Um estudo encomendado

Vasco Cardoso
Na segunda-feira pela manhã, o Diário de Notícias – DN - chegou às bancas exibindo na capa como título principal a seguinte afirmação: «Estudo do Estado arrasa imagem do sector público». Nada melhor do que começar a semana com mais uma baforada da bafienta tese de que serviços públicos e funcionários públicos não prestam.
Por encomenda do Instituto Nacional de Administração à Universidade Católica – dificilmente uma instituição pública de ensino superior estaria habilitada para tão «exigente» exercício -, e sob a coordenação de Roberto Carneiro, foram entrevistadas cerca de 300 pessoas, para se concluir aquilo que se queria que concluísse, e que o próprio DN fez questão de destacar – «Estado funciona pior do que o sector privado».
Dias antes, e pelo sétimo ano consecutivo, assistimos à divulgação do «Ranking das Escolas», uma trafulhice produzida na base da comparação das médias obtidas pelos alunos de cada escola em exames nacionais e que, mais uma vez, projecta a ideia de que é nas instituições privadas onde melhor se ensina e aprende. Para Novembro, a revista Sábado já fez anunciar que dará a conhecer «Os dez melhores hospitais», e não será difícil imaginar o que dali irá sair.
Claro está, que não é uma notícia que faz mudar o mundo e muito menos um «estudo» encomendado pelo governo PS a um ex-ministro PSD. Mas o que é significativo, é a continuada campanha contra os serviços e funcionários públicos, multiplicando até à exaustão mentiras que, de tantas vezes repetidas, se tornam «verdades» na boca de quem as diz e publica, e uma referência para quem as ouve e lê.
O processo de envenenamento das populações contra os serviços públicos, para mais adiante justificar a sua entrega a privados (mas continuando os mesmos a serem financiados pelo Estado), joga-se em múltiplos tabuleiros. Desde logo porque é necessário convencer milhões de pessoas que têm como adquirida a ideia de que ir ao Hospital, frequentar a Escola, passear por uma rua limpa ou simplesmente beber água, é um direito que decorre de um tipo de organização social onde cabe ao Estado garantir cada uma dessas coisas.
Daí o boicote, os encerramentos, a asfixia financeira, a retirada de direitos, a detracção e as campanhas contra a «coisa pública» em que este governo se especializou, não por maldade, mas por obediência e lealdade com o compromisso assumido com o Capital de lhe vender o país e ainda lhe pagar-mos por isso.


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