Resistir à deslocalização
A multinacional norte-americana, que possui mais duas unidades em Portugal, anunciou a intenção de encerrar em Outubro a fábrica de cablagens na Póvoa de Lanhoso, com 800 trabalhadores.
Resistir às pressões da empresa e lutar pelos postos de trabalho foi o apelo feito pelo STIEN/CGTP-IN, cujos dirigentes e delegados sindicais recusam o acordo para rescisão dos contratos. Também a direcção regional de Braga do PCP, em nota divulgada no próprio dia 28 de Junho, quando a posição da Lear foi divulgada, apelou à luta em defesa dos postos de trabalho.
Mostrando que não pretende ficar com o ónus de um despedimento colectivo, a multinacional preferiu avançar para rescisões «por mútuo acordo». Daniel Sampaio, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte, explicou ao Avante! que o valor das rescisões, mesmo acima do mínimo legal de uma indemnização por despedimento, representa uma ninharia, face às consequências da perda do emprego sem alternativas e, além disso, tendo em consideração que os trabalhadores têm, em média, poucos anos de serviço (a Lear instalou-se na Póvoa de Lanhoso em 1997) e auferem baixos salários (cerca de 500 euros). Por outro lado, terão um curto período de apoio social no desemprego, devido à baixa média de idades (cerca de 35 anos).
Para além da instabilidade provocada pelos rumores lançados há meses, alimentando o receio de deslocalização da fábrica, os dirigentes do Sindel/UGT e uma comissão de trabalhadores eleita por iniciativa da administração contribuíram para a grande pressão a que o pessoal da Lear foi sujeito, no sentido de aceitar as rescisões.
«Até para aqueles que tencionassem mesmo vender o posto de trabalho, o caminho devia ser sempre resistir», disse o dirigente do STIEN, referindo que, num processo semelhante, noutra unidade da Lear em Espanha, o valor das indemnizações proposto aos trabalhadores foi substancialmente superior ao que muitos já aceitaram na Póvoa. Outra razão para não aceitar a alienação do emprego é o facto de estar no Parlamento Europeu, apresentado pela deputada comunista Ilda Figueiredo, uma proposta com vista a sancionar as multinacionais que procedam a deslocalizações dentro do espaço da União Europeia.
Daniel Sampaio criticou severamente o secretário de Estado do Trabalho e outros titulares de órgãos de poder, que na passada sexta-feira participaram numa reunião promovida pelo presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. «Todos falavam com total aceitação do facto, como se fosse uma coisa natural fechar assim uma fábrica», protestou.
E o Governo... parado!
«Perdeu-se mais de um mês, sem que nada tivesse sido feito pelo Governo», critica Agostinho Lopes, em requerimento apresentado a 30 de Junho na AR.
A 25 de Maio, o deputado comunista tinha interpelado os ministros do Trabalho e da Economia acerca da situação na Lear, referindo receios dos trabalhadores expressos durante uma visita ao concelho:
«Que conhecimento tem o Governo das intenções da administração da empresa Lear? Se não conhece, irá procurar contactar os seus responsáveis com vista a apurar a situação e tomar as medidas adequadas? Que apoios do Estado português, das autarquias e de fundos comunitários recebeu a Lear para a sua instalação em Portugal e durante os anos seguintes? Tem (ou vai fazer) o Ministério da Economia alguma reflexão sobre o que fazer das instalações e mão-de-obra que pode ser disponibilizada no processo, em curso, de deslocalização das empresas de cablagem do nosso país?»
Agora, Agostinho Lopes afirma que o Governo não pode desconhecer «a dimensão do desemprego» que o anunciado encerramento irá provocar na Póvoa de Lanhoso, onde habita a esmagadora maioria dos trabalhadores, nem «a evidente dificuldade de encontrar alternativa de emprego no concelho e nos concelhos vizinhos», e torna a questionar o executivo sobre o que pretende fazer relativamente à anunciada deslocalização.
«Não deveria sequer necessitar do alerta feito no requerimento, face a processos semelhantes em desenvolvimento no País», protesta o deputado do PCP, eleito pelo distrito de Braga.
Não é de agora...
Com sede em Southfile, no estado do Michigan, a Lear Corporation é um dos maiores grupos, a nível mundial, na produção de componentes para a indústria automóvel (cablagens eléctricas, assentos e interiores). No final de 2004, possuía 271 unidades em 34 países (desses estabelecimentos, mais de seis dezenas estavam situadas nos EUA). Facturou, no ano passado, mais de 14 mil milhões de euros.
Entre outros motivos, a Lear foi objecto de notícias, no nosso país, pelo facto de, nos 2060 trabalhadores que, em Janeiro de 2000, ocupava na fábrica de Palmela, apenas cinco serem efectivos. A empresa, como então referiu a Comissão Concelhia do PCP, tinha recebido milhares de contos para se instalar na península de Setúbal e fora apontada como exemplo de criação de emprego no distrito. O contrato de investimento para esta unidade industrial, assinado em 1998, conteria o compromisso da Lear de construir três novas fábricas e empregar mais de 4 mil trabalhadores, mantendo-os até 2007. Hoje, contando a fábrica da Póvoa, tem três estabelecimentos e cerca de 2 mil funcionários.
