As intermitências da «rentrée»

Carlos Gonçalves
Tal como a morte no belo livro de José Saramago, a «rentrée» tem andado intermitente, mas neste caso por razões bem prosaicas.
Em 2004 foi decidido nos media dominantes o «fim do modelo esgotado», mas em 2005, em fase pré-eleitoral, reapareceu no tempo de todas as promessas; agora voltou a tónica - «as pessoas não estão para comícios», «os tempos da política combativa e vociferante acabaram».
A verdade é que a «rentrée» dos comícios - concebidos como política espectáculo e manipulação – nem sempre encaixa nas políticas de direita. E há casos em que os comícios são como as uvas, a que a raposa da fábula de La Fontaine, incapaz de chegar, bramava - «estão verdes».
Só Monteiro do PND chamou «rentrée» a uma charla para vinte apoiantes, cuja notícia foi a espera pela «autorização», que não pode existir em regime democrático e só tem sentido num projecto «salazarento».
Mas abundam encenações televisivas com nomes diversos, que parecem marcadas para tentar diminuir a nossa Festa e mistificar comparações, que, se fossem sérias, seriam esclarecedoras.
O BE, que, segundo F.Louçã é o mais «massacrado» pelos media, anda numa excursão pelo país, que ainda só rendeu dez minutos de televisão por cada ideia não copiada do PCP e três minutos por cada excursionista, por isso vai continuar, no fim de semana, conforme a sebenta do «professor Marcelo», a «marcar» o PCP nos «temas sociais».
O PSD – com o CDS em cacos - vai fazer o possível, na «universidade» de fim de semana, para aparecer como a «direita inteligente» e «telegénica», fingindo exigir reformas de «oposição», para que o Governo finja que lhes resiste e possa continuar no «caminho certo», conforme os interesses decidiram.
Finalmente o PS, protegido pelo controlo dos media públicos e a simpatia dos privados, reúne a Comissão Nacional, não para discutir os efeitos da política do Governo, as dificuldades dos trabalhadores e das populações, mas para persistir nas mentirolas sobre o desemprego e a economia, escondendo a realidade e a estagnação, e para convocar o Congresso para daqui a dois meses(!) e dar apoio prévio a mais um «discurso da miragem» de J.Sócrates, a semana que vem, em novo episódio do «enlatado» das «novas fronteiras».
Resta assim a Festa do Avante! Nem «rentrée», nem telemontagem, mas um espaço/tempo de alegria, cultura, intervenção e iniciativa política, num percurso de luta pela transformação social.


Mais artigos de: Opinião

Colômbia, uma guerra silenciada

O mês que agora chega ao fim foi particularmente pródigo em acontecimentos reveladores do carácter que marca o nosso tempo. Uma evidência desde logo salta à vista: o imperialismo, apesar do seu poderio, não tem solução para os grandes problemas da humanidade.Bastará referir que no Líbano, apesar da impunidade dos crimes...

O caminho é defender o SNS «universal, geral e gratuito»

Num estilo que lhe é peculiar – arrogante, convicto que está muito acima dos «limitados recursos da generalidade dos portugueses» –, o ministro da saúde numa entrevista publicada no Jornal de Notícias, no passado dia 6, naquela que foi a sua rentrée política, na resposta à pergunta formulada pela jornalista que o entrevistou, sobre se iria ao Serviço de Atendimento Permanente do centro de saúde mais próximo se tivesse algum problema de saúde à noite, respondeu «vou directo à urgência do hospital ou a uma urgência qualificada como tal. Nunca vou a um SAP nem nunca irei!». Mais à frente justificou a resposta afirmando que os SAPs não têm condições de qualidade.

Palpites e adivinhações

Anteontem, um dia depois da data em que a Teixeira Duarte e os seus parceiros de consórcio deveriam ter terminado as obras de reabilitação do túnel do Rossio, soube-se que a Refer decidiu recusar a prorrogação do prazo, pedida para Novembro de 2011. Foi anunciada também, pela empresa do Grupo CP responsável pelas...

Ideias feitas

Ainda na passada semana escrevemos aqui acerca de ideias feitas. Era sobre as ideias que o capital nos impinge de que a concorrência é «salutar» para a economia, tão «salutar» que até faria baixar os preços, uma coisa que a gente nunca viu. A semana que passa foi, entretanto, pródiga em ideias feitas que o mesmo capital,...

Olhar o mundo com outros olhos

Analistas, comentaristas, psicólogos, concordam: há uma onda de pessimismo, de falta de confiança no futuro, de desalento, varrendo o país. Pudera! Com Bushes e Sócrates no poder, o futuro não anuncia nada de bom para o mundo.Mas não é com as vendas e antolhos que bushes e sócrates querem impor que a situação pode...