O banco e a fome
Já aqui falámos dos fabulosos lucros dos bancos e das empresas monopolistas, que arrecadam milhões neste tempo de crise. Também já falámos da crise e do que alguns entendem por essa expressão cujos efeitos se abatem sobre muitos enquanto uns poucos lucram muito. E agora, que se aproxima o Natal e saloiamente nos mostram todos os dias uma árvore de Natal em pleno centro de Lisboa – «a maior da Europa, a maior do mundo, quiçá» – com os grandes comerciantes esfuziando perante mais uma quadra festiva e os pequenos temendo que não dê para cobrir as despesas, há sinais de que esta «crise» continua a proporcionar negócios chorudos, aproveitando a miséria de cada vez mais portugueses.
Começou há dias uma gigantesca operação, visando solicitar à natural solidariedade dos pobres que somos na maioria, algumas ajudas para oferecer, por um dia, algum alívio à fome de muitos milhares. Onze mil voluntários arrecadaram já, às portas dos super e dos hipermercados, mais de mil e quinhentas toneladas de géneros a distribuir por não sabemos quantos cidadãos que, por força do desemprego e da exclusão social, não têm meios de prover às suas necessidades mais básicas e às dos seus filhos. Reformados com pensões miseráveis, desempregados ou trabalhadores com salários escassos, vão ter acesso, por um dia, a um pacote de leite ou de arroz ou de massa. Que antecipadamente agradecem, com a humildade que o poder capitalista gosta de ver na face de um pobre.
Às portas dos marchés onde os carrinhos vão à caixa cada vez mais vazios e enquanto uns tolos promovem nas ruas iniciativas contra o «consumismo» – de quem? – grupos de jovens oferecem saquinhos de plástico do Banco Alimentar Contra a Fome e aceitam uma recusa com olhos de tristeza perante uma possível, mas pouco provável, frieza de sentimentos.
Não sou dos que se interrogam para onde vai tanta tonelada de comida ou duvida da generosidade de tanto voluntário. O certo é que este tipo de iniciativas acaba por desresponsabilizar quem manda e quem lucra com a crise em que Portugal mergulha e por dar, mais do que aos pobres um dia de desafogo, aos ricos um lucro que eles não vão distribuir. «Que rica crise», hão-de pensar os sócrates e os belmiros deste país, uns porque, por um dia, vêem atenuada a miséria e a ira que preferem à redistribuição da riqueza, outros porque, num dia, fazem mais dinheiro à conta da exploração de que vivem e da solidariedade que exigem.
Começou há dias uma gigantesca operação, visando solicitar à natural solidariedade dos pobres que somos na maioria, algumas ajudas para oferecer, por um dia, algum alívio à fome de muitos milhares. Onze mil voluntários arrecadaram já, às portas dos super e dos hipermercados, mais de mil e quinhentas toneladas de géneros a distribuir por não sabemos quantos cidadãos que, por força do desemprego e da exclusão social, não têm meios de prover às suas necessidades mais básicas e às dos seus filhos. Reformados com pensões miseráveis, desempregados ou trabalhadores com salários escassos, vão ter acesso, por um dia, a um pacote de leite ou de arroz ou de massa. Que antecipadamente agradecem, com a humildade que o poder capitalista gosta de ver na face de um pobre.
Às portas dos marchés onde os carrinhos vão à caixa cada vez mais vazios e enquanto uns tolos promovem nas ruas iniciativas contra o «consumismo» – de quem? – grupos de jovens oferecem saquinhos de plástico do Banco Alimentar Contra a Fome e aceitam uma recusa com olhos de tristeza perante uma possível, mas pouco provável, frieza de sentimentos.
Não sou dos que se interrogam para onde vai tanta tonelada de comida ou duvida da generosidade de tanto voluntário. O certo é que este tipo de iniciativas acaba por desresponsabilizar quem manda e quem lucra com a crise em que Portugal mergulha e por dar, mais do que aos pobres um dia de desafogo, aos ricos um lucro que eles não vão distribuir. «Que rica crise», hão-de pensar os sócrates e os belmiros deste país, uns porque, por um dia, vêem atenuada a miséria e a ira que preferem à redistribuição da riqueza, outros porque, num dia, fazem mais dinheiro à conta da exploração de que vivem e da solidariedade que exigem.