Um outro rumo para o país é possível e urgente

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política do CC do PCP)
A ideia de que mudam-se os governos mas mantêm-se as políticas, mantêm-se as benesses para os do costume e os sacrifícios para os mesmos, vai conquistando novas e novas consciências. Mas a questão decisiva e central é que a essa elevação da consciência corresponda o passo de reforçar o PCP.

Reforçar o Partido surge, entre outras, como a «tarefa das tarefas»

É hoje mais evidente do que nunca que as soluções do Governo PS para os problemas do País são as que, ano após ano, conduziram Portugal à calamitosa situação em que se encontra, à destruição do aparelho produtivo, ao aumento do desemprego, incluindo nos jovens licenciados. Mas também é mais evidente a ofensiva ideológica, feita sem princípios contra a administração pública, visando colocar trabalhadores contra trabalhadores, portugueses contra sectores do Estado aos quais, o próprio Estado, impõe limites em deveres e em restrições. Está neste caso, por exemplo, as Forças Armadas, os militares, a quem é determinada uma condição militar que, pelas medidas do Governo, vêem manterem-se os deveres e a serem retirados os direitos, e relativamente aos quais o Governo, que devia ser o primeiro garante da defesa do prestigio da Instituição, cinicamente utiliza nesta sua cruzada, sabendo que aos militares é imposto igualmente especiais restrições.
É, como em todos os outros sectores, uma luta desigual, mas «quem não luta já perdeu».

A fama e o proveito

Um pouco por todo o País, vem-se assistindo ao fecho de empresas e a notícias que dão conta da crescente agonia de alguns sectores – vidro, cerâmica, cabelagens, pescas e agricultura, têxteis, etc.. Normalmente são noticias a norte do Tejo, mas é bom que se tenha consciência do que se passa a sul, no Algarve, onde nem tudo é sol, mar, golfe e festas.
Neste Algarve que o PS e o PSD teimam em não regionalizar e que aparece classificado em 3.º lugar quanto ao PIB, 10 dos seus 16 concelhos têm um baixo Índice de Poder de Compra (tomando como padrão o índice 100 como é regra, 10 concelhos estão abaixo deste índice), com um concelho, Alcoutim, só comparável ao concelho de Baião no nordeste dos Açores. Nesta região, a diferença entre o concelho mais «rico» e o mais «pobre» é na ordem dos 200 por cento. Um escândalo!
Nesta região, o numero de beneficiários pelo rendimento social de inserção é mais do dobro do que no resto do país, tendo em conta a respectiva população e o seu valor é, em média, 5 por cento mais baixo. Nesta região, o desemprego registou em Maio, ao contrário do que é uso acontecer, a sua maior subida. Nesta região, os pensionistas e os reformados recebem menos 11 por cento do que a média nacional. Nesta região, a agricultura e as pescas são cada vez mais passado. Estes exemplos, e mais alguns poderiam ser dados, mostram a realidade de uma região para a qual o PS e o PSD, nos sucessivos governos, nas autarquias e outros órgãos da região, fortemente têm contribuído. Este é um exemplo que é parte constitutiva da realidade nacional, de Portugal, sujeito há mais de 25 anos às políticas de direita. Ora, é este rumo com as suas inevitáveis consequências que é preciso mudar e para isso é necessário travar uma batalha de esclarecimento e de combate ao preconceito relativamente ao Partido.

Agir para transformar

Estamos na fase decisiva quanto à constituição de listas para as eleições autárquicas, mas estamos também na fase de preparar a intensificação do contacto com as populações, com os trabalhadores, tendo por base uma mensagem que, face ao que temos vindo a ouvir quanto a benesses e chorudos vencimentos, ganha uma inquestionável força - Trabalho, Honestidade e Competência.
É esta mensagem de verdade de que com a CDU o voto de cada um será respeitado, de que esse voto será sempre utilizado em defesa da verdade e dos interesses dos trabalhadores, que é preciso transmitir. Temos muito para esclarecer e para contar, desde logo o dizer fraternalmente que: nós avisámos... Junta-te a nós! Mas também temos muito para ouvir, compreender e em conformidade agir para trazer mais e mais pessoas ao nosso seio.
Aquilo que está colocado a todas as organizações, células e militantes é ir junto dos trabalhadores, dos amigos, e dizer-lhes «vamos lutar em comum».
Mas os comunistas são também chamados ao trabalho de preparação da Festa do Avante!. Divulgar a Festa, dar corpo às jornadas de trabalho, promover a venda da EP, eis o que está colocado às organizações do Partido.
Tal como está colocada a tarefa das tarefas, ou seja, o reforço do Partido.
Falar do reforço do Partido é falar de recrutar mais e mais gente para as nossas fileiras, estruturar, desde logo com a criação de organismos de base, promover a venda da imprensa do Partido, constituir células de empresa, estar voltado para a realidade e sobre ela agir para mudar, agir para transformar.
Conhecemos as dificuldades com que nos defrontamos e não ignoramos que os elevados ideais que inspiram a vida do Partido sempre despertaram a fúria dos nossos adversários. Mas por isso mesmo, é necessário que o Partido se afirme ainda mais como o Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, o Partido da liberdade e da democracia, o Partido da democratização do ensino e da cultura, o Partido da independência nacional. Enfim, se afirme e confirme como o Partido necessário e insubstituível aos trabalhadores e ao povo.


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