Compromisso com a guerra

Vasco Cardoso
Depois de milhares de vítimas, de vastas zonas do país completamente arrasadas e um criminoso rasto de destruição provocado pela ofensiva Israelita sobre o Líbano decorre, até ao momento, um cessar-fogo, que tem a particularidade de poder ser violado pelo agressor quando este bem entender. Neste compasso de espera, em que a paz se encontra em permanente ameaça, as potências imperialistas – seguramente a disputar a repartição das fatias do bolo - discutem entre si a composição da «força internacional» decidida pela resolução da ONU e que irá cumprir os objectivos traçados.
Objectivos estes que, apesar da monstruosa campanha que tenta branquear e iludir a natureza desta guerra, se traduzem no avanço da estratégia de domínio militar imperialista do Médio Oriente como confirmam a ocupação e agressão do Afeganistão e do Iraque, bem como, as presentes ameaças à Síria e ao Irão.
A evolução da escalada militarista é assustadora. Os povos dos países agredidos – a quem permanentemente se tenta negar o direito à resistência – sofrem na carne as consequências destes crimes. Aos povos das potências imperialistas e dos países subservientes das mesmas, vende-se-lhes a cartilha da guerra entre o «bem e o mal» e pedem-se-lhes os filhos, para serem protagonistas da agressão. Em todo o Médio Oriente, estimam-se em cerca de 300.000 soldados, na sua maioria jovens, oriundos sobretudo das classes mais desfavorecidas, em missão. Ao serviço do quê? Do capital, claro está! E é neste contexto que o imperialismo americano – verdadeiro suporte da política fascista de Israel – procura comprometer dezenas de outros países com a sua estratégia de agressão.
O Governo português que, no plano doméstico utiliza o argumento das dificuldades financeiras para destruir e liquidar direitos e conquistas dos trabalhadores e do povo - e que se reflectem na degradação das suas condições de vida - ignora esses mesmos constrangimentos orçamentais, cada vez que se trata de ir em auxílio do seu amigo Americano. E tanto assim é que, Portugal - para além da utilização da Base das Lages como plataforma de operações militares - encontra-se directamente envolvido com tropas no Afeganistão, na Bósnia, no Kosovo e também em Timor (num quadro diferente como temos assinalado) e prepara-se para integrar uma força de 15.000 soldados que irá concluir no Líbano, aquilo que as Forças Armadas Israelitas não conseguiram fazer.
Na prática, uma política que impõe cada vez maiores dificuldades e sacrifícios ao povo português, mas que se encontra sempre disponível para contribuir na defesa dos interesses do grande capital transnacional, nas guerras de que este é o principal beneficiário. Uma política contrária ao projecto de paz e cooperação entre os povos, determinado pela nossa Constituição. Uma política cada vez mais comprometida com a guerra.
A concepção simultaneamente patriótica e internacionalista que os comunistas portugueses têm sobre o seu país e o mundo, exige, perante mais esta situação, a firme denúncia e um decidido combate. Não podemos continuar a aceitar isto!


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