O da frente é que é o coxo

Aurélio Santos
Era, se bem me lembro, um daqueles deliciosos desenhos com que o Stwart de Carvalhais ilustrava no Diário de Lisboa as suas críticas sociais que escorregavam entre as malhas da Censura salazarista.
Numa rua de Lisboa dois indivíduos encostados à parede comentavam, à passagem de um cavalheiro de peliça e chapéu alto, fumando charuto, seguido por um pedinte andrajoso e coxo, arrimado a uma muleta:
- O da frente é que é o coxo. Mas como é muito rico, paga ao outro para coxear por ele.
Veio-me à memória esta história ao ler nestes dias a notícia da reunião em Lisboa duma conferência internacional para discutir o que chamaram «o mercado do carbono».
Traduzindo em linguagem corrente, esse mercado consiste na possibilidade de países (ou «estados» como o da Califórnia, que também esteve presente) comprarem «direitos de poluição» a outros Estados que espalhem poluição abaixo das cotas que lhes estejam atribuídas, em função dos critérios internacionais convencionados.
Quer dizer: países como os Estados Unido, que já são responsáveis por mais de 25% da poluição mundial (e Bush recusa-se a assinar o protocolo de Kioto para controlo dos efeitos de poluição) ou algumas das suas regiões (como o «estado da Califórnia», apresentado como a 12.ª potência industrial do mundo) poderão continuar a poluir, desde que paguem a Estados pobres (como o Bangla Desh, por exemplo) o direito de poluir por eles. Ao preço, evidentemente, de renunciarem ao seu desenvolvimento industrial... para não aumentarem a poluição do planeta.
Pois eu, cá por mim, continuarei a dizer:
- O da frente é que é o coxo!


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