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Ângelo Alves

Há que criar um Mundo distinto que se distancie cada dia mais do Mundo capitalista

À data da redacção deste texto uma já tinha terminado, a outra iria iniciar-se no dia seguinte. Falamos de duas cimeiras que apesar de quase coincidirem no tempo e de serem realizadas a uns «escassos» 3200 Km de distância estão nos antípodas políticos.

Em Barquisimeto, a cidade conhecida como a capital musical da Venezuela, realizou-se a V Cimeira da Alternativa Bolivariana das Américas (ALBA) - um projecto lançado em 2004 pelos estados cubano e venezuelano em resposta à tentativa de imposição da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) por parte dos EUA e ao qual se juntou entretanto a Bolívia e a Nicarágua. Nesta V Cimeira da ALBA, e confirmando a importância e impacto crescentes deste projecto, participaram, além de Hugo Chavéz, Carlos Lage, Evo Morales e Daniel Ortega vários líderes políticos do Haiti, Equador, Uruguai e de outros países do Caribe oriental. Esta cimeira, as suas conclusões e o facto de ter tido pontos de contacto com movimentos e organizações sociais destes países que entretanto se reuniam numa cidade vizinha, respirou esperança e vigor. Dela saiu a reafirmação da necessidade do aprofundamento da integração entre os países da região, baseada na solidariedade e na construção da ALBA como aliança estratégica para o desenvolvimento que simultaneamente se afirma como um espaço geo-político de carácter progressista. A prová-lo estão as várias decisões tomadas, das quais se destacam o pacto energético bolivariano que procurará cobrir todas as necessidades energéticas dos países membros da ALBA e um projecto apelidado de «Gran Nacional» (em oposição ao conceito «Transnacional») que inclui acordos de cooperação para o desenvolvimento nas áreas da educação, saúde, meio-ambiente, segurança alimentar, entre outros. As palavras do Presidente Chavéz na sessão de abertura elucidam bem os princípios que presidem ao projecto: «Aqui todos somos iguais. Não há um país por cima de outro, independentemente dos nossos tamanhos (...) há que criar um Mundo distinto que se distancie cada dia mais do Mundo capitalista de miséria e dominação».

Em Washington a «música» é outra e o tom é de arrogância. Aí estarão reunidos George W.Bush, Durão Barroso; Javier Solana e Angela Merkel, os «maestros» do relançamento do eixo transatlântico. Uma cimeira que é apresentada como essencialmente económica e que - na sequência das declarações de Bush e de Merkel, recordando o peso avassalador das quotas de mercado conjuntas dos EUA e da União Europeia – criará o «Conselho Económico Transatlântico», mais um espaço de coordenação do grande capital europeu e norte-americano que visa garantir a hegemonia económica das grandes multinacionais europeias e dos EUA. Mas esta cimeira não se limitará a construir uma nova barricada do grande capital contra os interesses dos povos. Em cima da mesa estarão assuntos como o Irão, o Kosovo, o Darfur e o Afeganistão - ou seja mais ameaças, mais intervencionismo militar, mais guerra e desestabilização nestes países - ou ainda a renovada corrida aos armamentos protagonizada pelos EUA com a instalação do sistema de defesa anti-míssil na Europa ao qual os países europeus membros da NATO já deram o seu acordo, demonstrando assim mais uma vez o actual rumo militarista da União Europeia. De fora ficarão porventura questões como o muro de Bagdad, a edificação fascista de Bush no Iraque ou a libertação do «amigo» terrorista, Posada Carrilles, uma vez que não carecem de maior entendimento comum, ele já existe.

São de facto duas cimeiras muito diferentes: nas políticas, nos actores, e sobretudo naquilo que dizem aos povos. Em Washington a «música» é triste, desinteressante e sombria. Na capital musical da Venezuela foi viva, intensa, alegre e carregada de esperança. À segunda os povos vão dar atenção e... aumentar o volume.


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