Mostrando que não pretende ficar com o ónus de um despedimento colectivo, a multinacional preferiu avançar para rescisões «por mútuo acordo». Daniel Sampaio, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte, explicou ao Avante! que o valor das rescisões, mesmo acima do mínimo legal de uma indemnização por despedimento, representa uma ninharia, face às consequências da perda do emprego sem alternativas e, além disso, tendo em consideração que os trabalhadores têm, em média, poucos anos de serviço (a Lear instalou-se na Póvoa de Lanhoso em 1997) e auferem baixos salários (cerca de 500 euros). Por outro lado, terão um curto período de apoio social no desemprego, devido à baixa média de idades (cerca de 35 anos).
Para além da instabilidade provocada pelos rumores lançados há meses, alimentando o receio de deslocalização da fábrica, os dirigentes do Sindel/UGT e uma comissão de trabalhadores eleita por iniciativa da administração contribuíram para a grande pressão a que o pessoal da Lear foi sujeito, no sentido de aceitar as rescisões.
«Até para aqueles que tencionassem mesmo vender o posto de trabalho, o caminho devia ser sempre resistir», disse o dirigente do STIEN, referindo que, num processo semelhante, noutra unidade da Lear em Espanha, o valor das indemnizações proposto aos trabalhadores foi substancialmente superior ao que muitos já aceitaram na Póvoa. Outra razão para não aceitar a alienação do emprego é o facto de estar no Parlamento Europeu, apresentado pela deputada comunista Ilda Figueiredo, uma proposta com vista a sancionar as multinacionais que procedam a deslocalizações dentro do espaço da União Europeia.
Daniel Sampaio criticou severamente o secretário de Estado do Trabalho e outros titulares de órgãos de poder, que na passada sexta-feira participaram numa reunião promovida pelo presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. «Todos falavam com total aceitação do facto, como se fosse uma coisa natural fechar assim uma fábrica», protestou.
E o Governo... parado!
«Perdeu-se mais de um mês, sem que nada tivesse sido feito pelo Governo», critica Agostinho Lopes, em requerimento apresentado a 30 de Junho na AR.
A 25 de Maio, o deputado comunista tinha interpelado os ministros do Trabalho e da Economia acerca da situação na Lear, referindo receios dos trabalhadores expressos durante uma visita ao concelho:
«Que conhecimento tem o Governo das intenções da administração da empresa Lear? Se não conhece, irá procurar contactar os seus responsáveis com vista a apurar a situação e tomar as medidas adequadas? Que apoios do Estado português, das autarquias e de fundos comunitários recebeu a Lear para a sua instalação em Portugal e durante os anos seguintes? Tem (ou vai fazer) o Ministério da Economia alguma reflexão sobre o que fazer das instalações e mão-de-obra que pode ser disponibilizada no processo, em curso, de deslocalização das empresas de cablagem do nosso país?»
Agora, Agostinho Lopes afirma que o Governo não pode desconhecer «a dimensão do desemprego» que o anunciado encerramento irá provocar na Póvoa de Lanhoso, onde habita a esmagadora maioria dos trabalhadores, nem «a evidente dificuldade de encontrar alternativa de emprego no concelho e nos concelhos vizinhos», e torna a questionar o executivo sobre o que pretende fazer relativamente à anunciada deslocalização.
«Não deveria sequer necessitar do alerta feito no requerimento, face a processos semelhantes em desenvolvimento no País», protesta o deputado do PCP, eleito pelo distrito de Braga.
Não é de agora...
Com sede em Southfile, no estado do Michigan, a Lear Corporation é um dos maiores grupos, a nível mundial, na produção de componentes para a indústria automóvel (cablagens eléctricas, assentos e interiores). No final de 2004, possuía 271 unidades em 34 países (desses estabelecimentos, mais de seis dezenas estavam situadas nos EUA). Facturou, no ano passado, mais de 14 mil milhões de euros.
Entre outros motivos, a Lear foi objecto de notícias, no nosso país, pelo facto de, nos 2060 trabalhadores que, em Janeiro de 2000, ocupava na fábrica de Palmela, apenas cinco serem efectivos. A empresa, como então referiu a Comissão Concelhia do PCP, tinha recebido milhares de contos para se instalar na península de Setúbal e fora apontada como exemplo de criação de emprego no distrito. O contrato de investimento para esta unidade industrial, assinado em 1998, conteria o compromisso da Lear de construir três novas fábricas e empregar mais de 4 mil trabalhadores, mantendo-os até 2007. Hoje, contando a fábrica da Póvoa, tem três estabelecimentos e cerca de 2 mil funcionários.