A entrevista
No mesmo dia em que surgiu a notícia de que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tinha subido os seus lucros 31% nos primeiros nove meses deste ano, face a igual período de 2005 - o que corresponde à bagatela de 555,2 milhões de euros... -, João Salgueiro, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), concedeu uma larga entrevista de duas páginas e poses de Estado ao Jornal de Notícias.
Com aquela insuperável bonomia com que se apresenta, onde há uma sugestão de paciente condescendência, bem treinada numa carreira de décadas em prol do capital e que parece considerar o que diz um privilégio para quem o ouve, o actual porta-voz dos banqueiros portugueses começou por garantir que «a Banca não tem nenhum regime fiscal diferente dos outros sectores de actividade», chegando a acrescentar que «nalguns aspectos, até tem situações mais gravosas do que os outros». Perguntado em que situações, deu como extraordinários exemplos a Banca «não poder deduzir inteiramente o IVA» e «pagar cerca de 120 milhões por ano ao Ministério do Trabalho para a Caixa de Previdência dos Empregados Bancários» - o que não passa de irrelevâncias ou obrigações mínimas -, ao mesmo tempo que se esqueceu, por exemplo, de referir o IRC (imposto sobre o lucro), onde a Banca paga menos de metade do que a generalidade das empresas, isto para não falar nos impostos que não lhe são cobrados sobre diversas mais-valias ou isenções e benefícios a eito com que tem sido «presenteada».
Aliás, apesar de também declarar que a «falsa ideia» de que «os bancos pagam menos impostos só se analisa com números e comparando-os com outros sectores», o entrevistado escusou-se liminarmente a quantificar seja o que for em matéria fiscal, ao responder em seguida que «não há taxa de tributação efectiva da Banca» - isso, como se sabe, é para quem viva do salário ou para empresas sem tamanho para «dar conselhos» aos Governos...
É claro que João Salgueiro não nega as evidências e até admite que «ninguém diz que os lucros declarados pelos bancos são fictícios ou abaixo do que deviam ser», mas constrói uma espécie de «superioridade moral» para os resultados obscenos da Banca com o fantástico argumento de que «noutros sectores muito provavelmente há empresas que não declaram os lucros que têm», como se o vulgar cumprimento de uma obrigação legal passasse a coisa excepcional só porque existe alguém que a não respeita, e os lucros escandalosos da banca deixassem de o ser pelo simples facto de haver quem os não declare.
Mesmo assim, não teve pejo de se queixar que «se se comparar os lucros da Banca portuguesa com os dos bancos espanhóis, estamos numa situação ínfima» (o que será «o máximo» para ele? A Banca apropriar-se das pessoas?), para concluir que «é um tiro no pé dizer que temos lucros elevados» e que «os portugueses deviam ser convidados a preocupar-se com os sectores que não têm lucro».
Quanto aos lucros obscenos da Banca, não são «um tiro no pé» mas uma fuzilaria na justiça social deste País. Aí está um «sector» que realmente preocupa os portugueses, cujos, já agora, há demasiado tempo que andam à espera, já nem de lucro, mas de menos prejuízo em cada Governo que chega à força de promessas nunca cumpridas. A não ser as que se fazem à Banca e correlativos – mas essas, sendo secretas como os segredos bancários, até têm resultados públicos e publicados em cada trimestre...
Com aquela insuperável bonomia com que se apresenta, onde há uma sugestão de paciente condescendência, bem treinada numa carreira de décadas em prol do capital e que parece considerar o que diz um privilégio para quem o ouve, o actual porta-voz dos banqueiros portugueses começou por garantir que «a Banca não tem nenhum regime fiscal diferente dos outros sectores de actividade», chegando a acrescentar que «nalguns aspectos, até tem situações mais gravosas do que os outros». Perguntado em que situações, deu como extraordinários exemplos a Banca «não poder deduzir inteiramente o IVA» e «pagar cerca de 120 milhões por ano ao Ministério do Trabalho para a Caixa de Previdência dos Empregados Bancários» - o que não passa de irrelevâncias ou obrigações mínimas -, ao mesmo tempo que se esqueceu, por exemplo, de referir o IRC (imposto sobre o lucro), onde a Banca paga menos de metade do que a generalidade das empresas, isto para não falar nos impostos que não lhe são cobrados sobre diversas mais-valias ou isenções e benefícios a eito com que tem sido «presenteada».
Aliás, apesar de também declarar que a «falsa ideia» de que «os bancos pagam menos impostos só se analisa com números e comparando-os com outros sectores», o entrevistado escusou-se liminarmente a quantificar seja o que for em matéria fiscal, ao responder em seguida que «não há taxa de tributação efectiva da Banca» - isso, como se sabe, é para quem viva do salário ou para empresas sem tamanho para «dar conselhos» aos Governos...
É claro que João Salgueiro não nega as evidências e até admite que «ninguém diz que os lucros declarados pelos bancos são fictícios ou abaixo do que deviam ser», mas constrói uma espécie de «superioridade moral» para os resultados obscenos da Banca com o fantástico argumento de que «noutros sectores muito provavelmente há empresas que não declaram os lucros que têm», como se o vulgar cumprimento de uma obrigação legal passasse a coisa excepcional só porque existe alguém que a não respeita, e os lucros escandalosos da banca deixassem de o ser pelo simples facto de haver quem os não declare.
Mesmo assim, não teve pejo de se queixar que «se se comparar os lucros da Banca portuguesa com os dos bancos espanhóis, estamos numa situação ínfima» (o que será «o máximo» para ele? A Banca apropriar-se das pessoas?), para concluir que «é um tiro no pé dizer que temos lucros elevados» e que «os portugueses deviam ser convidados a preocupar-se com os sectores que não têm lucro».
Quanto aos lucros obscenos da Banca, não são «um tiro no pé» mas uma fuzilaria na justiça social deste País. Aí está um «sector» que realmente preocupa os portugueses, cujos, já agora, há demasiado tempo que andam à espera, já nem de lucro, mas de menos prejuízo em cada Governo que chega à força de promessas nunca cumpridas. A não ser as que se fazem à Banca e correlativos – mas essas, sendo secretas como os segredos bancários, até têm resultados públicos e publicados em cada trimestre...