A Alemanha afunda-se no Afeganistão

Rui Paz

Uma avalanche de desemprego e de miséria abate-se sobre os trabalhadores

No Afeganistão, sucedem-se as baixas alemãs de soldados e de forças de segurança, de civis ao serviço de firmas estrangeiras ou de cooperantes das chamadas organizações «humanitárias». Depois da morte recente de vários soldados da Bundeswehr no norte do país, seguiu-se poucos dias depois um ataque em Cabul no qual foram abatidos vários agentes de segurança de Berlim, entre eles um ex-guarda-costas da chanceler Ângela Merkel. Para conter o repúdio do povo alemão à intervenção militar no Afeganistão, o Governo em Berlim invocava até há pouco tempo que a presença da Bundeswehr no «Hindukusch» se limitava a assegurar tarefas de reconstrução de um país devastado pela guerra. Com a entrada em acção no início deste ano dos aviões da força aérea «tornado» como suporte dos ataques das tropas da NATO, a situação tornou-se cada vez mais perigosa para os membros militares e civis do aparelho de ocupação alemão.

No telejornal de sábado do 2° canal da TV (18.08.07), o correspondente da ZDF, Ulrich Tilgner, confirmou que mesmo em Cabul «a situação agrava-se muito rapidamente». Se Karsai dispõe de um corpo de segurança privado, pago a peso de ouro, em que cada elemento aufere diariamente 900 a 1000 euros, o mesmo não se pode dizer dos restantes membros do aparelho de ocupação estrangeira, obrigados a arriscar a vida pela Siemens e por outros monopólios internacionais. Como já constatava em 1915, a propósito das guerras imperialistas, a revolucionária e comunista alemã, Clara Zetkin, cujos 150 anos do nascimento agora se celebram, «o objectivo da guerra não é a defesa da pátria mas o seu alargamento» pois «é assim que determina a ordem capitalista, uma vez que sem a exploração do homem pelo homem esta ordem não pode existir» (Clara Zetkin e a luta das mulheres, edicções avante, 2007)

Desde que a chanceler Ângela Merkel iniciou a governação em Berlim, e decidiu inaugurar a presidência alemã da UE visitando Bush e declarando que «os nossos sistemas económicos baseiam-se nos mesmo valores», os governos da União Europeia, de maioria socialista ou conservadora, alinham cada vez mais com os Estados Unidos. Os mitos de que a União Europeia se destinava a fazer frente aos Estados Unidos e a criar uma «Europa social» ou a tal «sociedade civil» estão a ruir no Afeganistão e noutros pontos do globo onde as intervenções militares se multiplicam. Uma avalanche de desemprego e de miséria abate-se sobre os trabalhadores e as camadas médias nas metrópoles europeias. Só na Alemanha, mais de 2 milhões de crianças vivem numa situação de pobreza como resultado da «agenda 2010» do chanceler Schröder. Os 180 aviões «eurofighter» encomendados pelo Governo alemão custam 21 mil milhões de euros, o que seria suficiente para se construir 250 mil habitações. Com o preço dos 60 aviões de transporte militar Airbus (8,3 mil milhões) seria possível edificar 572 grandes escolas profissionais.

Num momento em que, em Portugal é cada vez mais claro, o papel da social-democracia e do Partido Socialista de Sócrates na condução do comboio do militarismo e do imperialismo,
é necessário recordar que o PCP foi o único partido que ao longo da noite fascista sempre avisou que «não pode ser livre um povo que oprime outros povos».


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