Defesa Nacional e Forças Armadas

Isto anda tudo ligado

Rui Fernandes
O general James Jones, que completou uma comissão de quatro anos como Comandante Supremo Aliado na Europa (SACEUR) e a maior parte desse tempo como responsável das operações da NATO, esteve em Portugal há uns meses e foi condecorado pelo Presidente da República, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis.
Na ocasião, participou também num colóquio sobre «a evolução da NATO e a transformação das Forças Armadas». Neste colóquio, o general teve a oportunidade de referir que a NATO é uma aliança agora com 26 estados-membros e 20 países parceiros. De salientar que, neste âmbito das parcerias, existem duas particularmente importantes, o NATO-Ukraine Council e o NATO-Russia Council.
Deu particular importância à Conferência de Praga de 2002, a partir da qual foi definido um processo visando operacionalizar mais a NATO, tornando-a, diz o general, «mais pró-activa e menos reactiva, mais expedicionária e menos estacionária…».
Nesse seguimento, a NATO reestruturou-se, eliminou comandos desnecessários, aplicou novas tecnologias. É assim que a NATO que em 2003 só tinha presença nos Balcãs, chega a 2006 com presença no Iraque, no Afeganistão, em África, nos Balcãs e, em permanência, no mar Mediterrâneo. Para Jones, «segurança colectiva» é a palavra de ordem hoje em oposição à «defesa colectiva» de ontem. Isto é, uma Organização para a intervenção onde e quando seja necessário. E questiona, retóricamente, o general, sobre o futuro: «Qual é o papel da NATO na resposta aos desafios da segurança energética? E no combate ao narcoterrorismo? E na proliferação de armamento de destruição massiva»? E acrescenta – «A estrutura de segurança do século XXI sustenta que em cada um dos nossos países encontremos maiores simetrias entre militares e agências internas. A ligação entre a actividade militar, a reforma judicial, o alastrar dos narcóticos e da imigração ilegal e a reforma económica deve ser mais estreita no futuro, para que a nossa acção em conjunto seja mais coesa e mais eficaz».
Tal conjunto de afirmações e reflexões do general Jones confirmam, se tal fosse necessário, aquilo que o PCP tem vindo a dizer sobre o papel da NATO, a articulação estreita que existe entre as decisões e objectivos NATO e as opções tomadas em Portugal e nos restantes países da União Europeia, e onde se destaca como peça importante o «porreiro, pá» Tratado Reformador (as designações que eles inventam), para o qual afanosamente Merkel, Sócrates e Durão trabalharam. Confirma também que o reforço da dinâmica europeia no plano militar – produção de armamentos e criação de novas forças, se insere e são parte integrante das opções para consolidar uma NATO planetária, dentro do princípio das forças separáveis, mas não separadas. É a esta dinâmica que Sócrates, Menezes e o grande capital dão óssanas. E é o ministro da Defesa Severiano Teixeira, que nada se ouve dizer sobre os enormes problemas que afectam o quotidiano das forças armadas, a afirmar que «a nossa independência, a nossa credibilidade e os nossos interesses defendem-se em fronteiras de segurança que não coincidem, hoje, com as fronteiras geográficas do Estado nacional», e terminando mesmo a apelar aos portugueses para serem menos críticos relativamente à modernização das forças armadas.
Por modernização, em linguagem de ministro, devemos entender compra de armamentos e daqui decorre que, para o ministro, os portugueses não devem questionar onde são gastos os milhões dos seus impostos, não devem questionar se são adequadas ou não as opções tomadas. Importa então dizer que é contra este rumo e estas opções que prosseguiremos reforçadamente a luta.


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