Cavaco nunca mais

José Casanova
Cavaco Silva, candidato às presidenciais, manifestou-se «preocupado com o desemprego». Cavaco Silva nos dez anos em que foi primeiro-ministro não teve a mínima preocupação com o desemprego, antes pelo contrário. Lembremos, obviamente contra a vontade dele, o que foram os seus governos no que respeita à sua «preocupação» actual, o desemprego. Ficaram célebres as medidas anunciadas por Cavaco para acabar com o desemprego: sempre que havia eleições aí estava ele desfraldando um pacote de medidas. Em 1991, durante a campanha eleitoral, garantiu a «criação de 100 mil postos de trabalho». Ganhou as eleições e três anos depois a situação era a seguinte: o número de desempregados aumentara em mais de 100 mil; Portugal era o país com maior índice de aumento de desemprego na então Comunidade Europeia; um terço das famílias portuguesas tinha apenas um membro empregado; 180 mil dos mais de 400 mil desempregados estavam nessa situação há mais de um ano; o número de jovens com menos de 25 anos à procura do primeiro emprego era de mais de 100 mil. Não obstante esta realidade, Cavaco, no seu discurso pernóstico, anunciava todos os dias a boa nova da redução do desemprego e de melhorias em todas as áreas. Portugal, dizia ele, estava cada vez mais próximo dos «níveis europeus» e integrava, já, o «pelotão da frente». Mentira de Cavaco: os salários reais dos trabalhadores portugueses estavam cada vez mais baixos e cada vez mais distanciados dos salários dos trabalhadores dos restantes países europeus; o salário mínimo nacional era o mais baixo de todos; o volume dos salários em atraso aumentava; Portugal tinha as mais elevadas taxas de analfabetismo da Europa e a mais elevada taxa de mortalidade infantil; o trabalho infantil proliferava; todos os dias fechavam empresas; os grandes senhores que haviam sido o sustentáculo do fascismo voltavam ao poder; o SIS, transformado numa espécie de polícia política privada do governo, vigiava e perseguia dirigentes políticos, sindicais e associativos; sucediam-se as cargas policiais sobre trabalhadores e populações; a Constituição da República sofria amputações que empobreceram gravemente o conteúdo democrático do regime.
É verdade que de então para cá as coisas não se alteraram muito. Porque é verdade que, seja Cavaco seja Sócrates a praticá-la, a política de direita é assim. Por isso mesmo, Cavaco nunca mais.


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