Comentário

Intercâmbios de conhecimento

Ilda Figueiredo
É fundamental para quem está num cargo institucional manter um contacto muito próximo com a realidade, os problemas, as aspirações, as lutas e vontades de quem vive e trabalha nos mais diversos sectores de actividade humana.
Mas se esta é uma premissa básica que deve estar sempre presente na acção de um eleito comunista, ela torna-se essencial para quem está num órgão aparentemente tão distante das populações como é o Parlamento Europeu, mas onde cada vez mais se tomam decisões que influenciam a vida quotidiana sem que haja a informação e o conhecimento adequado do que se passa.
Por isso, integrada nas jornadas que estamos a realizar por todo o País, em colaboração com as respectivas direcções regionais do PCP, assinalando os 20 anos de adesão de Portugal à então CEE, hoje União Europeia, realizámos no Porto uma reunião da direcção do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, onde se incluem os deputados comunistas.
O objectivo desta iniciativa em Portugal do nosso Grupo foi promover o intercâmbio de informações e o aprofundamento de conhecimentos tendo por base a realidade do Norte do País e a actualidade das políticas comunitárias. Daí que houvesse quatro momentos importantes na iniciativa: debate sobre a indústria e os problemas dos trabalhadores; a importância dos serviços públicos e as ameaças da famigerada directiva Bolkestein; as comemorações dos 250 anos da região Demarcada do Douro, a primeira região vitivinícola da Europa a ser simultaneamente criada e regulamentada com visita e palestras em caves do vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, e visitas em Matosinhos (APDL e fábrica artesanal de conservas de peixe), além, naturalmente, da visita às ribeiras do Porto e Gaia.
Assim, foi possível sensibilizar os mais de 50 estrangeiros presentes (deputados de dez países, funcionários do PE e intérpretes) para o nosso rico património e para a necessidade da sua defesa, também no Parlamento Europeu, além de promovermos o turismo da região, a beleza do nosso património construído e de sensibilizarmos para o muito que falta fazer na sua recuperação ao serviço das populações e dos seus moradores.
Nos ricos e importantes debates com sindicalistas, dirigentes do movimento de utentes de serviços públicos, empresários e membros de comissões de trabalhadores, foi dada particular importância a alguns aspectos, de que destaco:
- A importância de ter em conta a fragilidade da economia portuguesa e os seus sectores produtivos, profundamente afectados pelas políticas monetaristas e liberalizadoras, o que se reflecte no baixo crescimento do PIB, que se fica por metade da média comunitária, e tem consequências desastrosas: agravamento das divergências, assimetrias regionais e desigualdades sociais, para o que também contribui a política privatizadora de sectores fundamentais, designadamente na área da energia, incluindo a Petrogal, a estratégia de deslocalização das multinacionais e a falta de empenhamento dos governos portugueses e da União Europeia num forte sector industrial.
- A necessidade de exigir que, nas políticas comunitárias, designadamente nas negociações no âmbito da OMC, se tenha em conta o contexto e características específicas de cada sector, as oportunidades e desafios com que se deparam e as dificuldades que cada Estado-Membro enfrenta, salientando-se, no caso português, a defesa de sectores industriais tradicionais, como a têxtil e vestuário, o calçado, o sector do vidro e cristalaria, a cerâmica, a indústria automóvel e as suas componentes, material eléctrico e electrónico, e tantos outros.
- A denúncia da chamada Estratégia de Lisboa e das suas directrizes na liberalização de serviços públicos, de que foram dados diversificados exemplos (correios e telecomunicações, água, saúde, segurança social, educação, etc) e de desmantelamento do chamado «modelo social europeu», com destaque para a famigerada directiva Bolkestein, em segunda leitura no Parlamento Europeu.
Logo, impõe-se, como se referiu no debate, uma autêntica ruptura democrática nas políticas actuais, a nível comunitário e nacional, para que se valorize devidamente a produção, designadamente a industrial, se dignifique quem trabalha, se aposte numa política eficaz de coesão económica e social e se defendam e promovam serviços públicos de qualidade.


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