Conspiração terrorista ou operação mediática?
Três semanas após o alegado desmantelamento, em 10 de Agosto, de um megacomplot terrorista contra aviões que ligam a Grã-Bretanha aos Estados Unidos, e que provocou o caos nos aeroportos ingleses e noutros países, a polícia britânica continua sem apresentar qualquer prova da conspiração que afirma ter descoberto.
Nenhum dos suspeitos detidos tinha comprado bilhetes de avião
O cepticismo enraíza-se na opinião pública britânica, que tem cada vez mais razões para desconfiar da sensacionalista versão oficial de que estariam em preparação atentados contra vários aviões capazes de provocar «um massacres de proporções inéditas» com «um número nunca visto de vítimas».
Num artigo publicado no site Red Voltaire, o antigo embaixador no Uzbequistão, Craig Murray, conclui que os acontecimentos desencadeados pelas autoridades, no passado dia 10, configuram mais facilmente «uma operação de propaganda do que um complot terrorista».
Murray, que foi uma das principais vozes que recentemente denunciaram o envolvimento da Grã-Bretanha na rede de centros de tortura da CIA, chama a atenção para notórias contradições que ensombram e descredibilizam a investigação policial. Em concreto, observa que nenhum dos suspeitos até agora detidos, dos quais 12 estão inculpados, foi acusado de ter fabricado um engenho explosivo. Mais revelador é o facto de nenhum deles ter comprado um bilhete de avião (facto noticiado pelo The Guardian, de 13 de Agosto), sendo que muitos nem sequer eram detentores de passaporte.
Ora, como sublinha Murray, «na ausência de bombas, bilhetes de avião e, em muitos casos, de passaportes, seria bastante difícil de convencer um júri, para além de qualquer dúvida razoável, que tais indivíduos pudessem ter a intenção de cometer atentados-suicidas».
A isto acresce que os actuais suspeitos, tal como milhares de outros muçulmanos e outros cidadãos britânicos, encontravam-se há mais de um ano sob vigilância policial, sem que nada tivesse sido detectado que aconselhasse a sua detenção preventiva, o que é no mínimo estranho dada a alegada envergadura do complot terrorista.
Mas, estando sob vigilância e figurando certamente nas listas negras dos aeroportos, então, «teria sido seguro e preferível deixá-los agir. Era o que certamente teríamos feito se se tratasse do IRA».
Que líquidos
explosivos?
Estas interrogações de Craig Murray são partilhadas por Jürgen Elsässer, jornalista alemão com obra publicada, que lembra que nunca ninguém viu as tais garrafas com líquido explosivo, nem qualquer outra arma que pudesse ser utilizada num atentado.
Elsässer, num artigo publicado igualmente no site Red Voltaire, considera que as teorias apresentadas de forma não oficial sobre a forma como os terroristas pensavam explodir os aviões são simplesmente «ridículas».
Para este jornalista, os líquidos que até agora foram referidos na imprensa dificilmente poderiam ser utilizados por qualquer terrorista. A nitroglicerina e o nitrometano, devido à sua grande instabilidade que os faz explodir ao menor choque, são duas hipóteses a excluir dadas as poucas probabilidades de chegarem intactas a bordo.
Talvez por isso, o semanário alemão Der Spiegel tenha apostado no TATP, o triacetonaperóxído que, segundo afirma, seria fácil fabricar a partir de verniz para unhas e outros produtos de venda corrente ao público.
Contudo, também esta hipótese é refutada já que tal composto, para além de extremamente perigoso, exige muito tempo de fabricação, sendo necessárias várias horas até que o desejado pó explosivo se forme no fundo da proveta.
Na opinião de Jürgen Elsässer, estas particularidades fazem com que não seja crível que «os terroristas tenham planeado fechar-se durante várias horas no sanitário do avião com a esperança de que o cocktail não lhes explodisse nas mãos antes de obterem a quantidade requerida».
Um novo 11 de Setembro?
Embora se tenha falado muito de informações provenientes dos serviços de informações do Paquistão, o jornalista alemão Jürgen Elsässer dá conta de notícias surgidas na imprensa do seu país, que mencionam a Mossad como fonte adicional.
Numa delas, publicada nos diários do grupo Springer, refere-se que agentes dos serviços secretos israelitas, no âmbito da tomada do Hospital de Baalbek por um comando do exército, teriam encontrado computadores com informações sobre mais de 20 células terroristas em Inglaterra.
Outra notícia dá conta de que, em 6 de Agosto, na sede da Mossad é recebida uma informação proveniente de Islamabad de que, alegadamente, a Al Qaeda teria dado ordem aos seus terroristas em Inglaterra para actuar. Esta informação teria sido transmitida pelo chefe da Mossad ao seu homólogo britânico do MI6.
Como sublinha Elsässer, estas notícias tiveram claramente o objectivo de justificar a agressão de Israel contra o Líbano, a qual, desta forma, até teria permitido evitar um terrível banho de sangue na Europa.
Independentemente da origem de tais informações, e apesar da sua mais que duvidosa fiabilidade, também Craig Murray considera que, tanto Bush como Blair, confrontados com situações delicadas nos seus países, não hesitaram em utilizá-las para criar «um novo 11 de Setembro pronto a servir aos média, que engolem num trago tudo aquilo que lhes servem».
