Profissão: bufo

José Casanova
Estou em crer que Sócrates já cumpriu a promessa de criar 150 mil novos postos de trabalho. E se estou em crer bem, a não publicitação do êxito deve-se ao facto de estes novos profissionais pertencerem a uma categoria ainda não oficializada publicamente. Com efeito, a designação profissão: bufo não é, ainda, parte explícita do currículo dos muitos e muitas que à dita profissão se entregam de corpo e alma. Mas lá chegará: a política de direita, ao serviço da qual os bufos bufam, disso se encarregará.
Bufo, não é profissão agora nascida por efeito do sopro de modernidade que percorre Portugal. No tempo do fascismo, dezenas de milhares de bufos faziam chegar a quem de direito o relato pormenorizado de acções, palavras, ditos, intenções, pensamentos… de colegas de trabalho, de conhecidos de vista e de café, de vizinhos, até de familiares - por que não?: era a Pátria que estava em causa e o Chefe não se cansava de alertar para os mui perigosos perigos que sobre ela pesavam, de entre os quais avultava, como ele amiúde sibilava, «o sinistro evangelho marxista-leninista». E tão importante era essa prática, que o regime defendia a identidade dos bufos, atribuindo a cada um deles um nome de código.
Eram assim, então, os bufos do fascismo.
E como são os bufos de hoje, seus descendentes e continuadores? Esclareça-se, em primeiro lugar, que não nasceram com este Governo: são filhos da política de direita iniciada por Soares e prosseguida, de então para cá, por todos os governos - de Cavaco a Barroso, de Guterres a Sócrates. De resto, são bufos... e, como tal, bufam o que for necessário sobre quem for necessário. Igualmente devotados à Pátria, em tudo imitam a actuação dos seus antepassados e, como eles, estão disponíveis para: o que for preciso, V.Exa. manda. E esperam: pela recompensa.
A diferença entre os bufos do fascismo e os da política de direita é que estes, em muitos casos, ostentam a sua condição de bufos, vêm a público anunciar-se a bem da nação.
Da obra da política de direita, o bufo emerge como produto acabado. E é jóia da coroa e imagem de marca do Governo de Sócrates.


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