Alterações à «lei de estrangeiros» em diploma do PCP

Integrar, respeitar, valorizar

O Grupo Parlamentar do PCP apresentou um projecto de lei que altera profundamente o regime de entrada e permanência de estrangeiros em Portugal.

A po­lí­tica de quotas tem ali­men­tado as redes de imi­gração ilegal

À injusta e negativa política actual de imigração contrapõe uma outra, democrática, que combata a imigração ilegal e o trabalho clandestino, assegurando simultaneamente o respeito pelos direitos de todos os trabalhadores.
Perante o falhanço das políticas de imigração que se revelaram incapazes até hoje de resolver os problemas com que o País está confrontado neste domínio, caracterizadas pela sua natureza repressiva, restritiva e discriminatória, os comunistas entendem que a solução, pela qual aliás sempre se bateram, está em abandonar o sistema de quotas e facilitar a regularização dos ilegais.
«O projecto do PCP propõe uma visão mais realista e mais flexível sobretudo para a legalização de estrangeiros que vivem em Portugal e trabalham em Portugal», esclareceu o deputado comunista António Filipe, em recente conferência de imprensa no Parlamento destinada a divulgar o conteúdo do diploma.

Acabar com as quotas

Defendido no seu articulado é «o abandono das fracassadas políticas de quotas para imigrantes no acesso ao mercado de trabalho», sistema que, na opinião do PCP, «só tem contribuído para alimentar as redes de imigração ilegal e de trabalho clandestino».
Nestas e nas práticas que lhes estão associadas, sim, reside um problema e um problema sério para o País. «Portugal não tem um problema de imigração, tem um problema de imigração e trabalho clandestino», afirmou António Filipe, defendendo a necessidade de opor às políticas de imigração até aqui seguidas uma outra política de acolhimento e integração dos imigrantes que respeite os seus direitos cívicos, sociais e culturais, valorizando simultaneamente o seu contributo para o desenvolvimento do País.
Daí que as soluções agora preconizadas pela bancada comunista partam da convicção de que aquilo a que o País tem assistido não é a uma política de «portas escancaradas» à imigração, como alguns insinuam, mas sim a uma política de «portas quase fechadas à imigração legal», o que em si mesmo tem potenciado objectivamente o crescimento da ilegal.
«Para que a imigração ilegal seja combatida com eficácia é necessário antes de mais viabilizar a imigração legal» (com o fim do referido sistema de quotas e a adopção de critérios mais flexíveis de entrada com propostas de contrato de trabalho), sustenta a formação comunista, que advoga, em paralelo, uma fiscalização que sancione o patronato sem escrúpulos e combata as redes de tráfico de mão-de-obra ilegal.

Eli­minar in­jus­tiças

Este é o caminho, disso não duvidam os comunistas, apostados em repensar na nossa legislação tudo o que nela, afinal, são disposições susceptíveis de permitir a ocorrência de situações como as que ainda recentemente sucederam no Canadá com a expulsão de portugueses.
«Portugal só terá inteira autoridade moral para reclamar contra injustiças cometidas noutros países que afectam compatriotas nossos, se der o exemplo e se eliminar da legislação portuguesa as disposições que conduzam a injustiças em tudo semelhantes afectando cidadãos de outros países que entre nós procuram uma vida melhor», pode ler-se na nota preambular do projecto de lei comunista.
Recordados, a este propósito, foram dados oficiais que indicam que, em 2004, foram notificados 2909 imigrantes para abandonar o país por estarem em situação ilegal e, em 2005, foram expulsos 784 cidadãos estrangeiros (mais 53 % que em 2004).
As alterações defendidas pelo PCP no texto legislativo agora apresentado foram rejeitadas em anteriores legislaturas, lembrou ainda António Filipe, que disse esperar que o projecto da sua bancada possa ser «agendado conjuntamente» com a proposta que o Governo está a preparar sobre o mesmo tema.

Me­didas fun­da­men­tais

«A con­versão do visto de re­si­dência e da au­to­ri­zação de re­si­dência em re­gime regra para a ad­missão e para a re­gu­la­ri­zação da per­ma­nência em Por­tugal» com vista ao exer­cício de «uma ac­ti­vi­dade pro­fis­si­onal por conta de ou­trem ou por conta pró­pria» cons­titui uma das me­didas pre­vistas no pro­jecto de lei do PCP.
No seu ar­ti­cu­lado, entre ou­tras al­te­ra­ções, pro­posta é a eli­mi­nação dos «vistos de tra­balho e de es­tudo» e a sua subs­ti­tuição por «vistos de re­si­dência» de forma a «sim­pli­ficar e des­bu­ro­cra­tizar a atri­buição de tí­tulos».
O aban­dono das po­lí­ticas de quotas para imi­grantes no acesso ao mer­cado de tra­balho, bem como a «li­mi­tação dos po­deres dis­cri­ci­o­ná­rios do Ser­viço de Es­tran­geiros e Fron­teiras (SEF), de­sig­na­da­mente em ma­téria de ex­pulsão de ci­da­dãos es­tran­geiros», são ou­tros dois as­pectos a des­tacar no di­ploma co­mu­nista.
O di­ploma propõe, ainda, que os es­tran­geiros que já têm um con­trato de tra­balho em Por­tugal possam obter junto das au­to­ri­dades a au­to­ri­zação de re­si­dência e a sim­pli­fi­cação dos pro­cessos bu­ro­crá­ticos de re­no­vação dos vistos junto do Ser­viço de Es­tran­geiro e Fron­teiras.
No que res­peita ao re­a­gru­pa­mento fa­mi­liar, o pro­jecto co­mu­nista de­fende que seja re­co­nhe­cido o es­ta­tuto da união de facto e que seja atri­buído aos fa­mi­li­ares um visto idên­tico ao visto do re­si­dente para que «não se acen­tuem dis­cri­mi­na­ções entre pes­soas do mesmo agre­gado».
Outra das al­te­ra­ções pre­vistas é a re­dução da pos­si­bi­li­dade de ser apli­cada a pena aces­sória de ex­pulsão de es­tran­geiros, ex­cluindo a apli­cação dessa pena aos ci­da­dãos que te­nham au­to­ri­zação de re­si­dência per­ma­nente em Por­tugal, te­nham nas­cido em Por­tugal ou cá re­sidam, se en­con­trem ha­bi­tu­al­mente em Por­tugal desde idade in­fe­rior a dez anos ou te­nham fi­lhos me­nores re­si­dentes no país.



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