Eleições na Irlanda do Norte

Partilhar o poder

Nove anos após os acordos de paz, os irlandeses reforçaram o apoio eleitoral dos dois principais partidos – o Sinn Fein (republicano e católico) e o Partido Unionista Democrático (DUP, protestante).

A formação de um governo partilhado depende da vontade dos unionistas

Os resultados finais das eleições realizadas dia 7, às quais se apresentaram 250 candidatos, só foram conhecidos depois de uma laboriosa contagem dos votos que se estendeu por 48 horas. O veredicto dos irlandeses confirmou a tendência de crescimento do DUP, liderado pelo pastor unionista Ian Paisley, e do Sinn Fein, que apresentou como cabeça de lista Martin McGuinness (ver caixa com resultados).
Mas mais do que um sufrágio para a Assembleia (cujos deputados eleitos pela primeira vez em 2003 nunca chegaram a exercer funções), as eleições da passada semana são vistas como uma espécie de referendo popular aos acordos de 13 de Novembro de 2006, em Saint Andrews, na Escócia.
Esta iniciativa, dinamizada pelos governos de Londres e Dublin, propunha-se atingir o restabelecimento das instituições do Ulster e a formação de um governo partilhado entre as duas partes em conflito: unionistas e republicanos. Uns exigindo a integração na Grã-Bretanha, os outros o fim da colonização e a reunificação da Irlanda.
Estas duas posições antagónicas, que estão no âmago de uma longa guerra civil de três décadas com milhares de vítimas, foram até hoje um obstáculo intransponível no alcance da conciliação e necessária co-existência.
Depois dos chamados acordos de «sexta-feira santa», em 1998, várias tentativas de entendimento fracassaram. Para trás ficaram sem efeito dois actos eleitorais e muitas golpaças em que britânicos e unionistas foram cúmplices no torpedeamento de soluções justas e aceitáveis.
Recorde-se, como exemplo, o afastamento do Sinn Fein de responsabilidades governamentais, em Outubro 2002, acusado por Londres de fazer espionagem a favor do Exército Republicano Irlandês (IRA).
Na altura, o «escândalo» foi habilmente utilizado pelos unionistas que ameaçaram demitir-se em bloco do governo partilhado, acabando por provocar a suspensão sine die das instituições e o congelamento do processo de autonomia.
Contudo, como se veio a provar em Dezembro de 2005, com a confissão de Denis Donaldson, espião britânico infiltrado no Sinn Fein, o caso da rede de espionagem do IRA constituiu «uma montagem dos serviços secretos britânicos» destinada a impedir a participação dos republicanos na governação da Irlanda do Norte.

Desfecho próximo?

Agora, depois de o IRA ter deposto as armas, em Julho de 2005, e de o Sinn Fein ter reconhecido a polícia do Ulster, o ultimato britânico é para a constituição de um governo partilhado no Ulster, até ao próximo dia 26, data em que a Assembleia iniciará funções. Caso as partes não cheguem a acordo tudo voltará à estaca inicial e Londres ameaça eternizar a administração directa sobre o território.
A vontade dos dirigentes republicanos é clara: «Não há qualquer equívoco – o Sinn Fein está preparado para formar governo e não vê razão para que este não se constitua até 26 de Março», afirmou Martin MacGuinness, que deverá assumir o cargo de vice-primeiro-ministro no futuro executivo.
Quanto aos unionistas do DUP, partido vencedor das eleições, a ambiguidade continua a marcar as suas declarações públicas. Ninguém sabe ao certo o que Ian Paisaly irá fazer. Este «grande mistério da política irlandesa», como sublinhou Gerry Adams, líder do Sinn Fein, «será desvendado até 26 de Março. E espero que a resposta seja sim».

Resultados finais

O DUP (Partido Democrático Unionista) conseguiu 36 dos 108 lugares da Assembleia Regional (mais seis do que nas eleições de 2003), enquanto que o Sinn Fein obteve 28, reforçando a sua representação parlamentar com mais quatro eleitos.
Pelo contrário, os pequenos partidos perderam influência. Do lado unionista e protestante, o UUP (Partido Unionista do Ulster), de Reg Empey, ficou-se pelos 18 lugares perdendo nove. Do lado republicano e católico, o SDLP (Partido Social-Democrata Trabalhista). de Mark Durkan, elegeu 16 deputados perdendo dois.
A Aliança, a única formação interconfissional, ganhou um deputado somando sete eleitos ao todo. Seguem-se o estreante Partido Verde, com um deputado, o Partido Progressista Unionista (PUP, protestante), ligado aos paramilitares da Força de Voluntários do Ulster (UVF), também com um deputado, e por fim o candidato independente Kieran Deeny.


Mais artigos de: Europa

Obsessão revanchista

A direita polaca, no poder, lançou uma nova ofensiva anticomunista para branquear o fascismo e a apagar o nome dos que o combateram sacrificando a própria vida.

Nivelamento por baixo

A pretexto de acabar com as disparidades salariais entre homens e mulheres na administração pública, o Governo de Tony Blair pretende impor, já a partir de 1 de Abril, reduções nos vencimentos dos funcionários masculinos que podem atingir os 40 por cento.

Dois meses de greves contra reforma educativa

O parlamento grego aprovou na semana passada, dia 8, o contestado projecto de reforma da educação, contra o qual, estudantes e professores estão em luta há mais de dois meses.O dia da votação ficou marcado por uma poderosa manifestação, em Atenas, com mais de 20 mil jovens de todo o país. Já frente à assembleia dos...

A Primavera do capital

Com os olhos postos na declaração de Berlim do próximo dia 25 de Marco (no 50. Aniversário do Tratado de Roma que instituiu a Comunidade Económica Europeia), realizou-se a 8 e 9 de Março o chamado Conselho Europeu da Primavera. Da agenda da cimeira constava, como tema principal, a Estratégia de Lisboa, ou seja,...