Por último, Murray afirma que dos cerca de mil muçulmanos detidos, na Grã-Bretanha, no quadro da lei antiterrorista, «apenas 12 por cento foram acusados de algo concreto. Destes, 80 por cento foram absolvidos e a maioria dos que foram condenados, apenas dois por cento do total, foram-no não por actos relacionados com terrorismo, mas por delitos menores que a polícia acabou por descobrir quando lhes vasculhou as vidas ao pormenor».
Num artigo publicado no site Red Voltaire, o antigo embaixador no Uzbequistão, Craig Murray, conclui que os acontecimentos desencadeados pelas autoridades, no passado dia 10, configuram mais facilmente «uma operação de propaganda do que um complot terrorista».
Murray, que foi uma das principais vozes que recentemente denunciaram o envolvimento da Grã-Bretanha na rede de centros de tortura da CIA, chama a atenção para notórias contradições que ensombram e descredibilizam a investigação policial. Em concreto, observa que nenhum dos suspeitos até agora detidos, dos quais 12 estão inculpados, foi acusado de ter fabricado um engenho explosivo. Mais revelador é o facto de nenhum deles ter comprado um bilhete de avião (facto noticiado pelo The Guardian, de 13 de Agosto), sendo que muitos nem sequer eram detentores de passaporte.
Ora, como sublinha Murray, «na ausência de bombas, bilhetes de avião e, em muitos casos, de passaportes, seria bastante difícil de convencer um júri, para além de qualquer dúvida razoável, que tais indivíduos pudessem ter a intenção de cometer atentados-suicidas».
A isto acresce que os actuais suspeitos, tal como milhares de outros muçulmanos e outros cidadãos britânicos, encontravam-se há mais de um ano sob vigilância policial, sem que nada tivesse sido detectado que aconselhasse a sua detenção preventiva, o que é no mínimo estranho dada a alegada envergadura do complot terrorista.
Mas, estando sob vigilância e figurando certamente nas listas negras dos aeroportos, então, «teria sido seguro e preferível deixá-los agir. Era o que certamente teríamos feito se se tratasse do IRA».
Que líquidos
explosivos?
Estas interrogações de Craig Murray são partilhadas por Jürgen Elsässer, jornalista alemão com obra publicada, que lembra que nunca ninguém viu as tais garrafas com líquido explosivo, nem qualquer outra arma que pudesse ser utilizada num atentado.
Elsässer, num artigo publicado igualmente no site Red Voltaire, considera que as teorias apresentadas de forma não oficial sobre a forma como os terroristas pensavam explodir os aviões são simplesmente «ridículas».
Para este jornalista, os líquidos que até agora foram referidos na imprensa dificilmente poderiam ser utilizados por qualquer terrorista. A nitroglicerina e o nitrometano, devido à sua grande instabilidade que os faz explodir ao menor choque, são duas hipóteses a excluir dadas as poucas probabilidades de chegarem intactas a bordo.
Talvez por isso, o semanário alemão Der Spiegel tenha apostado no TATP, o triacetonaperóxído que, segundo afirma, seria fácil fabricar a partir de verniz para unhas e outros produtos de venda corrente ao público.
Contudo, também esta hipótese é refutada já que tal composto, para além de extremamente perigoso, exige muito tempo de fabricação, sendo necessárias várias horas até que o desejado pó explosivo se forme no fundo da proveta.
Na opinião de Jürgen Elsässer, estas particularidades fazem com que não seja crível que «os terroristas tenham planeado fechar-se durante várias horas no sanitário do avião com a esperança de que o cocktail não lhes explodisse nas mãos antes de obterem a quantidade requerida».
Um novo 11 de Setembro?
Embora se tenha falado muito de informações provenientes dos serviços de informações do Paquistão, o jornalista alemão Jürgen Elsässer dá conta de notícias surgidas na imprensa do seu país, que mencionam a Mossad como fonte adicional.
Numa delas, publicada nos diários do grupo Springer, refere-se que agentes dos serviços secretos israelitas, no âmbito da tomada do Hospital de Baalbek por um comando do exército, teriam encontrado computadores com informações sobre mais de 20 células terroristas em Inglaterra.
Outra notícia dá conta de que, em 6 de Agosto, na sede da Mossad é recebida uma informação proveniente de Islamabad de que, alegadamente, a Al Qaeda teria dado ordem aos seus terroristas em Inglaterra para actuar. Esta informação teria sido transmitida pelo chefe da Mossad ao seu homólogo britânico do MI6.
Como sublinha Elsässer, estas notícias tiveram claramente o objectivo de justificar a agressão de Israel contra o Líbano, a qual, desta forma, até teria permitido evitar um terrível banho de sangue na Europa.
Independentemente da origem de tais informações, e apesar da sua mais que duvidosa fiabilidade, também Craig Murray considera que, tanto Bush como Blair, confrontados com situações delicadas nos seus países, não hesitaram em utilizá-las para criar «um novo 11 de Setembro pronto a servir aos média, que engolem num trago tudo aquilo que lhes servem».
Por último, Murray afirma que dos cerca de mil muçulmanos detidos, na Grã-Bretanha, no quadro da lei antiterrorista, «apenas 12 por cento foram acusados de algo concreto. Destes, 80 por cento foram absolvidos e a maioria dos que foram condenados, apenas dois por cento do total, foram-no não por actos relacionados com terrorismo, mas por delitos menores que a polícia acabou por descobrir quando lhes vasculhou as vidas ao pormenor».