«Quem com ferros mata...»
«Do lado dos defensores do Sim, e depois da «corda esticada», é hora de rever estratégias»
«A Europa e a França vivem um terramoto político». Esta é a ideia chave que ressalta das notícias sobre o referendo francês à «constituição europeia». Esta não seria exactamente a ideia que a esmagadora maioria dos governantes europeus e dirigentes da União Europeia gostariam de ver na comunicação social no dia a seguir ao referendo francês, mas como bem diz o nosso povo «quem com ferros mata, com ferros morre».
A ideia de uma crise aberta com a vitória do «Não» resulta em grande medida do discurso catastrofista que os defensores do «Sim» – franceses e demais parceiros europeus – utilizaram para chantagear os cidadãos durante a campanha para o referendo.
Esta estratégia, que agora se vira contra os seus autores; as pressões internacionais a que durante muitas semanas estiveram sujeitos os trabalhadores e o povo francês; o corropio de líderes e chefes de Estado a Paris para alimentar essa pressão (nos quais infelizmente se incluiu o Presidente da República Portuguesa), somados a uma campanha governamental milionária, usando e abusando do aparelho de Estado, são factores que dão ainda mais valor à vitória do «Não».
Uma vitória que indiscutivelmente resulta da mobilização popular daqueles que mais sofrem com as políticas anti-sociais que a «constituição» visava institucionalizar - os trabalhadores e os mais desfavorecidos - contando com a importante contribuição dos comunistas franceses e demais democratas que lutaram pela rejeição do projecto de Tratado.
Do lado dos defensores do Sim, e depois da «corda esticada» é hora de rever estratégias, de enrolar um pouco a dita, de ganhar tempo e de tentar incutir através da comunicação social ideias peregrinas que desvalorizem a importância política do resultado francês e que permitam o essencial: a continuação das políticas que o Tratado visa institucionalizar, que devem continuar «dê por onde der», e a imposição a todo o custo do projecto de construção de uma potência imperialista, militarizada na Europa.
As tácticas duma mesma estratégia são variadas. Alguns tentam «chutar» para dentro de França o problema, invocando questões internas e alimentando assim manobras já em curso – como a demissão do primeiro ministro francês Raffarin e a nomeação de Villepin – que visam «baralhar e dar de novo» e criar condições para a prossecução da táctica de recurso veiculada dias antes do referendo por Giscard d'Estaing, o presidente da «Convenção Europeia», de que «Aos que não votarem a Constituição, ser-lhes-á pedido para o fazerem» num novo referendo a realizar até ao final de 2006 . Com o mesmo objectivo seguir-se-ão seguramente manobras também no interior do Partido Socialista, altamente dividido e afastado do seu eleitorado tradicional. Ou seja, operações que visam «salvar» a classe política dominante francesa, altamente fragilizada, e conter o mais possível dentro das fronteiras francesas o «problema» criado com o «Não» francês.
Mas o processo continuará e outros, como Tony Blair ou o Primeiro Ministro sueco optam por, mais ou menos claramente, defender o processo de ratificação por via parlamentar escudando-o da opinião popular. Outros ainda, como Durão Barroso ou Javier Solana, admitindo formalmente o problema criado, tentam impor a continuação do processo, sonhando com um volte face e tentando condicionar outros processos já em curso como o holandês.
As manobras futuras serão muitas e multifacetadas. O que está em causa é demasiado «importante» para se respeitar genuinamente a vontade popular. Os meios são poderosos e a concertação de classe inerente à natureza desta «Constituição» irá fazer-se sentir. Por isso, o «Não» francês deve ser olhado não como uma vitória absoluta mas como uma importante oportunidade de relançar a luta difícil e prolongada por uma outra Europa. Uma luta para a qual há que ganhar os trabalhadores e os povos, reafirmando a ideia de que para construir uma outra Europa, de paz e cooperação, é preciso primeiro derrotar esta União Europeia do grande capital e do militarismo.
A ideia de uma crise aberta com a vitória do «Não» resulta em grande medida do discurso catastrofista que os defensores do «Sim» – franceses e demais parceiros europeus – utilizaram para chantagear os cidadãos durante a campanha para o referendo.
Esta estratégia, que agora se vira contra os seus autores; as pressões internacionais a que durante muitas semanas estiveram sujeitos os trabalhadores e o povo francês; o corropio de líderes e chefes de Estado a Paris para alimentar essa pressão (nos quais infelizmente se incluiu o Presidente da República Portuguesa), somados a uma campanha governamental milionária, usando e abusando do aparelho de Estado, são factores que dão ainda mais valor à vitória do «Não».
Uma vitória que indiscutivelmente resulta da mobilização popular daqueles que mais sofrem com as políticas anti-sociais que a «constituição» visava institucionalizar - os trabalhadores e os mais desfavorecidos - contando com a importante contribuição dos comunistas franceses e demais democratas que lutaram pela rejeição do projecto de Tratado.
Do lado dos defensores do Sim, e depois da «corda esticada» é hora de rever estratégias, de enrolar um pouco a dita, de ganhar tempo e de tentar incutir através da comunicação social ideias peregrinas que desvalorizem a importância política do resultado francês e que permitam o essencial: a continuação das políticas que o Tratado visa institucionalizar, que devem continuar «dê por onde der», e a imposição a todo o custo do projecto de construção de uma potência imperialista, militarizada na Europa.
As tácticas duma mesma estratégia são variadas. Alguns tentam «chutar» para dentro de França o problema, invocando questões internas e alimentando assim manobras já em curso – como a demissão do primeiro ministro francês Raffarin e a nomeação de Villepin – que visam «baralhar e dar de novo» e criar condições para a prossecução da táctica de recurso veiculada dias antes do referendo por Giscard d'Estaing, o presidente da «Convenção Europeia», de que «Aos que não votarem a Constituição, ser-lhes-á pedido para o fazerem» num novo referendo a realizar até ao final de 2006 . Com o mesmo objectivo seguir-se-ão seguramente manobras também no interior do Partido Socialista, altamente dividido e afastado do seu eleitorado tradicional. Ou seja, operações que visam «salvar» a classe política dominante francesa, altamente fragilizada, e conter o mais possível dentro das fronteiras francesas o «problema» criado com o «Não» francês.
Mas o processo continuará e outros, como Tony Blair ou o Primeiro Ministro sueco optam por, mais ou menos claramente, defender o processo de ratificação por via parlamentar escudando-o da opinião popular. Outros ainda, como Durão Barroso ou Javier Solana, admitindo formalmente o problema criado, tentam impor a continuação do processo, sonhando com um volte face e tentando condicionar outros processos já em curso como o holandês.
As manobras futuras serão muitas e multifacetadas. O que está em causa é demasiado «importante» para se respeitar genuinamente a vontade popular. Os meios são poderosos e a concertação de classe inerente à natureza desta «Constituição» irá fazer-se sentir. Por isso, o «Não» francês deve ser olhado não como uma vitória absoluta mas como uma importante oportunidade de relançar a luta difícil e prolongada por uma outra Europa. Uma luta para a qual há que ganhar os trabalhadores e os povos, reafirmando a ideia de que para construir uma outra Europa, de paz e cooperação, é preciso primeiro derrotar esta União Europeia do grande capital e do militarismo.