A mim ninguém me cala!
Estava-se em plena discussão e votação final do Orçamento de Estado. Estava em causa, não é de mais dizê-lo, uma proposta do Governo PS/Sócrates que é um instrumento de classe contra os trabalhadores e o interesse nacional. Uma proposta que acentua as dificuldades dos trabalhadores e do povo ao mesmo tempo que distribui benefícios fiscais a rodos para o capital financeiro. Uma proposta que prevê alienar a patacos as principais empresas públicas, perdendo para a mão do capital nacional ou estrangeiro alavancas fundamentais da política de energia, ou de transportes.
Manuel Alegre, talvez animado pela querela da moda que opôs Chavez ao Monarca de Espanha, decidiu que era o momento de ter uma daquelas suas intervenções que avalizam a sua reputação de deputado da esquerda sem medo, a quem ninguém cala quando estão em causa princípios e valores essenciais.
Talvez Manuel Alegre tenha mesmo combinado com o seu arqui-rival, Mário Soares, garantindo, pela intervenção directa no Plenário da Assembleia da República, o código genético de esquerda do PS, que o próprio Soares defendeu em entrevista ao DN, mas, no seu tempo, se encarregou de manipular para a direita, numa operação de que as sucessivas direcções do PS nunca mais se endireitaram (salvo seja).
Bem, adiante. Manuel Alegre levanta-se, pede para usar da palavra, «O senhor Deputado pede a palavra para que efeito?», pergunta-lhe Jaime Gama, já pensando «agora que isto estava a correr tão bem, é que este se lembra de protestar. Ou vai mandar vir contra a negociata da Estradas de Portugal, ou reclamar aumentos salariais que reponham o poder de compra perdido nos últimos sete anos pelos trabalhadores da administração pública».
Manuel Alegre afina a voz, inclina todo o seu corpo perante o microfone, «senhor Presidente, sou obrigado a fazer uma interpelação, não se pode prosseguir com os trabalhos porque aqui morre-se de frio. Estamos sujeitos a uma espécie de flagelação pelo frio. Faça o favor de mandar desligar o ar condicionado porque senão não podemos continuar.»
Tendo o Presidente da Assembleia da República sido obrigado a usar de toda a sua habilidade argumentativa para aplacar a ira do revoltado deputado, prosseguiram os trabalhos e Manuel votou, com um pouco de frio, mas alegremente, a favor do Orçamento de Estado.
Mas serviu de lição. A ele, ninguém o cala.
Manuel Alegre, talvez animado pela querela da moda que opôs Chavez ao Monarca de Espanha, decidiu que era o momento de ter uma daquelas suas intervenções que avalizam a sua reputação de deputado da esquerda sem medo, a quem ninguém cala quando estão em causa princípios e valores essenciais.
Talvez Manuel Alegre tenha mesmo combinado com o seu arqui-rival, Mário Soares, garantindo, pela intervenção directa no Plenário da Assembleia da República, o código genético de esquerda do PS, que o próprio Soares defendeu em entrevista ao DN, mas, no seu tempo, se encarregou de manipular para a direita, numa operação de que as sucessivas direcções do PS nunca mais se endireitaram (salvo seja).
Bem, adiante. Manuel Alegre levanta-se, pede para usar da palavra, «O senhor Deputado pede a palavra para que efeito?», pergunta-lhe Jaime Gama, já pensando «agora que isto estava a correr tão bem, é que este se lembra de protestar. Ou vai mandar vir contra a negociata da Estradas de Portugal, ou reclamar aumentos salariais que reponham o poder de compra perdido nos últimos sete anos pelos trabalhadores da administração pública».
Manuel Alegre afina a voz, inclina todo o seu corpo perante o microfone, «senhor Presidente, sou obrigado a fazer uma interpelação, não se pode prosseguir com os trabalhos porque aqui morre-se de frio. Estamos sujeitos a uma espécie de flagelação pelo frio. Faça o favor de mandar desligar o ar condicionado porque senão não podemos continuar.»
Tendo o Presidente da Assembleia da República sido obrigado a usar de toda a sua habilidade argumentativa para aplacar a ira do revoltado deputado, prosseguiram os trabalhos e Manuel votou, com um pouco de frio, mas alegremente, a favor do Orçamento de Estado.
Mas serviu de lição. A ele, ninguém o cala.