo ao Estado oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade.
Ora, o cenário de actuação do Governo PS e dos seus antecessores tem sido diametralmente oposto aos seus deveres constitucionais, actuação que tem aprofundado de uma forma tão injusta quanto inaceitável, as desigualdades na sociedade, afectando com especial incidência a população idosa, e, dentro desta, as mulheres idosas.
O Avante! foi ao encontro destas pessoas e deparou com realidades, muitas delas cruéis, de extrema pobreza, de solidão, de angústia, mas também de luta, até porque há quem não pactue com as falsas ideias de solidariedade que alguns pretendem mostrar como solução para os problemas.
Falámos com eles, pessoas envelhecidas com o saber e a experiência da vida - agricultores, metalúrgicos, mineiros, donas de casa - e perguntámos-lhes sobre os seus principais problemas. De muitos obtivemos apenas um sorriso, de outros um desabafo.
O que mais os atinge, e isso é unânime, é a indiferença daqueles que estão ou estiveram no poder e não cumpriram as suas promessas.
Pelo contrário, entre outros aspectos, apostaram na manutenção de baixos valores de reformas e pensões. Os números são assustadores. Em 2007, para 403 mil reformados, o aumento diário das pensões significou valores entre os 23 e os 36 cêntimos para pensões mínimas do regime contributivo e 18 cêntimos para a pensão social. Importa recordar que, em 2006, mais de um milhão de reformados recebia pensões inferiores a 300 euros, e a pensão média para os homens era de 434,66 euros e para as mulheres de 259,76 euros.
A esta realidade acrescem os negativos impactos da desertificação de importantes regiões do País e das crescentes assimetrias regionais no agravamento das desigualdades sociais e de pobreza entre os idosos e no surgimento de novas situações de exclusão social impostas pelo encerramento de importantes serviços públicos.

PCP defende pensionistas
Comunistas reivindicam mais condições

O PCP considera que o aumento da esperança média de vida é uma conquista civilizacional que impõe novas políticas que garantam a qualidade de vida dos reformados e idosos e, neste sentido, irá continuar a intervir na defesa de políticas sociais que, a partir da acção do Estado, assumam as suas obrigações em matéria de garantia de autonomia económica e social, criando condições para a participação social e política dos reformados e idosos, pelo seu direito ao lazer e à fruição cultural e à garantia de direitos para todos, independentemente da sua condição social ou região onde vivam.
Por isso, os comunistas defendem, dentro e fora da Assembleia da República, entre outras:

a revalorização anual do conjunto das pensões e reformas como um imperioso da acção governativa, como contrapartida do esforço que os actuais reformados e pensionistas deram, no contexto da sua actividade laboral para a criação de riqueza, sendo esta o eixo decisivo para combater a pobreza entre os idosos e de promoção de uma melhor distribuição do rendmento nacional;
a equiparação da prova de rendimento do Complemento para Idosos ao regime prevista para o acesso ao Rendimento de Inserção Social, retirando-lhe a determinação de recurso do requerente com base nos rendimentos do agregado familiar;
a comparticipação a 100 por cento dos medicamentos para doenças crónicas e garantia de acesso a tratamentos específicos aumentando a sua comparticipação;
a utilização em todo o território nacional de transportes colectivos com descontos de 50 por cento nas respectivas tarifas;
a entrada gratuita em museus, património público e exposições;
o investimento e alargamento da rede pública de equipamentos sociais de apoio à população idosa, de qualidade e a preços acessíveis nomeadamente: centros de dia, lares residenciais, serviços de apoio domiciliário.


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Reconquistar direitos consagrados<br> pela Revolução de Abril

Fruto da política dos últimos governos, que acentuam as desigualdades e as injustiças, a situação social vivida pelos idosos e reformados é cada vez pior e mais preocupante. Segundo dados oficiais, 28 por cento dos idosos portugueses regista uma taxa de pobreza elevada. Para a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI) esta situação é insustentável, até porque a realização de uma vida não se esgota na vida activa, há uma dimensão de futuro que tem que ser valorizada e respeitada. Em conversa com o Avante!, Casimiro Menezes e Leonor Santa-Rita, sublinhando que é preciso retomar o espírito de luta dos reformados, acusaram o Executivo PS de ter agravado, entre outras, «a redução progressiva do valor das pensões de reforma», «o aumento dos impostos aos reformados», «o aumento do custo de vida», «as dificuldades crescentes no acesso aos cuidados de saúde, que estão cada vez mais caros».

Governos de direita arruinam Alentejo

Dos 2,5 milhões de reformados que estão inscritos na Segurança Social, cerca de dois milhões recebem uma pensão inferior ao Salário Mínimo Nacional e, destes, uma percentagem muito significativa tem uma pensão que em pouco ultrapassa os 200 euros. No distrito de Beja a situação é ainda mais grave. Segundo dados oficiais, 36,8 por cento das famílias são consideradas pobres e 12 por cento muito pobres, contra os 18,3 por cento e 4,8 por cento da média do País. Hoje, fruto da política do Governo PS, esta situação estará mais agravada. Para demonstrá-lo fomos ao coração do Alentejo e aí encontrámos duas realidades diferentes, uma agrícola, em Pias, outra mineira, em Aljustrel. Semelhanças, só mesmo as que os governos dos últimos 30 anos implementaram: cortes na saúde, falta de transportes, aumento das taxas moderadoras, encerramento de serviços públicos, entre muitas outras.

Governo PS agrava injustiça social

O número de reformados com idade inferior aos 65 anos tem vindo a aumentar na Península de Setúbal. Com a destruição do aparelho produtivo, em meados da década de 80, o grande capital e o patronato empurraram milhares de trabalhadores para o desemprego, com rescisão de contratos, reformas antecipadas, usando e abusando do sistema de Segurança Social. Entretanto, com a política ruinosa deste Governo, a situação agrava-se, levando à degradação de vida dos trabalhadores, dos reformados, dos pensionistas e dos idosos. O Executivo PS prepara-se ainda para acabar com toda a Acção Social do Estado, mandando essa responsabilidade para as autarquias, as IPSS's, com as quais muitas associações de reformados já estão hoje envolvidas. Em entrevista ao Avante! António Reizinho, José Abreu, Josélia Xavier e António Joaquim, operários qualificados, todos eles reformados, sublinharam que esta não é a democracia conquistada com o 25 de Abril de 1974, por que lutaram. É necessário que se tomem medidas que consagrem os direitos dos reformados, pensionistas e idosos num amplo e vasto movimento reivindicativo.

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