A cartilha
Desde Setembro de 2004, altura em que Dalila Rodrigues assumiu a direcção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), duplicaram as visitas ao que é considerado o mais importante museu do País, ao mesmo tempo que as contas de 2006, de acordo com as notícias vindas a público, registaram uma evolução nada despicienda: dos 250 mil euros arrecadados em 2003 passou-se para mais de um milhão de euros no ano passado.
Dir-se-ia, em qualquer lugar do mundo, que a directora estava de parabéns e que o País tinha motivos para se congratular pelos resultados obtidos, pelo que o Governo – a começar pela ministra da Cultura, de momento Isabel Pires de Lima, a quem cabe a nomeação do director do MNAA – só tinha de fazer votos para que o sucesso continuasse ou, no mínimo, fazer o favor de não atrapalhar.
Sucede, porém, que o Governo português é muito sui generis, pelo que a um mês de terminar a sua comissão de serviço Dalila Rodrigues foi chamada ao director do Instituto dos Museus e Conservação (IMC), Manuel Bairrão Oleiro, não para apresentar a programação do MNAA para 2008, que levava consigo, mas para ser sumariamente informada de que iria ser substituída. O motivo? Dalila Rodrigues discorda do modelo de gestão definido pelo ICM, o que não a tendo impedido de obter bons resultados parece ser sobremaneira incómodo para a tutela.
Confrontado com a pergunta se se estava perante mais um delito de opinião, Oleiro negou categoricamente. A futura ex-directora do MNAA sempre disse o que quis, garantiu ao Expresso, acrescentando de seguida que a senhora «tem é de perceber que o que defendeu não foi aceite pela tutela». Traduzindo, a senhora foi dispensada.
Só mentes perversas poderão ver nesta medida proposta por Oleiro e sancionada pela ministra da Cultura um resquício que seja de censura. Deve ser o meu caso, pois lá do fundo da memória saltou-me a lembrança das sempre didácticas «conversas em família» de Marcelo Caetano, explicando ao povo a essência da sua democracia: ninguém era impedido de pensar o que muito bem entendesse... desde que estivesse calado. Pelos vistos, há por aí quem leia pela mesma cartilha.
Dir-se-ia, em qualquer lugar do mundo, que a directora estava de parabéns e que o País tinha motivos para se congratular pelos resultados obtidos, pelo que o Governo – a começar pela ministra da Cultura, de momento Isabel Pires de Lima, a quem cabe a nomeação do director do MNAA – só tinha de fazer votos para que o sucesso continuasse ou, no mínimo, fazer o favor de não atrapalhar.
Sucede, porém, que o Governo português é muito sui generis, pelo que a um mês de terminar a sua comissão de serviço Dalila Rodrigues foi chamada ao director do Instituto dos Museus e Conservação (IMC), Manuel Bairrão Oleiro, não para apresentar a programação do MNAA para 2008, que levava consigo, mas para ser sumariamente informada de que iria ser substituída. O motivo? Dalila Rodrigues discorda do modelo de gestão definido pelo ICM, o que não a tendo impedido de obter bons resultados parece ser sobremaneira incómodo para a tutela.
Confrontado com a pergunta se se estava perante mais um delito de opinião, Oleiro negou categoricamente. A futura ex-directora do MNAA sempre disse o que quis, garantiu ao Expresso, acrescentando de seguida que a senhora «tem é de perceber que o que defendeu não foi aceite pela tutela». Traduzindo, a senhora foi dispensada.
Só mentes perversas poderão ver nesta medida proposta por Oleiro e sancionada pela ministra da Cultura um resquício que seja de censura. Deve ser o meu caso, pois lá do fundo da memória saltou-me a lembrança das sempre didácticas «conversas em família» de Marcelo Caetano, explicando ao povo a essência da sua democracia: ninguém era impedido de pensar o que muito bem entendesse... desde que estivesse calado. Pelos vistos, há por aí quem leia pela mesma cartilha.