Trajectórias
O patronato passa a vida a clamar por benesses do Estado a pretexto de aumentar a competitividade, a exigir sacrifícios aos trabalhadores pela mesma razão e a assacar-lhes a responsabilidade por Portugal não estar ao nível dos restantes países da União Europeia.
Também o Governo se lamenta da alegada falta de produtividade do País e do crescente abandono escolar, insiste na necessidade de os portugueses adquirirem crescente formação académica e profissional para se porem a par dos congéneres europeus, e, naturalmente, de continuarem a sacrificar-se pelo desenvolvimento do nacional.
Tais discursos deixam sempre em quem ouve a sensação de que os portugueses são uns malandros que não gostam de estudar e muito menos de trabalhar, que têm direitos a mais e deveres a menos, e que tanto o Estado como as empresas estão exangues de tanta regalia concedida sem receber nada em troca.
Há mesmo quem advogue que «só não trabalha quem não quer», citando como exemplo o caso dos imigrantes que à falta de melhor alternativa se sujeitam a trabalhar ‘ao negro’, sem qualquer protecção legal, em condições que envergonham quem quer que tenha um pingo de dignidade.
Pois é neste contexto que acaba de vir a público (Diário Económico de 22 de Novembro) um estudo da Universidade Nova de Lisboa intitulado «Trajectórias Académicas e Inserção Profissional», que entre outras coisas revela que 57,8 por cento dos licenciados aufere um salário entre os 500 e os 1000 euros, e que 28,9 por cento não chega sequer aos 500 euros. Apesar de tais salários estarem longe de se considerar principescos, o estudo revela que são as empresas públicas e os organismos da função pública quem paga melhor aos diplomados, enquanto o sector privado paga mal e privilegia o trabalho precário. O estudo revela ainda que a discriminação entre homens e mulheres aumenta com as experiência profissional, passando as mulheres a receber em média menos do que os homens; que em média 47 por cento já passaram por situações de desemprego superiores a sete meses, embora apenas 33 por cento tenham recebido alguma vez subsídio de desemprego; e que apenas menos de metade (45 por cento) conseguiu arranjar emprego logo após terminar o curso.
Há que convir que trabalho precário, mal pago e discriminação estão longe de constituir incentivos ao esforço de quem vende a sua força de trabalho, mas ilustram de forma lapidar por que o País, parafraseando Sampaio, «não sai da cepa torta».
Também o Governo se lamenta da alegada falta de produtividade do País e do crescente abandono escolar, insiste na necessidade de os portugueses adquirirem crescente formação académica e profissional para se porem a par dos congéneres europeus, e, naturalmente, de continuarem a sacrificar-se pelo desenvolvimento do nacional.
Tais discursos deixam sempre em quem ouve a sensação de que os portugueses são uns malandros que não gostam de estudar e muito menos de trabalhar, que têm direitos a mais e deveres a menos, e que tanto o Estado como as empresas estão exangues de tanta regalia concedida sem receber nada em troca.
Há mesmo quem advogue que «só não trabalha quem não quer», citando como exemplo o caso dos imigrantes que à falta de melhor alternativa se sujeitam a trabalhar ‘ao negro’, sem qualquer protecção legal, em condições que envergonham quem quer que tenha um pingo de dignidade.
Pois é neste contexto que acaba de vir a público (Diário Económico de 22 de Novembro) um estudo da Universidade Nova de Lisboa intitulado «Trajectórias Académicas e Inserção Profissional», que entre outras coisas revela que 57,8 por cento dos licenciados aufere um salário entre os 500 e os 1000 euros, e que 28,9 por cento não chega sequer aos 500 euros. Apesar de tais salários estarem longe de se considerar principescos, o estudo revela que são as empresas públicas e os organismos da função pública quem paga melhor aos diplomados, enquanto o sector privado paga mal e privilegia o trabalho precário. O estudo revela ainda que a discriminação entre homens e mulheres aumenta com as experiência profissional, passando as mulheres a receber em média menos do que os homens; que em média 47 por cento já passaram por situações de desemprego superiores a sete meses, embora apenas 33 por cento tenham recebido alguma vez subsídio de desemprego; e que apenas menos de metade (45 por cento) conseguiu arranjar emprego logo após terminar o curso.
Há que convir que trabalho precário, mal pago e discriminação estão longe de constituir incentivos ao esforço de quem vende a sua força de trabalho, mas ilustram de forma lapidar por que o País, parafraseando Sampaio, «não sai da cepa torta».