Avatares ainda vá, mas camelos...
O Second Life (SL), um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano, cujo «slogan» é «Your world, your imagination» (O teu mundo, a tua imaginação), existe desde 2003 e conta com cerca de seis milhões de aderentes em todo o mundo. Em Portugal, o SL começa a ser conhecido graças à iniciativa de algumas universidades, designadamente no Norte do País.
A primeira conferência nacional sobre o Second Life realizou-se a semana passada, na Universidade de Aveiro (UA), e contou com a participação da vice-presidente do SL, Robin Harper, para quem a principal vantagem dos mundos virtuais radica no facto destes nos darem a oportunidade de «contar a nossa história» sem inibições, de forma a «fortalecer as nossas capacidades, mapeando o futuro da nossa sociedade».
Para falar com franqueza, não percebo por que motivo o second life – «segunda vida», em inglês, podendo ser também interpretado como uma vida virtual para além da vida «real» –, está excitar o mundo académico a ponto de o levar a abrir os cordões à bolsa para comprar ilhas virtuais (a UA pagou cerca de 3 mil euros pela sua ilha no SL). Se o objectivo é levar a cabo experiências no mundo virtual, bastaria aos investigadores meterem-se no comboio e rumarem à quinta dimensão a Sul do Tejo, também conhecida por distrito de Setúbal, mais recentemente baptizada de «deserto», onde reside cerca de oito por cento da população portuguesa.
Passado o Tejo – se os terroristas não dinamitarem as pontes, seguindo a sugestão de Almeida Santos –, poderiam tentar descobrir, por exemplo, como funcionam as 735 escolas, as 12 universidades, os 13 tribunais e os seis hospitais existentes nos concelhos virtuais da Península de Setúbal, e testar a validade (ou será virtualidade?) dos cursos, justiça e cuidados de saúde aí ministrados. Não menos interessante seria estudar a qualidade de vida, ou falta dela, das crianças nascidas na quinta dimensão, e tentar perceber como é que centenas de milhares de avatares – os nossos «eus» virtuais – se materializam todos os dias ao cruzar o rio, não para assombrar o ministro Mário Lino mas para trabalhar na dura realidade da margem Norte. Mas é bom que os investigadores se despachem, pois ao que consta grassa revolta da gorda na outra banda, cujas consequências são imprevisíveis. É que nem mesmo os avatares gostam de ser tratados como camelos.
A primeira conferência nacional sobre o Second Life realizou-se a semana passada, na Universidade de Aveiro (UA), e contou com a participação da vice-presidente do SL, Robin Harper, para quem a principal vantagem dos mundos virtuais radica no facto destes nos darem a oportunidade de «contar a nossa história» sem inibições, de forma a «fortalecer as nossas capacidades, mapeando o futuro da nossa sociedade».
Para falar com franqueza, não percebo por que motivo o second life – «segunda vida», em inglês, podendo ser também interpretado como uma vida virtual para além da vida «real» –, está excitar o mundo académico a ponto de o levar a abrir os cordões à bolsa para comprar ilhas virtuais (a UA pagou cerca de 3 mil euros pela sua ilha no SL). Se o objectivo é levar a cabo experiências no mundo virtual, bastaria aos investigadores meterem-se no comboio e rumarem à quinta dimensão a Sul do Tejo, também conhecida por distrito de Setúbal, mais recentemente baptizada de «deserto», onde reside cerca de oito por cento da população portuguesa.
Passado o Tejo – se os terroristas não dinamitarem as pontes, seguindo a sugestão de Almeida Santos –, poderiam tentar descobrir, por exemplo, como funcionam as 735 escolas, as 12 universidades, os 13 tribunais e os seis hospitais existentes nos concelhos virtuais da Península de Setúbal, e testar a validade (ou será virtualidade?) dos cursos, justiça e cuidados de saúde aí ministrados. Não menos interessante seria estudar a qualidade de vida, ou falta dela, das crianças nascidas na quinta dimensão, e tentar perceber como é que centenas de milhares de avatares – os nossos «eus» virtuais – se materializam todos os dias ao cruzar o rio, não para assombrar o ministro Mário Lino mas para trabalhar na dura realidade da margem Norte. Mas é bom que os investigadores se despachem, pois ao que consta grassa revolta da gorda na outra banda, cujas consequências são imprevisíveis. É que nem mesmo os avatares gostam de ser tratados como camelos.