Resignada confissão

Jorge Cordeiro
A admissão por parte de Cavaco Silva da ausência de solução para alguns dos municípios do interior – testemunhada pela elucidativa expressão: «quando se ultrapassa uma certa linha é difícil fazer a inversão» – é simultaneamente uma confissão de abandono do objectivo de construção de um país coeso e desenvolvido e um libelo acusatório às políticas de direita. E, sobretudo, a admissão de um inaceitável conformismo com a desertificação e o abandono de uma significativa parte do território nacional.
É nas políticas de direita, de que foi parte activa e que hoje cauciona e aplaude no desempenho do governo do PS, que radica parte significativa dos problemas do interior do país. É no limbo da denominada «convergência estratégica», programa de acção comum para garantir a co-habitação dos projectos e objectivos de direita, que medra há muito a assumida política de abandono do interior. As dificuldades destas regiões não são separáveis das que, em resultado da falta de investimento público e de abandono do produção nacional, comprometem o desenvolvimento nacional. Mas sobre elas recai uma deliberada política de desprezo sobre quem nelas vive e procura futuro. Mais do que resignadas lamúrias o que há a observar são as razões que as justificam e as agravam: uma estratégia de encerramento de serviços públicos de escolas e unidades de saúde; a ausência de investimento público; uma lei de finanças locais destinada a comprometer e inviabilizar dezenas de municípios do interior; uma política fiscal penalizante; uma assumida opção por um modelo de país litoralizado.
O interior do país, a exemplo das dificuldades gerais do país, é em si uma acusação às políticas de direita passadas e presentes. Foi essa política que, como se sublinhou na conferência nacional do PCP, «conduziu o país ao declínio, à estagnação económica, ao retrocesso social e ao avolumar das injustiças». O direito a um futuro digno e de progresso das populações do interior dá mais actualidade à exigência de um outro rumo e de uma outra política.


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