Violência neonazi alastra na Alemanha

Tolerância cúmplice

Face à escalada de crimes graves de cariz racista, os sociais-democratas alemães voltam a insistir na necessidade de ilegalizar o Partido Nacional Democrático (NPD), principal formação neonazi no país.

Proibição dos neonazis não reúne consenso na «Grande Coligação»

O debate sobre a ilegalização do NPD recomeçou na passada semana na sequência do ataque de neonazis durante uma festa popular na localidade de Mugeln, na Saxónia (leste).
Oito indianos foram atacados e feridos por meia centena de jovens que permaneceram no local proferindo insultos xenófobos. Centenas de pessoas aterrorizadas assistiram às bárbaras agressões praticamente sem reacção. A polícia só chegou ao local meia hora após o início dos incidentes em que também foram feridos seis alemães, dois dos quais polícias.
No fim-de-semana, acções semelhantes foram assinaladas noutros locais do país. Na cidade de Magdeburgo, no estado de Saxónia-Anhalt (centro-leste), um iraquiano foi espancado por um neonazi com taco de basebol. Em Bützow, estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (Noroeste), um bando de 40 neonazis destruíram uma loja paquistanesa.
Quase diariamente a polícia regista actos de violência contra minorias étnicas. Segundo dados citados pelo diário espanhol El País (27.08), as autoridades tomaram nota de 726 agressões racistas e 12 248 delitos praticados em 2006 com a marca ideológica da ultra-direita.
Estranhamente ou não, as forças da ordem quase nunca intervêm a tempo e os representantes públicos limitam-se a fazer declarações em tom pretensamente moralizador, lembrando os danos que estes actos causam «à imagem da Alemanha no estrangeiro», como foi o caso, na semana passada, de Wolfgang Thierse, vice-presidente do parlamento alemão eleito pelo SPD.
E mesmo a necessidade de proceder à ilegalização dos partidos neonazis, reclamada nos últimos dias por Kurt Beck, presidente dos sociais-democratas, não encontrou eco nos cristãos-democratas (CDU), seus parceiros de coligação no governo.
Hipocritamente, os conservadores manifestam reservas quanto à eficácia da medida, evitando abrir um processo que voltaria a expor os meandros secretos que ligam os nazis ao Estado alemão.

Laços promíscuos

Estas ligações, como recorda o citado diário espanhol, tiveram ampla divulgação em 2003, quando uma iniciativa parlamentar e governamental que visava a proibição foi escandalosamente chumbada pelo Tribunal Constitucional.
Na altura, ficou provado que uma parte considerável da direcção do NPD trabalhava para os serviços secretos internos. Porém, em vez de condenarem este relacionamento promíscuo, os magistrados entenderam que a infiltração dos agentes do Estado era algo de positivo já que lhes permitia influenciar as decisões do partido e induzir os seus membros a actuar em conformidade com a lei.
Beneficiando da tolerância cúmplice das autoridades, o NPD continua a reforçar as suas fileiras, onde se contam perto de sete mil filiados, e ganha expressão eleitoral nalguns estados, designadamente em Mecklemburgo-Pomerânia e na Saxónia, em cujos parlamentos regionais está hoje representado.
Para além do NPD, a União Popular Alemã (DVU), outra formação neonazi, está igualmente presente nos parlamentos de Brandeburgo (Leste) e de Breme (Oeste).

Frattini apoia ilegalização

Entretanto, no domingo, 26, o vice-presidente da Comissão Europeia, o italiano Franco Frattini, defendeu uma interdição do NPD: «Se um dia a Alemanha proibir o NPD, felicitarei vivamente a decisão» porque os neo-nazis representam «uma ameaça» e são «uma úlcera cancerosa para os países democráticos como a Alemanha», declarou o responsável europeu em entrevista ao jornal Bild am Sonntag.
«A xenofobia e o extremismo de direita aumentam por toda a parte na Europa», mas a Alemanha encontra-se «entre os cinco países que nos preocupam mais, tal como a França, a Bélgica, a Dinamarca e, infelizmente, também a minha pátria, a Itália», refere Frattini, que integrou durante vários anos os governos de direita de Sílvio Berlusconi.


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