Terroristas

Anabela Fino
A alegada presença de membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) na Festa do Avante! deu azo a semana passada a uma série de intervenções assaz curiosas. De blogues mais ou menos obscuros a jornais mais ou menos de referência, passando pela Assembleia da República, representantes da direita mais reaccionária e pseudo democratas de trazer por casa puseram-se em bicos de pés e deitaram as unhas de fora para clamarem a sua indignação pela suposta vinda de «terroristas» a Portugal, zurzirem no PCP que teria tido o atrevimento de os convidar e, aproveitando a embalagem, exigirem a punição exemplar do prevaricador.
A coisa seria ridícula se não fosse trágica o que esta encenação denota de hipocrisia e espírito revanchista por parte de quantos, reivindicando na própria verborreia a designação de democratas, têm raízes fundas no passado fascista em que militaram de corpo e alma ou de que são descendentes disfarçados de modernidade serôdia e muito cotão na entretela.
Escudando-se numa decisão tomada pela União Europeia – uma instituição que muito prezam –, a qual seguindo subserviente os ditames de Washington adoptou uma lista de «terroristas», os arautos da nova ordem internacional debitam sentenças que envergonham o povo português, que em 50 anos de fascismo e colonialismo aprendeu a respeitar a luta dos «terroristas» de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe pelo seu direito à autodeterminação e independência.
Acusando o PCP de apoiar «terroristas», os próceres da direita não procuram apenas passar uma esponja sobre a luta heróica de sucessivas gerações que combateram o fascismo em Portugal e nas ex-colónias, quantas vezes à custa da liberdade e da própria vida, mas sobretudo negar o direito dos povos a decidir dos seus próprios destinos, se necessário pela via armada.
Na Colômbia, como na Palestina, Líbano, Iraque, ou como no passado recente no Vietname, em Cuba, Nicarágua, El Salvador, África do Sul, só para citar alguns exemplos, «terroristas» são todos os que não se vergam ao despotismo, ao colonialismo, à escravidão, seja qual for o nome ostentado pelo regime que o pratica.
A verdade porém é que na Colômbia, onde as FARC lutam há mais de quatro décadas contra regimes corruptos e despóticos, serventuários do imperialismo norte-americano, os autênticos terroristas usam fato e gravata e incumbem o exército ou organizações paramilitares de lhes fazer o trabalho sujo, enquanto debitam nas Nações Unidas, na Casa Branca ou em Bruxelas discursos de paz e justiça social.
O mesmo se passa em muitos outros pontos do planeta, onde neste 11 de Setembro de 2006 se choraram lágrimas de crocodilo e cumpriram minutos de silêncio pelas vítimas dos atentados de Nova Iorque, se fizeram profissões de fé na «guerra ao terrorismo», mas onde nunca se perdeu um segundo a lembrar o 11 de Setembro de 1973 no Chile ou o Setembro Negro de 1970 na Jordânia, onde as vítimas foram bastante mais numerosas e no entanto jamais se vislumbrou um «terrorista» que ficasse para a história oficial.
Vale a pena lembrar, no entanto, que Nelson Mandela foi «terrorista» antes de ser presidente da África do Sul sem apartheid e Prémio Nobel da Paz, e que Augusto Pinochet, apesar de impune, continuará sendo sempre um ditador embora nunca tenha sido acusado de terrorista.


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