Margem Sul

Dignidade, luta e progresso, contra o insulto do PS

Francisco Lopes
O PS com as declarações de Mário Lino e Almeida Santos insultou e desvalorizou a Península de Setúbal, o conjunto do distrito e as terras a sul do Tejo, numa demonstração de arrogância de poder, indissociável de uma política de classe contra os trabalhadores, desprezo pelas populações e oposição ao desenvolvimento equilibrado do País.

Longe de ser um deserto, a margem sul tem pujança e identidade próprias

O Ministro das Obras Públicas Mário Lino, para justificar a instalação do novo aeroporto na OTA, afirmou que a Margem Sul é «um deserto, «onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades, onde não há indústria, onde não há comércio, onde não há hotéis». Acrescentou mesmo que a construção de um aeroporto na Península de Setúbal exigiria a deslocação de milhões de pessoas. Vá-se lá saber que concepção tem o ministro das Obras Públicas e dos Transportes do que é um aeroporto.
Tudo isto revela uma enorme imponderação e ignorância, mas significa acima de tudo um inadmissível insulto e desconsideração para a população, as autarquias, todos aqueles que fazem da Península de Setúbal, com os seus mais de 750 mil habitantes, uma das regiões mais desenvolvidas do País.
Já era suficientemente grave, mas o PS não ficou por aqui. Almeida Santos, Presidente do PS, falando como porta-voz do seu partido, visando minimizar o significado das afirmações de Mário Lino, veio dizer que o novo aeroporto não poderia ser construído a sul do Tejo porque haveria o risco de ficar isolado da cidade de Lisboa pelo efeito de uma eventual acção terrorista que poderia «dinamitar uma ponte».
Regista-se que a ameaça de atentados terroristas serve para justificar tudo, no entanto, mesmo para quem se socorre destes argumentos, é preciso bastante ligeireza para não ver que essa eventual ameaça também se poderá dirigir sobre o próprio aeroporto independentemente do sítio onde se situe ou sobre os viadutos de auto-estrada que lhe dêem acesso.
O que no fundo se revela é a cada vez maior dificuldade do Governo em justificar a sua opção de instalar o novo aeroporto na OTA e de recusar aprofundar o estudo de alternativas no leste da Península de Setúbal, que aparecem referenciadas por muitos técnicos como mais vantajosas para o País.
Mas a principal consequência desta declaração de Almeida Santos a ser levada em conta seria a consideração do Tejo como uma barreira a sul, da qual se desencorajaria qualquer investimento significativo em sectores estratégicos e poderia levar mesmo à reavaliação dos existentes. Afinal, o que sobressai é uma concepção de garrote ao desenvolvimento e de acentuação dos desequilíbrios existentes que é necessário combater.
É demais. Razão têm os trabalhadores, a população, os órgãos do poder local para se sentirem profundamente atingidos na sua dignidade, para fazerem ouvir a sua voz de protesto e exigência de progresso da região. O PCP acompanha-os no protesto e nessa exigência de um futuro melhor.

Problemas agravados pelo PS

O PS cujos dirigentes fazem declarações que dão uma má imagem e desvalorizam a realidade de Setúbal, é o mesmo partido que, prosseguindo a política de direita do PSD e do CDS/PP, é responsável pelo agravamento dos problemas e pela falta de resposta a questões essenciais.
O Governo PS desenvolve uma política que fragiliza o aparelho produtivo, trava o desenvolvimento económico, estrangula as pequenas e médias empresas, aumenta o desemprego e a precariedade, viola os direitos dos trabalhadores, reduz o poder de compra e alarga a pobreza que afecta particularmente uma grande parte dos reformados. O Governo PS encerra serviços de saúde (SAP e SADU), não resolve a grande carência de médicos e enfermeiros, atrasa o reforço da rede hospitalar e não ataca a insuficiência da rede de transportes e acessibilidades. O Governo PS tem uma elevada responsabilidade no acentuado corte do investimento público da Administração Central, traduzido numa redução, para o distrito, de 171 milhões de euros, 60 porcento em termos reais, entre 2002 e 2006, e pela política de atrofiamento das receitas das autarquias.
A situação exige respostas urgentes a questões da maior importância como a terceira travessia do Tejo rodo-ferroviária ligando Chelas e Barreiro, o fecho do anel do Metropolitano Sul do Tejo, a Circular Regional Interna da Península de Setúbal, o IC 33 e o IP8.
Apesar das consequências de uma política governamental negativa, a vitalidade da luta dos trabalhadores e das populações e uma intervenção altamente positiva do poder local democrático em que os comunistas têm um papel determinante, conseguiram grandes avanços, um índice de qualidade de vida dos mais elevados do País a que se juntam potencialidades essenciais a qualquer projecto de desenvolvimento nacional.

A realidade

Bem ao contrário desse deserto que povoa a cabeça do Ministro Mário Lino, a Margem Sul existe com pujança e identidade própria. Desde logo possui uma importante base industrial, um grande potencial para a produção energética, características naturais que lhe permitem dispor de três dos quatro principais portos nacionais e reais capacidades na agricultura, nas pescas e na aquicultura.
Beneficia de níveis elevados designadamente nos domínios ambiental, social, associativo, cultural, educativo, da investigação e inovação, do desporto e do ordenamento do território, de um importante grau de cobertura de infra-estruturas básicas a que se associa uma rede digital de tecnologias da informação.
Conta com trabalhadores portadores de uma vasta experiência na actividade produtiva e uma significativa população jovem.
Integra um potencial muito vasto que lhe advém da ligação ao mar, de dois dos mais importantes estuários (Tejo e Sado), de um amplo conjunto de áreas protegidas com destaque para a Serra da Arrábida, de uma frente de praias excepcional e de importantes perspectivas para a actividade turística.
Tudo isto configura um distrito ímpar nas suas condições e potencialidades que só a cegueira do Governo PS parece não querer ver.

Plano integrado

O PCP não desiste, não se resigna a uma realidade em que são desperdiçadas as potencialidades do distrito e marca a diferença. Enquanto o PS se assume como força contrária ao desenvolvimento da região e desconsidera a população, o PCP, prosseguindo uma experiência em muitos casos única no País em que as autarquias e as associações de municípios se empenharam numa visão global de desenvolvimento, lançou publicamente, no dia 19 de Maio, a elaboração do contributo para um plano integrado de desenvolvimento do distrito de Setúbal.
Inserida na Conferência Nacional do PCP sobre as questões económicas e sociais e tendo em conta a Península de Setúbal e o Litoral Alentejano, esta iniciativa visa o objectivo de um desenvolvimento integrado abrangendo as dimensões económica, social, ambiental e cultural.
Uma concepção que tem o Tejo e o seu magnífico estuário como elemento de união numa grande cidade de duas margens, que una Lisboa com as cidades ribeirinhas da Península de Setúbal e se abra à cooperação com o Sul.
Setúbal – o distrito, a península, a Margem Sul – é terra de gente com uma cultura e identidade próprias, junção de culturas de muitos pontos do País e do mundo, caldeada pela acção do movimento operário e popular, pelo valor do trabalho, da luta, da solidariedade e do associativismo. Gente que preza a dignidade, valoriza as suas conquistas e avanços, combate as injustiças, age por uma vida melhor. Gente que conta como sempre com a acção, a iniciativa, a proposta, o projecto e a luta do Partido Comunista Português, com cuja história a sua vida se entrelaça.


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