Oposição plebiscita candidato
Os partidos italianos que formam a coligação «União» promoveram no domingo, dia 16, um escrutínio inédito destinado a «eleger» o candidato do centro-esquerda a primeiro-ministro.
Nova lei eleitoral baralha contas do centro esquerda
Neste verdadeiro plebiscito, o antigo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, recolheu 75 por cento dos votos, distanciando-se claramente dos outros seis candidatos que representam as restantes forças políticas da coligação.
Fausto Bertinotti, secretário-geral da Refundação Comunista, foi o segundo mais votado com 15 por cento, seguindo-se Clemente Mastella, líder da pequena formação centrista União dos Democratas pela Europa com cinco por cento; Antonio di Pietro, ex-magistrado do famoso processo «mãos-limpas» e actual presidente do movimento Itália dos Valores (3,4%); Alfonso Pecoraro Scanio, dos Verdes (2,2%); Ivan Scalfarotto, independente, (0,6%) e Simona Panzino, representante dos movimentos antiglobalização (0,5%).
Em todo o país funcionaram cerca de 10 mil mesas de voto, entre as 8 e as 22 horas, onde qualquer italiano podia escolher o seu candidato, bastando estar inscrito nos cadernos eleitorais e pagar um euro para cobrir despesas de organização da iniciativa.
Embora os resultados não tenham surpreendido ninguém, uma vez que Prodi contava com o apoio dos Democratas de Esquerda (DS), o maior partido de oposição dirigido por Piero Fassino, bem como da frente centrista «Margarida», entre outros, a inesperada participação de mais de quatro milhões de italianos neste original sufrágio deixou os organizadores em estado de euforia.
«A resposta foi inacreditável. É um sonho», declarou Prodi para quem uma afluência de entre 500 mil e 750 mil eleitores já teria sido um enorme sucesso.
Para os dirigentes do centro-esquerda esta disponibilidade do eleitorado constitui um sinal de impaciência do povo italiano para se ver livre do governo de direita liderado por Silvio Berlusconi desde 2001.
«Um tal taxa de participação é um apelo claro, explícito e inequívoco a favor de um mudança. Um apelo a uma lufada de ar fresco», disse Piero Fassino.
«União» dividida
Confortado por uma votação esmagadora que o confirma como o líder do centro-esquerda italiano, Romano Prodi apressou-se a declarar que irá trabalhar para a reconstituir a antiga coligação «Oliveira» que o levou ao poder em 1996.
Porém, alguns dos seus actuais aliados reagiram mal à ideia, mostrando-se pouco receptivos quanto à eventual constituição de uma lista única encabeçada por «Il Professore», como é conhecido Prodi que não integra nenhum dos partidos da coligação.
Francesco Rutelli, líder da «Margarida» sublinhou que «as primárias foram organizadas para eleger o candidato a primeiro-ministro. A vencedora é uma coligação de partidos (a “União”). Quanto à forma de constituir as listas eleitorais é um assunto que se deverá discutir noutro momento».
Por seu turno, Bertinotti manifestou-se contrário a listas únicas, notando que para a Refundação Comunista a tónica deve ser colocada na elaboração do programa do governo, matéria que Prodi já declarou pretender reservar para si.
O trunfo na manga
Entretanto, a reforma da lei eleitoral aprovada, dia 13, no parlamento italiano pela maioria de direita, é um factor que terá um peso determinante nas próximas legislativas de 2006.
Segundo as sondagens mais recentes, uma lista única do centro-esquerda ganharia com facilidade caso se mantivesse o antigo sistema introduzido em 1993. Contudo, o cenário torna-se mais incerto com a nova lei que aumenta o número de eleitos pelo método proporcional, favorecendo assim os partidos que concorrem individualmente em detrimento das coligações.
Para Prodi, trata-se de «uma lei redigida por pessoas que receiam uma derrota iminente e pretendem limitar os estragos», disse num comício realizado em Roma, no passado dia 9.
Em 1993, o método proporcional foi substituído pelo sistema maioritário, com o objectivo claro de favorecer a bipolarização política. As maiorias absolutas de Berlusconi devem-se em grande parte a estas regras, já que apenas um quarto dos deputados eram eleitos proporcionalmente.
A nova lei, que deve ainda ser aprovada pelo Senado, aumenta para 50 por cento o número de deputados eleitos desta forma, alteração que é vivamente condenada por Romano Prodi, para quem se trata de um «gigantesco passo atrás», «um regresso à “partidocracia” com coligações instáveis e conflituosas que tornam o país ingovernável».
De facto, com o novo sistema, a direita no poder visa reduzir as dimensões da sua previsível derrota, uma vez que, mesmo vencendo as eleições, a coligação de centro-esquerda dificilmente conquistará a maioria dos 630 assentos parlamentares.
