Alemanha

200 mil nas ruas

Mais de 200 mil alemães manifestaram-se, no sábado, 21, em cinco grandes cidades, contra as reformas económicas e sociais injustas conduzidas pelo governo de coligação entre conservadores e social-democratas.

As reformas liberais provocaram o alastramento da pobreza na Alemanha

O maior desfile registou-se na capital, Berlim, onde se manifestaram cerca de 80 mil pessoas, segundo dados da polícia citados pela agência France Presse. Outras grandes concentrações, com mais de 20 mil manifestantes, tiveram lugar em Stuttgart, Frankfurt, Munique e Dortmund.
Nestas acções, dirigentes de várias estruturas sindicais fizeram críticas e lançaram apelos ao governo liderado pela democrata-cristã, Ângela Merkel, para que ponha termo às medidas anti-sociais. O presidente da confederação sindical alemã (DGB), Michael Sommer exigiu, em Stuttgart, uma mudança de rumo das reformas em curso, considerando que as actuais políticas vão provocar «danos duráveis na nossa democracia».
Também o presidente do sindicato dos serviços públicos Ver.di, Frank Bsirske, criticou, em Berlim, os resultados das reformas dos últimos anos, designadamente a redução das prestações dos desempregados e dos reformados.
Em Dortmund, o presidente do sindicato IG condenou, em particular, a reforma do sistema público de saúde, sublinhando que esta se resume a uma «transferência dos encargos patronais para os trabalhadores».

Novos pobres

Dias antes deste protesto, a fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata Alemão, divulgou um extenso estudo sobre a evolução social no país, no qual se afirma que oito por cento da população germânica, ou seja, 6,5 milhões de pessoas, pertencem a uma nova classe de pobres, aqui designada como «precários desligados».
Trata-se de uma camada da população com rendimentos muito reduzidos, em situação de desemprego ou com um trabalho precário, sem educação válida ou perspectivas de futuro. É particularmente numerosa no leste alemão (antiga RDA), representando 20 por cento da população, mas existe também na parte ocidental do país, mais populosa, onde este tipo de pobreza afecta quatro por cento dos habitantes.
Para além desta categoria de cidadãos, o estudo assinala que 16 por cento da população sentem que o seu emprego está ameaçado.
O último relatório governamental sobre a pobreza, relativo a 2003, concluiu que 13,5 por cento dos alemães eram pobres, situação que cinco anos antes apenas atingia 12 por cento da população. Em contrapartida, 10 por cento das famílias mais ricas partilhavam 47 por cento da riqueza do país.
Para Ottmar Schreiner, um dos membros da chamada corrente de esquerda do SPD, a nova pobreza é sobretudo um resultado da política reformista dos governos sociais-democratas de Gerhard Schroeder, em particular da lei Hartz IV, que reduziu os subsídios de desemprego.
Agora, o SPD defende a introdução de um salário mínimo legal para combater os baixíssimos salários praticados nalguns sectores. Contudo, a proposta desagrada aos cristão-democratas, seus parceiros na coligação governativa.


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