Uma visita ao Soajo

Ilda Figueiredo
Uma visita ao Soajo e a outras zonas do Parque Nacional da Peneda-Gerês exemplifica bem a indignação que sentem os moradores e todos os que sejam minimamente sensíveis à tragédia dos incêndios florestais que têm atingido dramaticamente o país, durante o verão, ano após ano. Vários distritos do Norte foram fustigados pelos fogos, com destaque para Braga, Porto e Viana do Castelo, tendo sido particularmente atingidas zonas de áreas protegidas, o que demonstra que não só falhou a política de prevenção como, mais uma vez, foram escassos os meios disponíveis para o combate aos incêndios, logo nos primeiros momentos, evitando a sua propagação.
Apesar de todas as promessas, continua a faltar uma efectiva política de prevenção de fogos florestais, como denunciaram autarcas, agricultores, compartes e dirigentes dos conselhos directivos dos baldios e pastores da serra do Soajo e de outras zonas dos concelhos de Arcos de Valdevez e de Paredes de Coura na visita e nas reuniões que uma delegação do PCP, que me incluiu, fez àquelas zonas duramente fustigadas pelos incêndios deste verão. Sucessivos e diferentes governos (PSD/CDS e PS) mas com políticas semelhantes, insistem na aplicação de uma Política Agrícola Comum que promove o abandono das terras e esquece os apoios à agricultura familiar e aos baldios, não dotam dos meios necessários zonas classificadas (rede Natura 2000, áreas protegidas, reservas integrais, parque nacional) e não incitam à participação na definição de políticas locais e regionais as populações que resistem e ainda se mantêm a viver ali, e sem as quais a situação seria ainda bem mais dramática.
Na sessão pública em que participámos na Junta de Freguesia do Soajo, a exemplo do que já tinha acontecido com compartes de baldios em Paredes de Coura, autarcas e agricultores demonstraram, partindo da realidade, que conhecem como ninguém, como é possível travar este flagelo dos fogos florestais e evitar que arda, no futuro, o que ainda resta, e é muito, e ainda muito belo, como bem pudemos, mais uma vez, testemunhar, na visita pela serra para observar o contraste entre a zona queimada e a pujança da floresta e das magnificas paisagens construídas pelos povos serranos nas encostas do Soajo e do Lindoso.
Isso exige que, no imediato, se apoiem as populações atingidas, se forneça feno para o gado que ficou sem as pastagens, bem como para os animais selvagens que igualmente foram afectados pelos incêndios que atingiram uma parte da mata do Ramiscal, o pinhal da mata do Mezio e outras zonas de produção florestal, pastagens e gado, incluindo em algumas «brandas» que são zonas de pastagem e povoamento nas encostas da serra, durante o verão. Se isso não acontecer no imediato, não só ficam sem alimentação cavalos, vacas, ovelhas e cabras como corços, lobos e javalis que descerão aos povoados tornando ainda mais difícil a vida de todos. Exige, igualmente, que se semeie aveia ou outro cereal na serra queimada para evitar a erosão com as chuvas e, simultaneamente, fornecer alimento para os animais no próximo ano, tal como se impõe retirar, rapidamente, a madeira ardida para parques públicos e pagar aos compartes dos baldios o seu valor total para que possam enfrentar os prejuízos que tiveram.
Mas muitas outras medidas foram apresentadas que importa ter em conta e, sobretudo, pôr em prática, para que se salvaguarde o Parque Nacional da Peneda-Gerês e outras zonas protegidas, destacando-se a necessidade de uma maior diálogo com as populações e seus órgãos representativos no plano local, designadamente autarcas das freguesias, assembleias de compartes dos baldios, associações de agricultores. Destaca-se a necessidade de reforçar o número de equipas de sapadores florestais, proceder a novas plantações de floresta, mas agora ordenada, abrir caminhos e pontos de água, criar centrais de biomassa para recolha de desperdícios da floresta e criação de energia alternativa, recuperar as casas florestais abandonadas e transformá-las em centros de sensibilização e educação ambiental, de divulgação da rica história do povo serrano e dos seus modos de vida, possibilitando, simultaneamente, a criação de novos empregos, a fixação das populações, apoio ao turismo e ao desenvolvimento integrado a nível local e regional, e não proceder à sua venda como pretende o actual governo. Também os bombeiros precisam de maior apoio e mais meios. Nalguns casos, o que vale a estas associações humanitárias é a solidariedade dos emigrantes que, tendo sido obrigados a ir procurar no estrangeiro o emprego que aqui não tinham, mantêm uma profunda ligação às suas terras e organizam-se para comprar carros de água, ambulâncias e outros equipamentos que oferecem aos bombeiros.
Claro que, como referiu o PCP em recente comunicado, pela nossa parte iremos continuar a lutar, designadamente nos diversos órgãos de poder em que participamos, pela aplicação das medidas que promovam o desenvolvimento destas zonas, previnam e evitem a tragédia dos fogos florestais


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