Prodi tem pois razões de alarme. Ao reforçar o peso dos partidos, a nova lei enfraquece a sua posição pessoal de líder sem partido do centro-esquerda.
Fausto Bertinotti, secretário-geral da Refundação Comunista, foi o segundo mais votado com 15 por cento, seguindo-se Clemente Mastella, líder da pequena formação centrista União dos Democratas pela Europa com cinco por cento; Antonio di Pietro, ex-magistrado do famoso processo «mãos-limpas» e actual presidente do movimento Itália dos Valores (3,4%); Alfonso Pecoraro Scanio, dos Verdes (2,2%); Ivan Scalfarotto, independente, (0,6%) e Simona Panzino, representante dos movimentos antiglobalização (0,5%).
Em todo o país funcionaram cerca de 10 mil mesas de voto, entre as 8 e as 22 horas, onde qualquer italiano podia escolher o seu candidato, bastando estar inscrito nos cadernos eleitorais e pagar um euro para cobrir despesas de organização da iniciativa.
Embora os resultados não tenham surpreendido ninguém, uma vez que Prodi contava com o apoio dos Democratas de Esquerda (DS), o maior partido de oposição dirigido por Piero Fassino, bem como da frente centrista «Margarida», entre outros, a inesperada participação de mais de quatro milhões de italianos neste original sufrágio deixou os organizadores em estado de euforia.
«A resposta foi inacreditável. É um sonho», declarou Prodi para quem uma afluência de entre 500 mil e 750 mil eleitores já teria sido um enorme sucesso.
Para os dirigentes do centro-esquerda esta disponibilidade do eleitorado constitui um sinal de impaciência do povo italiano para se ver livre do governo de direita liderado por Silvio Berlusconi desde 2001.
«Um tal taxa de participação é um apelo claro, explícito e inequívoco a favor de um mudança. Um apelo a uma lufada de ar fresco», disse Piero Fassino.
«União» dividida
Confortado por uma votação esmagadora que o confirma como o líder do centro-esquerda italiano, Romano Prodi apressou-se a declarar que irá trabalhar para a reconstituir a antiga coligação «Oliveira» que o levou ao poder em 1996.
Porém, alguns dos seus actuais aliados reagiram mal à ideia, mostrando-se pouco receptivos quanto à eventual constituição de uma lista única encabeçada por «Il Professore», como é conhecido Prodi que não integra nenhum dos partidos da coligação.
Francesco Rutelli, líder da «Margarida» sublinhou que «as primárias foram organizadas para eleger o candidato a primeiro-ministro. A vencedora é uma coligação de partidos (a “União”). Quanto à forma de constituir as listas eleitorais é um assunto que se deverá discutir noutro momento».
Por seu turno, Bertinotti manifestou-se contrário a listas únicas, notando que para a Refundação Comunista a tónica deve ser colocada na elaboração do programa do governo, matéria que Prodi já declarou pretender reservar para si.
O trunfo na manga
Entretanto, a reforma da lei eleitoral aprovada, dia 13, no parlamento italiano pela maioria de direita, é um factor que terá um peso determinante nas próximas legislativas de 2006.
Segundo as sondagens mais recentes, uma lista única do centro-esquerda ganharia com facilidade caso se mantivesse o antigo sistema introduzido em 1993. Contudo, o cenário torna-se mais incerto com a nova lei que aumenta o número de eleitos pelo método proporcional, favorecendo assim os partidos que concorrem individualmente em detrimento das coligações.
Para Prodi, trata-se de «uma lei redigida por pessoas que receiam uma derrota iminente e pretendem limitar os estragos», disse num comício realizado em Roma, no passado dia 9.
Em 1993, o método proporcional foi substituído pelo sistema maioritário, com o objectivo claro de favorecer a bipolarização política. As maiorias absolutas de Berlusconi devem-se em grande parte a estas regras, já que apenas um quarto dos deputados eram eleitos proporcionalmente.
A nova lei, que deve ainda ser aprovada pelo Senado, aumenta para 50 por cento o número de deputados eleitos desta forma, alteração que é vivamente condenada por Romano Prodi, para quem se trata de um «gigantesco passo atrás», «um regresso à “partidocracia” com coligações instáveis e conflituosas que tornam o país ingovernável».
De facto, com o novo sistema, a direita no poder visa reduzir as dimensões da sua previsível derrota, uma vez que, mesmo vencendo as eleições, a coligação de centro-esquerda dificilmente conquistará a maioria dos 630 assentos parlamentares.
Prodi tem pois razões de alarme. Ao reforçar o peso dos partidos, a nova lei enfraquece a sua posição pessoal de líder sem partido do centro-esquerda.