Olhar o mundo com outros olhos

Aurélio Santos
Analistas, comentaristas, psicólogos, concordam: há uma onda de pessimismo, de falta de confiança no futuro, de desalento, varrendo o país.
Pudera! Com Bushes e Sócrates no poder, o futuro não anuncia nada de bom para o mundo.
Mas não é com as vendas e antolhos que bushes e sócrates querem impor que a situação pode melhorar. É preciso olhar o mundo com outros olhos.
E a Festa do «Avante!» dá este fim-de-semana uma boa oportunidade para o fazer, especialmente a quem se preocupe em seguir, compreender e intervir nas questões que dependem da política aplicada em Portugal.
Os comunistas não têm olhos diferentes. Mas têm uma maneira de olhar o mundo que não se limita às aparências e procura as causas dos problemas e as formas de os enfrentar.
A Festa do «Avante!» mostra como os comunistas vêm o mundo. Isto é: como analisam os acontecimentos.
Não nos prendemos somente ao aspecto conjuntural.
Fazemos um esforço para apresentar uma compreensão mais profunda e estrutural do país, dos seus bloqueios e dos rumos que estão sendo seguidos.
Consideramos importante compreender que a crise que em Portugal e no mundo se está vivendo se insere numa ofensiva imperialista, marcada por crescentes desequilíbrios e assimetrias, agravadas a pontos de ruptura pela globalização financeira e pela desvalorização do trabalho. O capital portador de juros está no centro das relações económicas e sociais impondo-se ao mundo real da produção e do trabalho. O neoliberalismo é exactamente a reprodução financeira do capitalismo atual. Nela, a taxa de crescimento da esfera financeira é muito mais elevada que a da esfera da produção e até do comércio.
Neste quadro mundial cada um encontra-se como diante de um rio correndo entre as suas duas margens. Tem de escolher em que margem fica. Não há uma terceira margem. Numa estão as forças que querem construir um novo país, num novo mundo - democrático, soberano, de justiça social.
É nessa margem que se situa a Festa do «Avante!».
O outro lado do rio é o das forças que sempre governaram em benefício das classes privilegiadas, causadoras dos bloqueios mais profundos que têm pendido sobre a vida de milhões de seres humanos: dependência, desigualdade, miséria, exploração, guerras, violência, repressão. É essa elite conservadora, revanchista, detentora do poder real, que não aceita ficar fora do poder e usa todos os meios para o manter.
Mas a Festa do «Avante!» não é só ocasião para uma actualização e reflexão política.
É também espaço para convívio, encontro com amigos, com cultura, espectáculos, arte, as várias regiões do nosso país e outros países do mundo. É a Festa em que os comunistas mostram como são e o que querem, mas também apresentam a sua visão do mundo e da vida, na mais ampla acepção, a sua confiança no povo português e nos outros povos do mundo para alterar o actual rumo, e onde se afirma a sua participação empenhada para que isso aconteça.
Também isso ajuda a ver o mundo com outros olhos.


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