Referendo constitucional

O «não» impõe-se em França

Quatro sondagens em apenas duas semanas confirmam que o «Não» à «constituição europeia» se instalou como a tendência maioritária na opinião pública francesa.

O chumbo da «constituição» é hoje um cenário provável em França

O mais recente estudo de opinião, realizado nos dias 25 e 26 para a rádio Europe 1 e para o diário Le Figaro, continua a dar uma maioria clara ao «não» nas intenções de voto dos franceses. A dois meses da consulta, marcada para 29 de Maio, o chumbo do projecto constitucional parece estar iminente, aumentando o nervosismo nas cúpulas da UE
Na passada semana, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo, para além de uma «flexibilização» das normas do Pacto de Estabilidade, vários chefes de Estado e de governo fizeram questão de falar sobre a chamada directiva «Bolkestein», tentando acalmar a onda de contestação que alastra por toda a Europa, como ficou patente na manifestação de dia 19 em Bruxelas, convocada pela Confederação Europeia de Sindicatos.
Surpreendido por duas sondagens divulgadas em 18 e 20 de Março que, pela primeira vez, previam uma vitória do «não» em França, o presidente Jacques Chirac exigiu que a dita directiva fosse totalmente refeita, mas mostrou-se favorável a que «a Europa possa desenvolver um mercado interno de serviços».
Em seu apoio, o primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente em exercício da União, Jean-Claude Juncker, assegurou que «serão introduzidas modificações para responder às exigências do modelo social europeu». E acrescentou: «Não desprezamos as condições de trabalho e as condições de vida (..) dos trabalhadores».
Embora vários países já antes tivessem manifestado a sua oposição aos termos da directiva, temendo uma liberalização descontrolada dos serviços e o dumping social, na linha da posição adoptada pela maioria do Parlamento Europeu, o avanço do «não» nas sondagens foi suficiente para que os defensores mais acérrimos da desregulamentação amenizassem o seu discurso e até mudassem aparentemente de campo.
Foi o caso do eurodeputado democrata-cristão alemão, Elmar Brok, que não hesitou em contrariar a posição oficial do seu grupo, reclamando simplesmente a «retirada [da proposta] para dar um bom sinal para o referendo francês». «Devemos concentrar-nos na Constituição e fazer as outras coisa mais tarde», declarou Brok à agência Reuters, na terça-feira, 22.
Mesmo países como a Inglaterra e os novos estados-membros do Leste já compreenderam que este não é o momento de insistir no mercado interno dos serviços, sobretudo no princípio da aplicação da legislação do país de origem.
«A parada neste debate é muito elevada, nós temos de mostrar um mínimo de flexibilidade para que não haja uma grave perturbação do processo de ratificação da Constituição», disse no mesmo dia o primeiro-ministro polaco, Marek Belka.
A verdade é que os Vinte e Cinco não retiraram a directiva e tudo leva a crer que apenas aguardem um momento mais propício para a retomar. Esta duplicidade saltou aos olhos da opinião pública francesa que parece decidida a travar a «constitucionalização» das regras neo-liberais.


Eleitores socialistas
aderem ao «não»


A última sondagem sobre o referendo constitucional indica que 54 por cento dos franceses optam pelo «não», contra apenas 46 por cento que escolhem o «sim».
Estes resultados, divulgados na passada terça-feira pelo Le Figaro, foi obtidos nos dias 25 e 26 de Março, ou seja, já depois de conhecida a decisão do Conselho Europeu de rever a directiva Bolkstein.
Num inquérito realizado em 23 de Março, o «não» chegou mesmo a dominar 55 por cento das intenções de voto. Em todo o caso, ambos os estudos revelam uma clara progressão do «não» face aos inquéritos de 18 e 19 de Março, nos quais passou estar à frente nas intenções de voto com 52 por cento.
Por outro lado, a última sondagem indica que o «não» se tornou maioritário entre os eleitores do Partido Socialista francês, com 53 por cento, percentagem que na semana anterior era de apenas 45 por cento. No conjunto votantes nos partidos situados à esquerda, 58 por cento são contra a constituição. O «não» desce para 33 por cento no universo da direita parlamentar, mas atinge 80 por cento na extrema-direita.
De entre as pessoas que indicam ter a certeza de que irão votar, 71 por cento garantem ter feito uma «escolha definitiva» e 29 por cento admitem que «podem ainda mudar de opinião».


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