É bom estar alerta
O tema populismo começa a andar na ordem do dia. E esta semana o Diário de Notícias abordou-o a propósito de quatro populistas que concorrem como «independentes» contra os seus partidos maternos. E esta questão do populismo tem na verdade muito que se lhe diga.
É que além dos pequenos e médios populistas, temos de ter em conta também os casos de populismo e «poder pessoal» montados em grande escala, e que visam já não só o poder pessoal em pequenas comunidades mas sim em escala nacional e subordinados por regra a projectos de poder «ultra-pessoais» de grupos ou classes sociais. Não se abrigou a nobreza feudal, na sua fase de decadência, por detrás da figura do Rei-Sol da monarquia absolutista, como a classe patrícia romana se abrigou à sombra dos Césares, Imperadores e deuses)? E a grande burguesia alemã e italiana, numa fase de forte contestação no após 1ª Guerra Mundial, não fizeram de Hitler e Mussolini os totens para reforço do seu poder e aplicação das suas ambições imperiais? E não foi Salazar a figura tutelar do capital financeiro e da burguesia latifundista na sua política de domínio ditatorial do país?
Nestes tempos, em que as formas de relação com o público são fundamentalmente estabelecidas por via mediática, vemos muitos casos de populismo fabricados «à pressão», com receitas de laboratório, e uma preparação de terreno a médio e longo prazo. De Color de Melo a Fujimoro abundam exemplos.
Mas o processo de personalização do poder (de fulanização do poder político, como também já se lhe chamou) desenvolve-se também em larga escala nas chamadas «democracias ocidentais». O modelo político de bipolarização no poder em alternância de partidos com nomes diferentes mas aplicando uma mesma política, esvazia a representatividade democrática do seu conteúdo político, defraudando a representatividade eleitoral. A escolha apresentada aos eleitores não é já entre políticas diferentes, entre projectos de sociedade. Num esquema de fulanização política, parece só deixar ao eleitor a escolha entre os personagens «com possibilidade de ganhar» como gestores do sistema. E à medida que este esquema, com o distanciamento dos eleitores, perde o indispensável consenso social de que necessita para assegurar a estabilidade dos interesses instalados, cresce e fomenta-se a esperança num «líder carismático» que restabeleça o «diálogo com o povo» - para reforçar o poder dos grupos (ou classes) dominantes, evidentemente...
Em Portugal, os grupos e classes que recuperaram o poder económico, depois de destruírem a vertente económica e mutilarem a vertente social da democracia criada com o 25 de Abril, empenham-se agora no ataque à democracia política.
Diz-se no DN citado que há no actual quadro político português aspectos que lembram 1926...
Não direi tanto.
Mas que há quem gostaria de voltar atrás – lá isso há.
É que além dos pequenos e médios populistas, temos de ter em conta também os casos de populismo e «poder pessoal» montados em grande escala, e que visam já não só o poder pessoal em pequenas comunidades mas sim em escala nacional e subordinados por regra a projectos de poder «ultra-pessoais» de grupos ou classes sociais. Não se abrigou a nobreza feudal, na sua fase de decadência, por detrás da figura do Rei-Sol da monarquia absolutista, como a classe patrícia romana se abrigou à sombra dos Césares, Imperadores e deuses)? E a grande burguesia alemã e italiana, numa fase de forte contestação no após 1ª Guerra Mundial, não fizeram de Hitler e Mussolini os totens para reforço do seu poder e aplicação das suas ambições imperiais? E não foi Salazar a figura tutelar do capital financeiro e da burguesia latifundista na sua política de domínio ditatorial do país?
Nestes tempos, em que as formas de relação com o público são fundamentalmente estabelecidas por via mediática, vemos muitos casos de populismo fabricados «à pressão», com receitas de laboratório, e uma preparação de terreno a médio e longo prazo. De Color de Melo a Fujimoro abundam exemplos.
Mas o processo de personalização do poder (de fulanização do poder político, como também já se lhe chamou) desenvolve-se também em larga escala nas chamadas «democracias ocidentais». O modelo político de bipolarização no poder em alternância de partidos com nomes diferentes mas aplicando uma mesma política, esvazia a representatividade democrática do seu conteúdo político, defraudando a representatividade eleitoral. A escolha apresentada aos eleitores não é já entre políticas diferentes, entre projectos de sociedade. Num esquema de fulanização política, parece só deixar ao eleitor a escolha entre os personagens «com possibilidade de ganhar» como gestores do sistema. E à medida que este esquema, com o distanciamento dos eleitores, perde o indispensável consenso social de que necessita para assegurar a estabilidade dos interesses instalados, cresce e fomenta-se a esperança num «líder carismático» que restabeleça o «diálogo com o povo» - para reforçar o poder dos grupos (ou classes) dominantes, evidentemente...
Em Portugal, os grupos e classes que recuperaram o poder económico, depois de destruírem a vertente económica e mutilarem a vertente social da democracia criada com o 25 de Abril, empenham-se agora no ataque à democracia política.
Diz-se no DN citado que há no actual quadro político português aspectos que lembram 1926...
Não direi tanto.
Mas que há quem gostaria de voltar atrás – lá isso há.