O «antidemocrático»
«É antidemocrático!», decretou o ministro da Saúde, Correia de Campos, para classificar a manifestação de mais de mil pessoas que, na manhã do passado domingo, cortou o trânsito na ponte internacional entre Valença e Tui (Galiza), em protesto contra o encerramento da urgência local decidida no quadro da sua já famosa «reforma» que pretende extinguir 15 serviços de urgência em todo o País.
Horas antes, o presidente da Câmara de Valença, o dirigente do PS José Luís Serra, conseguira desmobilizar o protesto e reabrir o trânsito na ponte garantindo aos manifestantes que «o senhor ministro com certeza que vai registar este protesto».
Registou. Classificando-o de «antidemocrático», além de lhe chamar «um estardalhaço» que «não compreendia», pois o processo de reorganização das urgências «ainda não estava concluído» (embora o tivesse anunciado como «definitivo») e ele, ministro, até tivera «uma conversa cordial» com o presidente da Câmara.
Tão cordial, que este se demitiu logo de seguida de membro dos órgãos nacionais e distritais do PS, antes de integrar os protestos da população que desembocaram no corte da ponte internacional de Valença...
Os desmandos deste governante, na sua operação de «desmantelamento democrático» do Serviço Nacional de Saúde (SNS), já transbordam e causam estragos imprevidentes em território eleitoral do partido que o sustenta, ao mesmo tempo que a estudada «frontalidade» com que Correia de Campos julga compor uma imagem de governante decidido, já resvalou para a arrogância atrabiliária que pulsa na sua natureza - para não o acusar (para já...) de outras coisas menos simpáticas e algo mais sérias que a irascibilidade incontinente.
Daí que a inacreditável classificação de «antidemocrático» aplicada por Correia de Campos a uma manifestação devidamente organizada, com mais de mil pessoas, numa cidade de província até por acaso com escasso historial de protestos cívicos, não foi mera desatenção ou deslize acidental: integra-se no mesmo comportamento que há dias, nas jornadas parlamentares do PS, levou Correia de Campos a proferir perante uma assembleia de correligionários que as suas reformas na Saúde «eram um combóio em andamento» que «ninguém podia parar» e cujo «maquinista», a haver, seria ele, o que forçou alguns deputados PS a assinalar ao ministro que o Governo a que pertencia, por muito maioritário que fosse, dependia sempre da Assembleia da República...
É neste quadro que ganham relevo outras vozes também já vindas do interior do PS, como a do deputado Vítor Ramalho, eleito pelo Distrito de Setúbal, que em relação ao encerramento a galope de urgências hospitalares sublinhou que «o partido e os governantes têm de ter atenção à realidade» ou a acusação feita pelo deputado Vítor Baptista de que o relatório que fundamenta o encerramento das 15 urgências «apresenta lacunas que têm de ser explicadas ao parlamento», isto a par dos que, também no interior do PS, vêem com «preocupação» a ausência de diálogo na reforma em curso nas Urgências.
Falta, contudo, a voz principal nesta onda crescente de resmungos e críticas: a do Primeiro-Ministro José Sócrates.
Mas essa, só à força se manifestará contra a política de desmantelamento do SNS conduzida por Correia de Campos, pela linear razão de que tal política é integralmente predeterminada por José Sócrates...
Horas antes, o presidente da Câmara de Valença, o dirigente do PS José Luís Serra, conseguira desmobilizar o protesto e reabrir o trânsito na ponte garantindo aos manifestantes que «o senhor ministro com certeza que vai registar este protesto».
Registou. Classificando-o de «antidemocrático», além de lhe chamar «um estardalhaço» que «não compreendia», pois o processo de reorganização das urgências «ainda não estava concluído» (embora o tivesse anunciado como «definitivo») e ele, ministro, até tivera «uma conversa cordial» com o presidente da Câmara.
Tão cordial, que este se demitiu logo de seguida de membro dos órgãos nacionais e distritais do PS, antes de integrar os protestos da população que desembocaram no corte da ponte internacional de Valença...
Os desmandos deste governante, na sua operação de «desmantelamento democrático» do Serviço Nacional de Saúde (SNS), já transbordam e causam estragos imprevidentes em território eleitoral do partido que o sustenta, ao mesmo tempo que a estudada «frontalidade» com que Correia de Campos julga compor uma imagem de governante decidido, já resvalou para a arrogância atrabiliária que pulsa na sua natureza - para não o acusar (para já...) de outras coisas menos simpáticas e algo mais sérias que a irascibilidade incontinente.
Daí que a inacreditável classificação de «antidemocrático» aplicada por Correia de Campos a uma manifestação devidamente organizada, com mais de mil pessoas, numa cidade de província até por acaso com escasso historial de protestos cívicos, não foi mera desatenção ou deslize acidental: integra-se no mesmo comportamento que há dias, nas jornadas parlamentares do PS, levou Correia de Campos a proferir perante uma assembleia de correligionários que as suas reformas na Saúde «eram um combóio em andamento» que «ninguém podia parar» e cujo «maquinista», a haver, seria ele, o que forçou alguns deputados PS a assinalar ao ministro que o Governo a que pertencia, por muito maioritário que fosse, dependia sempre da Assembleia da República...
É neste quadro que ganham relevo outras vozes também já vindas do interior do PS, como a do deputado Vítor Ramalho, eleito pelo Distrito de Setúbal, que em relação ao encerramento a galope de urgências hospitalares sublinhou que «o partido e os governantes têm de ter atenção à realidade» ou a acusação feita pelo deputado Vítor Baptista de que o relatório que fundamenta o encerramento das 15 urgências «apresenta lacunas que têm de ser explicadas ao parlamento», isto a par dos que, também no interior do PS, vêem com «preocupação» a ausência de diálogo na reforma em curso nas Urgências.
Falta, contudo, a voz principal nesta onda crescente de resmungos e críticas: a do Primeiro-Ministro José Sócrates.
Mas essa, só à força se manifestará contra a política de desmantelamento do SNS conduzida por Correia de Campos, pela linear razão de que tal política é integralmente predeterminada por José Sócrates...